Se analisarmos o discurso de muitos dos nossos políticos descobrimos que a maioria deles tanto poderia ser líderes ou candidatos a líderes partidários como dirigentes ou comentadores desportivos. Este fenómeno não surpreende, muitos dos nossos políticos mudam-se do mundo da bola para o mundo da política num fenómeno nacional de transumancia, em função das circunstâncias procuram os melhores pasto para se alimentarem, se o seu partido está no poder procuram os gabinetes ministeriais, se o partido está na oposição refugiam-se nos negócios da bola. Alguns até já se tornaram sedentários e ocupam os dois “pastos” e simultâneo.
Ouvir Marcelo propor que o PSD imite o PS, sugerindo uma viragem à esquerda e a organização de Estados Gerais lembra-nos os benfiquistas desorientados que encontram no modelo de gestão de Pinto da Costa a solução para todos os males. O discurso político de Marcelo poderiam ser transposto para um qualquer opositor de Luís Filipe Vieira, aliás, não é raro ver o professor Marcelo fazer comentários sobre futebol usando a mesma linguagem que aplica ao discurso político.
Os grandes partidos são como os grandes clubes desportivos, não suportam estar muito tempo sem conquistar títulos, para eles as autárquicas são importantes mas estão para a política como a Taça de Portugal está para o futebol. O importante são as legislativas, da mesma forma que para os clubes o que dá acesso aos dinheiros da Liga dos Campeões é o campeonato da Liga, com a agravante de no campeonato da política o segundo lugar de nada serve.
Para os militantes do PS José Sócrates é o seu Mourinho, o treinador que sem grandes aquisições e sem currículo transformou a equipa que o Processo Casa Pia tinha deixado em cacos num partido vencedor. Enquanto Sócrates lidera um PS que lembra o actual Porto, com mais de dez pontos de distância em relação ao adversário, o PSD não se conforma com a sua posição num campeonato onde nem sequer há Segunda Circular.
Desde que Durão se mudou para a Champions dos Euros e dos Dólares o PSD já teve três treinadores e o actual até começou a ver os lenços brancos no dia seguinte a ser eleito, desde um Santana Lopes que mais parecia o Zandinga até Menezes que ainda não sabe que táctica usa, o PSD tem experimentado de tudo, até há quem defenda que o melhor seria recorrer a Manuela Ferreira Leite o seu velhote Mário Wilson.
Enquanto o PSD vive a crise dos derrotados, no PS a lógica é a de que em equipa ganhadora não se mexe no treinador, mesmo que os velhos sócios com emblema de ouro, como Manuel Alegre, protestem porque com Sócrates o PS deixou de jogar à PS.
Tal como no futebol somos orgulhosos na política, recentemente organizámos a presidência da EU e recebemos os mesmos elogios que nos deram quando organizámos o Euro 2004. O problema é que sucede na política o mesmo que na bola, a última vez que medimos forças no Europeu perdemos duas vezes com a Grécia, a mesma Grécia que nos deixou para trás na economia.