quarta-feira, março 19, 2008

Um país prisioneiro do atraso


Independentemente da bondade das reformas que possam ser feitas em Portugal é certo de que terão sempre oposição, ou atingem benefícios de grupos profissionais, ou vão contra o interesse de um qualquer poder autárquico, ou mexem com poderes pessoais.

Ainda ontem ouvimos o Procurador-Geral manifestar as suas dúvidas sobre o novo mapa judicial e um dos poucos argumentos que adiantou foi a necessidade de deslocar pessoas. Os juízes, através da sua associação sindical. Foram os primeiros a colocar esta dúvida, mas esqueceram-se de dizer que são os únicos profissionais deste país que beneficiam de um subsídio de residência abusivamente livre de impostos, que é concedido mesmo quando não se deslocam. O absurdo chega ao ponto de até os juízes do Tribunal de Contas beneficiar desta mordomia.

É impossível fechar um serviço de finanças, um quartel militar, um posto da PSP, um posto da GNR, um centro de saúde, uma maternidade, uma escola primária vazia, um tribunal ou qualquer outro serviço público sem que isso desencadeie manifestações motivadas pelo medo, pela ignorância, pelo oportunismo de autarcas e, mais recentemente, manifestações anónimas espontâneas organizadas por partidos que querem ter na rua a representatividade política que os portugueses não lhes deram no parlamento.

Os mesmos que diziam querer desmantelar o Estado em três meses opõem-se ao encerramento de qualquer serviço nos seus feudos autárquicos, os mesmos que no passado se manifestaram contra as portagens na auto-estrada do Oeste foram depois opositores às Scut e estão agora na primeira linha da oposição da introdução de portagens.

As reformas só são boas se criarem novos serviços sem eliminar os antigos, se resolvem os problemas da justiça aumentando os magistrados e os oficiais de justiça aumentando-lhes os subsídios porque os velhos bons vencimentos já deixaram de ser estímulo, o ensino só melhora com mais professores e menos alunos. Para o PCP as reformas só são boas se criarem novos empregos, ainda que falsos empregos e pagos à custa de impostos, para a direita todas as reformas são más, ou o são porque aumentam as despesas, ou o são porque eliminam os serviços.
O resultado desta orgia colectiva de comodismo e oportunismo é Portugal estar sempre fora do seu tempo, a ditadura evitou grandes reformas para assegurar a sua sobrevivência, em democracia são os políticos que asseguram a sobrevivência inventando ilusões de progresso através de políticas conformistas.

O resto da Europa foi várias vezes destruído por guerras ou viveu décadas sob ditaduras que impediram o seu desenvolvimento, superaram a destruição e o atraso imposto pelas ditaduras. Por aqui vivemos sempre sem grandes esforços e sacrifícios, os ricos foram sempre os mesmos e os pobres nunca o deixaram de ser. As falsas elites, desde os sindicatos ao jornal de Belmiro de Azevedo, estão todas de acordo, deixem o país estar como está, prisioneiro do atraso.