FOTO JUMENTO
Reflexos no Parque das Nações
IMAGEM DO DIA
[Felix Kaestle - AP]
«A blue tit is reflected in the mirror of a car in Friedrichshafen, Germany.» [Washington Post]
A MENTIRA DO DIA D'O JUMENTO
Jerónimo de Sousa ficou tão feliz com a sua manifestação pela democracia que tenciona globalizar a sua luta. Como o turismo em Cuba está na moda o líder do PCP está já a pensar em juntar o útil ao agradável e tenciona fazer nova manifestação em defesa da democracia, desta vez em Havana onde há muitos anos que ninguém sabe o que isso é e só de pensar no tema há quem fique com problemas de saúde.
JUMENTO DO DIA
O defensor da liberdade
Não foi há muito tempo que o PCP designou os blogues que denunciaram a presença dos narco-guerrilheiros das FARC na Festa do Avante por fascistas. O mesmo partido que se cala perante o rapto de democratas na Colômbia ou que elogia país com ditaduras anacrónicas como a da Coreia do Norte não tem autoridade para organizar marchas em defesa da democracia, a mesma democracia que não faz parte do seu projecto político. A organização de uma marcha pela liberdade conferindo ao Jerónimo de Sousa o papel de grande defensor da liberdade é uma anedota própria dos ortodoxos que mandam no PCP.
CHEIRA-LHES A PALHA
De repente, os mesmos que deixaram o PSD entregue a Luís Filipe Menezes e Pedro Santana Lopes começam a agitar-se e a pedir a substituição do líder do PSD. No pressuposto de que Sócrates está em queda os senhores do PSD que se tornam militantes activos apenas quando o PSD está no poder acham que está a começar a sua hora e agitam-se de novo. É caso para dizer que já lhes cheira a palha.
LONGE DO PODER
«Ciclicamente, o Porto gosta de desatar a interrogar-se sobre si próprio, numa espécie de catarse que às vezes chega a ser masoquista. Nenhuma outra cidade ou região de Portugal gasta tanto tempo a interrogar-se sobre a sua identidade e viabilidade como o Porto. Cidades como o Funchal, Braga, Viseu, Évora, bem ou mal, fazem e avançam; o Porto não faz e vive a atormentar-se para descobrir a razão. É certo que terá de haver razões, porque o diagnóstico é incontroverso: nos últimos anos, na última década, claramente, o Porto perdeu poder, influência e rentabilidade económica. Custe a quem custar, há hoje, praticamente, uma só marca em toda a cidade que é sinónimo de progresso, modernidade e prestígio, aquém e além-fronteiras: a marca FC Porto.
Inevitavelmente, também, estas sessões públicas de autoflagelação terminam com a conclusão recorrente: ou se faz a regionalização ou não há futuro para o Porto. Mesmo gente que até aqui sempre recusou deixar arrastar-se pelo canto de sereia da regionalização, portuenses para quem a defesa legítima dos interesses e de maior protagonismo local não justifica a implosão do Estado, parecem agora não convencidos, mas rendidos. Se nada parece resultar e se a desmoralização alastra, venha então a regionalização, para vermos no que dá. Se for avante, vai dar desastre, como é inevitável - para o Porto e para o país inteiro.
Que o Estado é demasiado centralizado, todos concordamos: é inútil e prejudicialmente centralizado. Mas que terá de haver sempre um Estado central, sob pena de, no limite absurdo em que pretenderam fazer a regionalização, nos transformarmos numa Federação de Kosovos, isso também é evidente - para todos, excepto para os oportunistas e aventureiros políticos. Mas, salvo melhor opinião, não me parece que o centralismo estatal seja a origem profunda dos males de que se reclamam os portuenses. No passado, um Estado ainda mais centralizador não impediu que o Porto conquistasse a sua autonomia. O Porto foi liberal quando o Estado era absoluto, foi culto e próspero quando o regime, sediado em Lisboa, era obscurantista e de compadrio político-económico.
Os tempos mudaram, sem dúvida. Mas eu continuo a acreditar que os avanços nas sociedade se fazem de baixo para cima e não de cima para baixo. Não há divisão político-administrativa, feita por decreto experimentalista, que possa dar vida e pujança a uma região onde as forças locais não sintam que a mudança tem de começar por elas próprias e pela alteração de mentalidades e atitudes ultrapassadas. Não se é ‘moderno’ por decreto nem o progresso está em encostar-se às benesses do Estado e esperar que tudo corra pelo melhor. A única região de Portugal onde se julga que a independência passa por viver à custa do Estado é a Madeira. Mas basta olhar para as ‘elites’ locais para perceber que não têm outra alternativa.
Ao contrário, eu penso desde há muito que a razão profunda para o atraso estrutural português está na crença desmedida de que o Estado há-de acorrer a todos os nossos problemas e dificuldades. É uma crença e um mal que vêm do tempo das Descobertas e do monopólio da Coroa (Colombo descobriu a América financiado por investidores e comerciantes da Andaluzia...), que se agravou com Pombal e, nos tempos modernos, encontrou o seu apogeu no salazarismo, no PREC e nos dinheiros europeus. E é um mal que vem de cima a baixo: existe entre os habitantes da Aldeia da Luz - que, em lugar de serem simplesmente expropriados para a construção de Alqueva, viram o Estado reconstruir-lhes minuciosamente, mas com infra-estruturas modernas que nunca tinham tido, a mesma aldeia, uns quilómetros ao lado - e mesmo assim se queixam porque os azulejos da cozinha não são exactamente iguais ou porque falta fazer o centro de dia, sem que lhes ocorra fazê-lo eles mesmos; e existe entre os grandes empresários de obras públicas, por exemplo, que consideram um direito adquirido ter empreitadas que custam sempre 50, 100 ou 200% a mais do que o orçamentado.
Ora, no fim-de-semana passado, o Porto lá se reuniu para mais uma dessas sessões de psicoterapia de grupo, sob a candente questão “até onde irá o Norte continuar a empobrecer?” Dando de barato que o Porto e o Norte sejam uma e a mesma coisa e que as situações e problemas sejam semelhantes, o debate, tanto quanto li, resumiu-se à situação das empresas: se as empresas estão mal, o Norte está mal. E estão mal porquê? Pois, aqui é que a discussão se tornou interessante.
Entrou em cena um lisboeta, António Pires de Lima, recém-retirado da política activa mas ainda dirigente do PP, e agora administrador de empresa, ao que percebi com residência no Porto. Começou ele por dizer algumas coisas acertadas e evidentes, como o facto de os empresários do Norte não terem acreditado (se bem que muito avisados...) que a globalização da economia era a sentença de morte para empresas assentes na mão-de-obra barata e não qualificada e com uma gestão familiar, ligada à propriedade e não à competência. Mas logo, alinhando pelo caderno de encargos destes encontros, veio o piscar de olho à regionalização ou ‘descentralização’ (que é o seu púdico sinónimo). Porque, afirmou ele com conhecimento de causa, “o poder político é uma condição fundamental para que o poder económico possa florescer” - (vide o Casino Lisboa, digo eu).
Indo ao pormenor, Pires de Lima saiu-se com este desabafo do fundo da alma e da experiência, para justificar os problemas dos empresários do Norte: “almoçam em casa ou na cantina da fábrica, enquanto que os de Lisboa vão todos ao mesmo restaurante”. E explicou ainda para quem não tivesse entendido, que, “para certos campeonatos empresariais”, é preciso “investir nas competências relacionais”, ou seja, “em pessoas capazes de abrir as portas” do poder político. Preto no branco, eis o elogio da promiscuidade, (para não chamar pior), entre poder político e iniciativa privada. Mais de quinhentos anos depois das Descobertas ainda há quem defenda que não há vida fora da corte.
Este é o tipo de discurso que os propagandistas da regionalização política adoram ouvir. Se as oportunidades de negócio, de “progresso”, dependem das “competências relacionais” e estas estão lá longe em Lisboa, nada melhor que dividir Portugal em seis ou oito Terreiros do Paço e outros tantos restaurantes em cujas mesas se distribuam os dinheiros públicos pela “iniciativa privada”. Infelizmente, o dr. Pires de Lima não está errado nem mentiu aos seus anfitriões do Norte: é mesmo assim que as coisas se passam. Só é pena que um responsável político, em lugar de combater e denunciar o sistema, trate antes de o recomendar.» [Expresso assinantes]
Parecer:
Por Miguel Sousa Tavares.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
CASINO LISBOA
«A questão não sai das páginas dos jornais e, em minha opinião, encontra-se mal formulada. Desconhece-se quanto evoluiu o poder político na sua relação com o poder económico. Invoca-se transacção (que houve) para se presumir favor e mesmo corrupção (que são outra coisa, e não sei se houve). Até prova em contrário, a presunção é ilícita.
De forma exemplar, o velho PEDIP consagrava dois regimes: o geral e o contratual. No segundo, discutia-se o valor e a forma dos incentivos (isenção de impostos, entre outras). Não foi corrupto por isso.
Gostaria de ter, no meu país, um poder político assumido, transparente, e «accountable». Por que se apoiou o investimento? Quanto custou o apoio? Por que razão foi o Estado e não, por exemplo, o município a suportar esse apoio? Por que não foram accionados procedimentos de concorrência? São estas as verdadeiras questões, em meu entender.
Se, para se decidir como se decidiu, houve que mudar leis, assuma-se que foram mudadas, ainda que para dar resposta ao ‘caso concreto’. Custa-me que um ministro tenha de esconder-se por trás do parecer de um director-geral e, ainda mais, que “tomei conhecimento” possa ser a forma de decidir de um ministro do meu país.» [Expresso assinantes]
Parecer:
Por Manuel Bessa.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
OS PERIGOS DO CALCULISMO NO PSD
«O que eu digo sobre a liderança actual do PSD não é surpresa para ninguém e, como não sou candidato a nenhum lugar, não tenho a tentação de medir as minhas palavras nem ao metro, quanto mais ao milímetro. É verdade que, mesmo que o fosse, hoje faria o mesmo, falaria na mesma, porque penso que não vale a pena as pessoas enfeitarem-se com silêncios e pudores e prudências e tácticas, quando o problema de fundo é suficientemente grave para exigir outra atitude. O facto de o PSD caminhar para as eleições de 2009 sem sequer a remota esperança de ser uma alternativa, é um problema nacional. A falta de tónus crítico e a desesperança na sociedade portuguesa reflectem o facto de esta não se reconhecer no sistema partidário como instrumento de mudança e acabar por protestar usando veículos como os sindicatos da CGTP. Historicamente foi o PSD que forneceu esse contraponto, hoje não é. A visita de Menezes à Fenprof, em si, não teria nada de mal, porque os sindicatos não são pestíferos, porém no momento actual ela significa o encontro de um fraco diante de um forte, o encontro de uma oposição ineficaz com uma oposição eficaz, uma admissão de impotência deixando atrás de si um ónus grave para qualquer governo do PSD que queira fazer reformas.
Há quem diga, num resto da cultura antiga de partido-camisola, que falar como eu falo é que impede o caminho glorioso do PSD para o poder. Acho isto uma treta, se me permitem usar um plebeísmo. Uma liderança que se afirmasse junto do país, e isso é que conta, nunca seria sequer beliscada pelo comentário político, que aliás já tem a maturidade e independência suficiente para reconhecer, caso existisse, o mérito de uma solução mesmo contra as opções pessoais. O problema do PSD não sou eu, nem Marcelo, nem nenhuma das vozes críticas, é Menezes, a sua direcção e entourage, uma parte da qual permanece discreta fora dos lugares, e é um partido cujo rank and file não quer de todo admitir que as suas escolhas messiânicas, desde o "menino guerreiro" ao actual líder, não querem defrontar os verdadeiros problemas do partido e da sua relação com o país, a crise enorme de credibilidade a nível nacional, a falta de esclarecimento e responsabilidade em casos como o do casino, ou todos os que, sendo assacados ao PP, ocorreram em governos com primeiros-ministros PSD que são obrigados a explicar o seu papel. Ora o PSD prepara-se para chegar a 2009 com face da derrota de 2005 e, por muito que isso possa agradar a Santana Lopes, para pela enésima vez se medir com o seu próprio espelho, é péssimo para o PSD e o país.
Mas há outras responsabilidades. Há no PSD quem seja candidato à liderança, ou pense que o possa ser, que tem a pior das ideias sobre a situação do partido e a sua liderança, e que mesmo assim ande enredado em palavras mansas e institucionais e prudentes e... hipócritas. Quando ouço dizer que "Menezes deve cumprir o seu mandato", ou que "é preciso dar tempo a esta liderança para mostrar o que vale", por parte de pessoas que não têm nenhuma dúvida sobre o que ele "vale", e que no fundo só estão à espera que ele perca as eleições, assunto sobre o qual não têm também a mais pequena dúvida, eu tendo a pensar que elas são parte do problema e não da solução. Menezes é também filho desses cálculos.
Já o argumento de Marcelo, que lhe marcou o prazo de validade para o Verão, de que os militantes mais activos do PSD, os da camisola, ainda não estão convencidos de que Menezes não chega lá, porque ele anda a dizer nos almoços e jantares de fim-de-semana que subiu nas sondagens, deve ser tomado mais em consideração. Penso, aliás, que é verdade, que ainda não se esgotou a esperança do milagre do "já", que foi um elemento fundamental da sua vitória sobre Marques Mendes, e que, como Menezes faz o grosso da sua actividade para dentro do partido numa nunca acabada campanha eleitoral junto das "bases", isto cria um ecossistema blindado ao que pensa o país. Mesmo assim, a esperança já mirrou muito, mesmo entre muitos dos votantes de Menezes. Porém, a quatro meses e meio depois, um tempo que tem que ser medido psicologicamente em função das expectativas geradas, Menezes já não pode contar com os silêncios de complacência iniciais. Basta ler os jornais e ver os noticiários da rádio e da televisão para se perceber que as línguas já se soltaram, porque até agora só eu e Paula Teixeira da Cruz não fizemos este lip service ao silêncio de circunstância, que é uma atitude que me parece muito falsa, porque leva as pessoas a estarem a dizer coisas em que não acreditam para não agitarem as águas, a não ser "quando for o tempo". O problema é que já de há muito que é "o tempo", para falar com franqueza, em bom rigor desde a coligação PSD/PP que já era "tempo". Mas, mais vale tarde do que nunca.
Os exemplos são diários. Nuno Morais Sarmento desmantelou a superficialidade da proposta de Menezes sobre a televisão (aliás, tão ad hoc como as outras que apresentou na entrevista) e Aguiar Branco fez o mesmo no dia seguinte. Não concordo com nada do que disse Morais Sarmento sobre a televisão pública, mas ele tem, como Aguiar Branco, razão num aspecto crucial: as propostas de Menezes são tão pontuais, casuísticas, desirmanadas e disparatadas que nem sequer podem ser tomadas a sério. Elas não representam qualquer reflexão de conjunto que justifique sequer discuti-las e são apenas afirmações tácticas para marcar uns pontinhos no sítio e com o público pretendido. Na SIC eram para Balsemão ouvir, na Fenprof para os professores, e noutros sítios para os autarcas, ou para as "bases", nunca para a governação.
António Capucho foi ainda mais longe numa entrevista ao Diário Económico e disse que "Menezes é desastroso" e que afasta "as figuras (...) mais importantes no partido em termos de credibilidade [que] estão a ser alvo de gestos de desconsideração gratuita", e mesmo Ângelo Correia só à terceira insistência de Mário Crespo na SICN é que respondeu que "sim", que "se reconhecia na liderança de Menezes". Depois sugeriu, de forma elíptica, que a principal razão porque o fazia era porque ele rompia com "vinte anos de partido", ou seja, com Barroso e Cavaco, com quem tem contas a ajustar. Com tanto entusiasmo, talvez seja por isso que Ângelo Correia está prudentemente a procurar-lhe um sucessor.
As línguas soltaram-se, mas os cálculos não. Quais são os cálculos? Um, e fundamental, é a falta de confiança na possibilidade de o PSD ganhar as eleições em 2009, não com Menezes, que isso estão todos tão certos como dois e dois serem quatro, mas com "eles". Sabem que Menezes não ganha, mas também pensam que não são capazes de ganhar e esperam por melhores tempos, que o ciclo político mude e seja tiro e queda, partido hoje, governo amanhã. Esta indiferença face ao facto de o PS poder ir governar mais quatro anos, isso sim, me parece ser de "mau PSD".
Associado à ideia de que não é preciso nenhuma urgência para mudar a situação está o cálculo de pensar-se que, como Menezes espera sentado que Sócrates caia, outros esperam sentados que Menezes caia. Esperar sentado é pelos vistos um hábito nacional, mas, se num ou noutro caso resulta, como com Barroso face a Guterres, não me parece que esta geração Menezes-Sócrates, que são políticos profissionais desde pequeninos, se deixe tirar a não ser "à bomba", como diz Menezes.
Dito isto tudo, a situação está tão feia que só há uma pequena oportunidade que pode dar grandes resultados: apareça, o mais cedo possível, um candidato credível, que os há vários, credível acima de tudo junto da sociedade, honesto, lúcido, incomodado com o estado do país, dedicado à causa pública, com um programa alternativo ao do PS, que também não é difícil de fazer, que fale língua da gente e não "politiquês", que se deixe de calculismos e arrisque tudo, e vamos ver se então muita coisa não muda mesmo. Mas para isso não é preciso que Menezes queira ou não, é preciso que o PSD o queira e esta é que é a questão mais complicada, porque o país só acredita numa mudança quando ela for a doer, começando por defrontar os erros do PSD e corrigindo-os.
Veremos. Talvez uns acreditem numa forma de milagre, eu noutro. No fundo, somos todos irremediavelmente crentes. Pelo menos nalgumas ocasiões o Senhor podia ajudar o PSD, que bem precisa. Ámen.» [Público assinantes]
Parecer:
Por Pacheco Pereira.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
UM SUICÍDIO
«Com Sá Carneiro, o PSD foi o partido da fundação e legitimação da direita democrática. Com Cavaco Silva, foi o partido da "modernização" e da "Europa". Depois de Guterres, devia, evidentemente, ter sido o partido da reforma do Estado e da austeridade financeira, que Sócrates quis ser e, como se constata hoje, não conseguiu. Levado por Barroso e por Santana, o PSD balançou entre um liberalismo absurdo, que nem a economia nem as tradições do país permitiam, e um "populismo" de trazer por casa, que afastou o velho eleitorado conservador e não atraiu ninguém de substância. Pouco a pouco, o PSD foi perdendo a sua imagem de responsabilidade e a sua vocação "natural" de poder. A fuga de Barroso e o desastre de Santana consumaram esta decadência. Marques Mendes, quando chegou, já podia fazer pouco, e o advento de Menezes, como seria de prever, institucionalizou uma desordem, que frequentemente roça a loucura.
A situação do PSD é hoje objecto de uma curiosidade irónica. A revista Sábado, por exemplo, publicou um gráfico para explicar ao leigo a inexplicável balbúrdia que por lá vai. O gráfico não inclui qualquer discordância ideológica ou política, só tenta modestamente estabelecer quem "odeia" quem, quem "atura" quem e quem "ama" quem. A ideia que fica não é a de um partido, é a de um bando, dividido e perigoso, em véspera de um ajuste de contas, que só o medo e a ambição precariamente unem. O PSD parece estar (sem saber ou sabendo) a caminho do suicídio. Nenhuma organização resiste a tanto ressentimento e a tanta raiva ou, naquele estado, inspira, cá fora, a mais remota confiança.
Luís Filipe Menezes, que é o chefe em título, não passa de um cacique entre caciques. Não lhe obedecem e não o respeitam. Ele próprio, quando abre a boca, aumenta a discórdia, não a diminui. A maioria que o elegeu preferia agora que ele se escondesse, ou, pelo menos, se calasse. Num ou noutro intervalo lúcido, Menezes percebe a necessidade de se proteger. Mas nem sempre aguenta docilmente o sossego de Gaia e, de quando em quando, rebenta por aí uma bomba gratuita. Esta semana: a supressão da publicidade na RTP e a separação absoluta da medicina privada e da medicina pública. Da cabeça dele sai o que sai, para grande alegria da gente que no PSD o detesta e grande conforto da gente que no PS o acha um milagroso aliado. Não se imagina um retorno à sanidade. O partido de Sá Carneiro (e de Cavaco) começa a morrer.» [Público assinantes]
Parecer:
Por Vasco Pulido Valente.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
ESTAMOS TESOS
«A situação financeira das famílias portuguesas é a pior de sempre - não conseguem poupar dinheiro, a tal ponto que as intenções para a compra de carro ou mesmo de simples electrodomésticos estão adiadas nos próximos meses, revelam os números publicados ontem pelo INE - Instituto Nacional de Estatística - (a série data de Junho de 1986). Receosos de um agravamento do desemprego e com o endividamento a crescer, não surpreende que a confiança na economia esteja também ao nível mais baixo desde 2003.» [Diário de Notícias]
Parecer:
Os únicos felizes parecem ser os governantes, os autarcas e os seus assessores.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Sócrates se respondeu ao inquérito.»
VIA DO INFANTE NÃO VAI TER JÁ PORTAGEM
«José Sócrates, que invocou razões de segurança e de dinamização do turismo para as obras em toda a 125, garantiu à saída do debate que a decisão do Executivo não fará com que a Via do Infante, a auto-estrada do Algarve, "passe já a ter portagem". O primeiro-ministro lembrou a posição do Executivo nesta matéria: as Scut que estão nas áreas do País com indicadores sociais e económicos abaixo da média nacional ou que não têm alternativas adequadas (caso da Via do Infante) não terão portagens. Também Mário Lino, ministro das Obras Públicas, fez questão de garantir que "nesta legislatura" as portagens não chegarão ao Algarve. » [Diário de Notícias]
Parecer:
Pois, a estrada nacional 125 ainda não foi renovada.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Sócrates se a decisão é para valer mesmo depois da renovação da 125.»
O AMBIENTE NO PSD É DE LEVANTAMENTO DE RANCHO
«José Pedro Aguiar-Branco esteve ontem a almoçar com o presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Encarnação, naquela que é vista como mais uma movimentação do deputado contestatário de Menezes. O repasto, em Coimbra, entre Aguiar-Branco e o antigo líder parlamentar do PSD (e elemento muito próximo de Manuel Dias Loureiro) acontece no mesmo dia em que outro autarca, António Capucho, presidente da Câmara de Cascais, tece duras críticas a Luís Filipe Menezes.» [Diário de Notícias]
Parecer:
Coitado do Menezes, nem vai aquecer o lugar.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Menezes se tenciona candidatar-se a Gaia.»
MAIS UMA DOR DE CABEÇA PARA PORTAS
«Alternativa e Responsabilidade (AR) é o nome do grupo de reflexão que é hoje lançado ao fim da manhã, no próprio Largo do Caldas, sede do CDS/PP. Embora a intenção dos mais de 60 militantes não seja afrontar, para já, Paulo Portas, é certo que isso irá acontecer mais cedo ou mais tarde: "Somos contra a guerrilha dentro dos partidos, mas é óbvio que não nos reconhecemos nesta liderança, as coisas não estão bem", explica Filipe Anacoreta Correia ao DN.» [Diário de Notícias]
Parecer:
Com o CDS a descer nas sondagens é provável que Portas saia ainda mais cedo do que Menezes.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Portas o que é feito do grande CDS que prometeu.»
O PCP MARCHA PELA DEMOCRACIA
«Os comunistas marcham hoje contra o que qualificam de "sistemática violação das liberdades e a degradação do regime democrático", pelo que activamente "abrem" a sua iniciativa política a todos os cidadãos que queiram publicamente rejeitar o actual clima de "aumento da repressão".» [Diário de Notícias]
Parecer:
Devem estar a treinar para se manifestarem em Cuba ou na Coreia.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se a Jerónimo que se vá manifestar onde não há democracia.»
UM EXEMPLO DA DEMOCRACIA COM QUE JERÓNIMO DE SOUSA SONHA
«North Korea has executed 22 fishermen who strayed out of the country's waters by mistake, it was claimed yesterday.
The group were apparently gunned down once they returned to the Stalinist state.
Having drifted into South Korean territory, they had the opportunity to seek asylum, but insisted they never had any intention of doing so.
They told South Korean officials they had strayed accidentally while fishing for clams and oysters, so were sent back to North Korea - and to their deaths. » [Daily Mail]
PRACE DESASTROSO NOI MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA
«Era a ANSR que deveria ter continuado o serviço de cobrança. Mas as coisas complicaram-se quando viu reduzidos a menos de metade os funcionários - juristas e administrativos - que processavam os autos para a ex-DGV. Aqui, o PRACE (programa de reforma do Estado) do Ministério da Administração Interna foi fatal. Partiu a DGV em três, dividindo as suas competências por três novas instituições (ANSR, o Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres e o Instituo das Infra-Estruturas Rodoviárias) e mandou para o quadro de mobilidade 140 dos 220 funcionários especializados na área das contra-ordenações. “Como se está a ver, não só faziam falta, como os decisores políticos estão a lesar gravemente o Estado com esta decisão”, alerta José Abraão, dirigente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, cujo gabinete jurídico está a “avaliar a possibilidade de avançar com providências cautelares para que estes trabalhadores sejam readmitidos”.» [Expresso assinantes]
Parecer:
Outra coisa não seria de esperar de um PRACE feito a pensar apenas em estatísticas de cortes.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Avaliem-se as consequências negativas do PRACE nos diversos ministérios.»
ONTEM FOI O DIA DA "SÍNDROME DO RATO"
«El uso continuado de ordenadores puede provocar lesiones derivadas de la realización de movimientos repetitivos, que se agrupan bajo la denominación de síndrome del ratón. Los expertos en salud y las compañías tecnológicas dedican el 29 de febrero a alertar sobre este problema de salud y recordar cómo evitarlo.El síndrome del ratón es un problema motivado por el movimiento repetitivo de las manos, con el que el nervio mediano a la altura de la muñeca, normalmente porque la mayoría de usuarios del ratón lo aprieta demasiado. Puede llegar a causar una tendinis crónica. » [20 Minutos]
O PREÇO DO WINDOWS VISTA VAI DESCER 40%
«El gigante del software Microsoft ha anunciado que a partir del 1 de marzo será más barato hacerse con una copia de su sistema operativo Windows Vista, una medida que pretende fomentar el uso de la última versión de su sistema operativo. » [20 Minutos]
DEFICIENTES PARA EFEITOS FISCAIS EM SANTARÉM
«Meio milhar de contribuintes do distrito de Santarém receberam, indevidamente, benefícios fiscais destinados a pessoas com deficiência. Metade optou por repor, voluntariamente, as verbas. Um pequeno grupo - cerca de uma dezena de pessoas - incorre no crime de fraude fiscal. São suspeitas de terem apresentado falsos atestados médicos.Na lista dos infractores, encontram-se muitos profissionais da saúde - entre os quais médicos - funcionários públicos e até pessoal do Fisco. As Finanças de Santarém foram lesadas em cerca de 292 mil euros, devido a esta situação. » [Jornal de Notícias]
Parecer:
Se é grave os médicos recorrerem ao expediente também o é no casos dos funcionários do fisco. Em ambos os casos o estatuto disciplinar deveria prever a aplicação de uma pena disciplinar.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proponha-se.»
Recebi uma chamada da sua colaboradora Ema Stongtit, que por sinal foi a colaboradora da semana (resta saber no que colabora) a chamar-me a atenção para o facto de há dias ter tido uma recaída e citei-o pela antiga identidade, o Tugir. Aqui fica o meu pedido de desculpas, mas se for sempre a Ema a ligar-me há um sério risco de o erro se tornar sistemático e compulsivo.
RAJOYDI
No debate televisivo com Zapatero o líder do PP espanhol dirigiu-se a uma menina virtual apresentando um futuro idílico para de uma Espanha governada pela direita. O resultado foram vídeos e imagens a gozar com a "niña de Rajoy".
COMO NÃO SE DEVE LANÇAR UMA BOMBA A UM CLUBE NOTURNO
CALENDÁRIO DAS COELHINHAS DA PLAYBOY [imagens]
FORD FOCUS