Independentemente das virtudes de qualquer reforma se pensasse apenas no meu estatuto seria contra qualquer reforma e defenderia a demissão de qualquer ministro que ousasse alterar o meu estatuto.
Podia concorrer todos os anos para ficar mais perto de casa, deixando para trás os alunos entregues a quem me substituísse sem sequer passar a pasta ou transmitir a minha experiência.
Enquanto o tempo fosse passando iria acumulando tempo de serviço e subindo automaticamente na carreira sem que houvesse qualquer relação entre os resultados do meu trabalho e a minha carreira.
Na pior das hipóteses teria um horário de trabalho de 22 horas semanais o que me deixaria muito tempo para a minha vida pessoal pois muitas aulas não carecem de preparação e nalgumas disciplinas para além da preparação se fácil pode ser usada de uns anos para os outros.
Teria muitos mais férias do que um trabalhador comum e como o tempo de férias ultrapassa os 25 dias a que tenho direito até posso faltar por conta dessas férias pois até sei que esse desconto não tem efeitos práticos. Não poderia meter férias durante os períodos lectivos mas uma semana de baixa médica é sempre fácil de conseguir e difícil de controlar.
Trabalhava numa instituição em auto-gestão democrática e se contasse com a simpatia dos colegas que elegera para o conselho directivo poderia contar com algumas simpatias como horários ajeitados e turmas feitas de bons alunos, filhos de colegas e de boas famílias, tornando tudo mais fácil.
Mesmo assim estou convencido que há muitos professores disponíveis para dar o seu melhor pela qualidade do ensino e o sucesso dos seus alunos, professores que merecem chegar ao topo de carreira independentemente de quotas. Mas parece que a ministra confundiu as circunstâncias com os intervenientes, isto é, pensou que porque o sistema permite a incompetência todos serão incompetentes.
Se as circunstâncias poderiam levar muitos a preferir um sistema de ensino em que não se questiona a sua qualidade porque por mais baixa que seja ninguém se responsabiliza, a inabilidade da ministra levou-a a confundir a incompetência de todos os professores com os resultados. Ao longo de três anos os incentivos aos muitos bons professores foram nulos.
Se fosse professor não quereria mudanças e o discurso da ministra não me teria convencido a mudar de ideias, antes pelo contrário.