quinta-feira, março 06, 2008

A reboque da realidade


As quinze medidas anunciadas pelo governo para aumentar a segurança dos portugueses fazem-me lembrar as cinquenta medidas que Pina Moura adoptou no tempo em que era ministro das Finanças para controlar o défice das contas. Tal como então o governo começa por tentar iludir a realidade para in extremis adoptar um programa que parece ter sido feito num restaurante de comida a peso.

É bom que o governo se preocupe em aumentar a segurança e tranquilizar os portugueses, mas é pena que não tenha pensado no problema atempadamente, antecipando uma situação que era evidente. As quinze medidas adoptadas não passam de um apanhado de medidas que já estavam planeadas, que estariam em estudo ou que, muito simplesmente, parecem boas ideias.

Este programa mostra mais uma vez como os governos andam a reboque da realidade, sucede na segurança da mesma forma que tem acontecido em outros domínios da sociedade, desde a desertificação do interior ao ambiente. As políticas governamentais são desenhadas tendo em conta os ciclos eleitorais e visam grupos de eleitores.

O ministro da Agricultura preocupa-se com os sectores agrícolas com maior influência politica esquecendo o agricultor que vive na aldeia isolada e cuja actividade é fundamental para assegurar a sustentabilidade ambiental. O ministro do ambiente preocupa-se com a viabilização dos projectos na área costeira porque são determinantes para criar emprego, mas nunca se reuniu com o ministro da agricultura para integrar as duas políticas com vista a um desenvolvimento que promova a viabilidade económica da agricultura de montanha ou da floresta, indispensáveis para proteger o ambiente e promover um ordenamento equilibrado. O ministro das Obras Públicas está empenhado em promover grandes obras de acordo com o calendário eleitoral e com as promessas de criação de emprego mas esquece o impacto dessas obras no tecido social envolvente, entretanto, o ministro do Trabalho faz as previsões da criação de emprego mas esquece que uma boa parte dos que vão trabalhar nessas obras acabarão mais tarde no desemprego.

Em vez de políticas pensadas num horizonte temporal de médio e longo prazo os governantes preferem comportar-se como patrões de costa que só navegam com a terra à vista, apostando os recursos em medidas com ganhos eleitorais imediatos. Quando as situações de crise sucedem adoptam-se programas de emergência que não passam de truques de comunicação. Se há uma cheia prometem-se medidas de ordenamento do território, se os doentes morrem antes de chegar a ambulância promete-se a compra de ambulâncias, se morre uma meia dúzia de portugueses num fim-de-semana adopta-se um programa com quinze medidas.

Estas políticas não passam de "favas depois de almoço", esgotam-se os recursos e os problemas ficam por resolver.