Se há povo com azar neste mundo é o tibetano, não podem contar com a direita porque a China é um excelente mercado, têm o desprezo dos partidos comunistas porque ousam livrar-se do regime que lhes foi imposto pelos chineses e nem sequer são lembrados pelas igrejas cristãs porque o rebanho é budista. Estão, portanto, entregues à sorte.
Comparem-se as posições da nossa direita em relação ao Iraque há cinco anos atrás quando Bush, Blair e Aznar decidiram acabar com Sadam, ou as do PCP em relação à fronteira entre a Colômbia e o Equador com o seu silêncio cobarde em relação ao Tibete. Do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros também não vale a pena falar, o problema do Tibete é visto da forma mais cómoda, como um problema interno da República Popular da China.
Para a direita e para os partidos do poder a preocupação pela democracia e pelos direitos humanos só se colocam quando não estão em causa interesses empresariais ou se o argumento da democratização der lugar a novas oportunidades de negócios. Defenderam a democracia no Iraque pelos mesmos motivos que agora ignoram o Tibete, são tão cobardes quando se calam para tentar esconder as suas responsabilidades na desgraça do Iraque como o são quando evitam pronunciar-se sobre os acontecimentos no Tibete.
Igual ou pior do que a direita oportunista só o PCP que defende a democracia apenas quando a sua ausência lhes prejudica os objectivos, é por isso que a democracia venezuelana é melhor do que a colombiana, da mesma forma que não ousa colocar a questão em relação à Coreia do Norte, um regime publicamente elogiado por personagens como Bernardino Soares. Hoje fazem-se manifestações pela saúde da democracia portuguesa, chora-se a morte de um guerrilheiro com um longo cadastro de raptos, mas ignoram-se uma centena de vítimas da repressão chinesa, como ainda recentemente se ignoraram as vítimas da repressão da ditadura birmanesa.
Os tibetanos estão a mais no mundo, não porque incomodem os chineses mas porque confrontam muitos dos nossos políticos com a sua cobardia, porque são uma denúncia viva dos hipócritas do Ocidente, sejam os defensores de invasões ilegais ou um PCP para quem os seus valores estão acima dos direitos humanos.