domingo, março 09, 2008

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Flores de Ameixeira

IMAGEM DO DIA

[Santiago Ferrero/Reuters]

«Rescue workers carry an immigrant as they arrive at the port of Los Cristianos on Spian’s Canary island of Tenerife. Abaout 60 immigrants were intercepted aboard a fishing boat on their way to European soil from Africa, according to authorities.» [USA Today]

JUMENTO DO DIA

O PCP diz mata e Menezes diz esfola

É o que se pode dizer dos comentários de Menezes à manifestação dos professores.

A FENPROF QUER SENTAR-SE PARA NEGOCIAR?

Pela forma como o dizem parece que nunca estiveram sentados em negociações, pretendem um novo ciclo de negociações para dizerem sistematicamente o que todos os sindicatos mandados pelo PCP mais fundamentalista da Europa dizem, não a tudo.

Qualquer negociação com esta Fenprof além de ser perda de tempo é um erro, a Fenprof apenas quer negociações para entreter e o seu líder aproveitar o tempo de antena daí resultante.

ERRO CRASSO

O comício que o PS está a organizar no Porto é um erro crasso, trata-se de opor à legitimidade política dos autocarros alugados pela Fenprof a legitimidade dos alugados pelo PS, como se as políticas tivessem que ser legitimadas pela exibição de rebanhos de manifestantes.

A legitimidade das reformas governamentais resulta do voto obtido nas últimas legislativas e não da simpatia do aparelho partidário, a contagem que deve ser feita é a dos deputados que representam os eleitores no parlamento e não os manifestantes que a Fenprof leva a Lisboa ou que o aparelho do PS leva a um pequeno comício. Os manifestantes que vieram a Lisboa estavam a defender os seus interesses, os manifestantes do comício do PS representam o apoio do aparelho do PS a uma política, de fora ficam os eleitores, os encarregados de educação e os alunos.

Em democracia o PCP vale pelos deputados que tem na Assembleia da República e não pelos que conjunturalmente se apoiam na sua máquina para tentarem valer a sua vontade. Ao organizar um comício de desagravo o PS está a prescindir da sua legitimidade legítima para entrar no jogo da democracia de rua que o PCP prefere jogar, este comício é um erro crasso.

ENFRENTAR O PCP

Desde os primeiros meses de governo que Sócrates cometeu o erro de evitar enfrentar o PCP permitindo a este partido cada vez mais ortodoxa promover uma estratégia manhosa em que dissimula os seus objectivos políticos atrás de lutas alheias: O PCP está preocupado com os professores? É evidente que não, o que o PCP pretende é defender o seu território, perdida a bandeira da reforma agrária e desaparecida a cintura industrial de Lisboa resta ao PCP defender um dos seus bastiões como se fosse território libertado.

Negociar com este PCP seja no parlamento ou com os seus sindicatos é pura perda de tempo, o PCP dirá não a qualquer mudança ou a qualquer medida que possa vir a provar que o seu modelo está caduco. O PCP não quer mudanças.

Desde o princípio que este confronto era evidente. o PS terá que enfrentar o PCP como já o fez no passado, terá que forçar Jerónimo de Sousa a tirar o disfarce de defensor dos professores ou de outras lutas de circunstância, obrigando-o a ser honesto e colocar em cima da mesa o seu projecto político, projecto que nunca vingou por métodos democráticos.

A PROPÓSITO DA LUTA DOS TRABALHADORES DA ETAR DE SINES

Aqui fica um comentário de um visitante do Jumento:

«Na famosa ETAR de Rio de Moinhos, em Sines, trabalham cerca de 20 pessoas, (mal pagas, é claro!) das quais 6 ou 7 estão de greve.

Altos quadros da CGTP não se tiram de lá, (parece que não têm mais luta nenhuma em curso, salvo a dos professores) arregimentam camaradas de outras empresas para irem para a porta daquela, fazer barulho, gritar palavras de ordem contra o fascismo e cantar a grândola vila morena, enfim, para dar mais expressão à luta (é o caso do camarada que agrediu o GNR com um pau e que trabalha na APS).

Carvalho da Silva e Jerónimo de Sousa já lá estiveram!

O dirigente sindical da CGTP, Egídeo Fernandes, apesar de trabalhar na EDP, não se tira de lá. Escreve no "blogue da merda" com o pseudónimo de "trapizomba". E é um autêntico trapizomba!!!

A luta destes 6 ou 7 trabalhadores está neste ponto. altamente politizada!

Bom fim de semana aí no palheiro»

Para o PCP é preciso atear o maior número de incêndios possíveis e se necessário agredir agentes da GNR para depois vir com o mais idiota dos seus argumentos, o medo do fascismo.

O tal herói supostamente agredido pela GNR é Dinis Silva, membro do PCP e vogal no executivo da Junta de Freguesia de Santiago do Cacém responde por indícios da prática do crime de resistência e coacção sobre funcionário.

UM BOM EXEMPLO DE COMO O PCP SE PREOCUPA COM OS ALUNOS E O ENSINO

Aconteceu em Santiago do Cacém, o PCP decidiu comemorar o Dia da Mulher um dia antes e dispensou os funcionários das escolas para que estes pudessem participar no almoço-convívio:

«Em carta-aberta ao presidente da Câmara Municipal, a união mostra-se "indignada" com a dispensa concedida pelo executivo às funcionárias para participarem num almoço-convívio, na véspera da efeméride.

A atitude prejudica centenas de crianças do primeiro ciclo e ensino pré- primário que ficaram privados das refeições, durante o dia.

Afonso Ouro, porta-voz da união, em declarações à Miróbriga, questiona a atitude da autarquia.

Para ultrapassar esta situação, pais e encarregados de educação, foram obrigados a arranjar alternativas.

A indignação de Afonso Ouro, porta-voz da União das Associações e Representantes de pais.

A Miróbriga tentou ouvir o presidente da CM de Santiago do Cacém mas sem sucesso.»

LISBOA, CAPITAL DAS EÓLICAS

«Já imaginou a cidade das sete colinas povoada por turbinas com a altura de quatro andares? Podem ficar junto ao rio (Praça Sony ou Museu da Electricidade) ou em pontos mais elevados (no topo do parque Eduardo VII, ou Parque da Belavista).

A lista de locais consta da proposta que o vereador do Ambiente e Espaços Verdes da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, tem em mãos. Ao todo, serão 25 torres eólicas para instalar na cidade, quase todas em espaços da autarquia.

A oposição, maioritária, critica fortemente a iniciativa. Este vento contrário estará mesmo na base de um duplo recuo. A proposta foi agendada para a sessão (pública) da semana passada (dia 27). Acabou por ser adiada, chegando a estar prevista para a próxima quarta-feira. No entanto, viria a ser novamente retirada, “para se proceder a alterações”, explica fonte do gabinete do vereador do Bloco. Entre outros pontos, está em análise a “localização específica” de cada turbina e “a ser acautelada a questão do ruído”. Na esfera do espaço público, o dossiê é articulado com o vereador Marcos Perestrello. “Na melhor das hipóteses”, o assunto só será debatido no dia 26 de Março.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Não me parece muito lógico que antes de se adoptar uma política de eficiência energética se comece a plantar eólicas na cidade, a electricidade por elas produzidas é uma gota de água ao pé do que se pode produzir. Além disso há mais vento fora da cidade do que dentro da cidade.

Então porquê instalar eólicas dentro da cidade? Porque é fino e as eólicas são mais visíveis do que uma política de poupança. É mais caro, menos eficaz e um absurdo estético, mas dá nas vistas e o que dá nas vistas dá mais votos, mesmo que não sirva para nada.

Esta medida tem tanto valor para a cidade como as castanhas assadas na Praça do Comércio ou a marca Lisboa para as corvinas pescadas na margem sul. A falta de imaginação da equipa autárquica leva-a a adoptar as "brilhantes" ideias de Sá Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se à autarquia que se preocupe mais com a cidade e menos com votos.»

A RUA E O BECO

«Setenta mil professores, segundo a Fenprof, estarão hoje nas ruas de Lisboa a manifestar-se. Querem a morte de todas as reformas ensaiadas nos últimos dois anos por Maria de Lurdes Rodrigues e, obviamente, querem também a cabeça de Maria de Lurdes Rodrigues. Desde que há Ministério, desde que há Educação, desde que há democracia, que não me lembro de a Fenprof e os sindicatos da Educação terem deixado de exigir a cabeça do ministro ou ministra em funções. Começou há muitos anos, quando Sottomayor Cardia se lembrou de fazer uma lei de gestão das escolas e Universidades em que (vejam lá a ironia e o escândalo) os conselhos directivos eram maioritariamente compostos por professores e não por funcionários e alunos. Na altura, gritou-se que o fascismo estava de volta e hoje quase que se grita o mesmo, porque a ministra se lembrou de propor a figura de um director para as escolas.

Julgou-se, a certa altura, que o problema poderia estar em os ministros da Educação serem homens, ditando ordens e instruções a um universo essencialmente feminino. Seguindo à letra o discurso feminista oficial de que as mulheres são melhores para a governação porque têm maior capacidade de diálogo, entendimento, etc., e tal, entrou-se na moda dos ministros mulheres, a ver se a coisa acalmava. Não acalmou: o problema não estava aí. E, a menos que se siga a sugestão ditada há dias ironicamente por Maria de Lurdes Rodrigues - experimentar uma loira burra - há que procurar as origens do confronto em outras razões.

Durante muitos anos, e para garantir uma paz podre no sector, todos os governos, incluindo os socialistas, renunciaram a tentar mudar o que quer que fosse. A política de educação estava entregue aos professores e as escolas aos sindicatos. O grosso dos ministros foi do PSD e os sindicatos estavam nas mãos da facção do PSD dirigida por Manuela Teixeira, e a do PCP e companheiros dirigida pelo crónico Paulo Sucena. Como nada de essencial no «statu quo» estava em causa, o confronto centrou-se na ineficácia funcional do Ministério. Anos a fio fomos confrontados com o espectáculo confrangedor de ver os dirigentes sindicais deleitados com as dificuldades e problemas crónicos da colocação de professores e os dramas reais dos professores “não efectivos” que viviam com a casa e a vida às costas, um ano no Algarve outro no Minho. Sem nenhum pudor, tornou-se claro que, quanto pior funcionasse o Ministério e mais problemas viessem para os professores desse mau funcionamento mais felizes andavam os sindicatos. Hoje, são ambos problemas resolvidos e cuja resolução ninguém se lembrou de enaltecer: os professores são colocados a tempo e horas e têm contratos que lhes garantem três anos de permanência no mesmo local.

Essa frente de luta sindical acabou, mas os trinta anos que ela durou deixaram marca. Os sindicatos da Educação tiveram uma contribuição decisiva para sucessivas gerações de alunos prejudicados e para a derrota nacional na frente educativa. Nunca tivemos falta de professores, falta de escolas, falta de dinheiro para a Educação. Gastámos como em nenhum outro sector e, em percentagem do PIB, mais do que a maioria dos países europeus. E tudo isso serviu para nada, para formar gerações de ignorantes, sem préstimo no mercado de trabalho de hoje ou para acumular taxas terceiro-mundistas de abandono escolar. Eu, se fosse professor, estaria, no mínimo, incomodado com os resultados. Porque é preciso muita má fé para sustentar que a culpa foi apenas dos ministros da Educação que tivemos - todos, sem excepção, incompetentes.

Nesta altura do campeonato já toda a gente percebeu que o problema não está em Maria de Lurdes Rodrigues, como também não estava no sacrificado ministro da Saúde Correia de Campos. O problema é mais fundo, mais antigo e mais complicado de enfrentar: Portugal é, de há muito, um país mental e estruturalmente corporativo e qualquer reforma que qualquer governo intente esbarra sempre contra uma feroz resistência da corporação atingida. E para que serve uma corporação? Para proteger os medíocres, não os bons. Acontece com os professores, com os médicos, com os magistrados, com os agentes culturais, com os empresários encostados ao Estado.

Certo que aquele labiríntico organigrama da avaliação dos professores parece, à primeira vista, uma obra-prima de burocracia. Certo que a ministra parece demasiado precipitada e intransigente, adepta de uma atitude de fazer primeiro e avaliar depois. Certo que, como tantas vezes sucede, ela parece ter perdido já a paciência para discutir o pormenor, se não lhe concederem o essencial. Mas, no essencial, ela tem razão e todos nós, que não estaremos hoje a desfilar em Lisboa, já o percebemos. Ela quer mudar as coisas, recusa conformar-se com os resultados de trinta anos a nada fazer; a corporação quer que tudo o que é determinante continue na mesma.

Todos percebemos que a gestão das escolas não pode ser tarefa única dos professores, mas de grande parte da sociedade civil interessada e isto é o que mais atinge uma corporação cuja sobrevivência depende da auto-regulação desresponsabilizadora - vejam como os magistrados ficam logo abespinhados de cada vez que alguém sugere invadir o que chamam a sua sagrada “independência”, que é causa primeira da total falência da justiça. Todos percebemos que um professor que falta às aulas ou vê os seus alunos nada aprenderem e não se preocupa com isso não pode e não deve progredir na carreira e ganhar o mesmo que outro que se preocupa com os seus alunos e com as suas aulas. Todos percebemos que um professor que falta a uma aula pode e deve ser substituído por outro que está na escola, sem aula para dar e dentro do seu horário de trabalho - como sucede todos os dias e com a maior naturalidade cá fora, no mundo ‘civil’, em qualquer empresa ou qualquer local de trabalho. É isto o essencial.

Infelizmente, Maria de Lurdes Rodrigues não tentou ou não conseguiu cativar para o seu lado e para as suas reformas os bons professores, que seriam os maiores interessados e beneficiários delas. Deixou que ficassem isolados e que, pouco a pouco, fossem arrastados pela onda de ‘bota-abaixo’ da Fenprof. Talvez seja este o destino inevitável de qualquer tentativa que se faça de quebrar o poder paralisante das corporações. Talvez haja sempre uma maioria de acomodados que vejam em qualquer mudança um sinal de perigo para a paz podre em que se habituaram a viver. Estas coisas vêm de longe e estão entranhadas: no tempo de Salazar, o grande sonho do português era arranjar emprego para a vida no Estado - o ordenado era garantido assim como a progressão por antiguidade e a reforma ao fim de 36 anos; não lhe era exigido nem mérito nem resultados e jamais seria despedido, a menos que ousasse contestar o Governo. Com a democracia, se a fé no Estado e no emprego público se mantiveram, a única coisa que mudou é que as corporações do sector público já podem contestar os governos. Mais: fazem-no sempre que acham que os governos pretendem mudar o Estado, de que eles se julgam os guardiões.

E é por isso mesmo que a queda de Maria de Lurdes Rodrigues teria o efeito de um toque a finados por qualquer futura tentativa de reformar o Estado e mudar o país.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A REBOQUE DO PCP

«Há exactamente uma semana, o PCP levou 50 mil militantes ao Rossio, numa iniciativa de combate global ao Governo que revelou um indiscutível poder de mobilização. Esse poder de mobilização vai certamente pesar - e muito - também na anunciada concentração de professores marcada para hoje e já ensaiada em várias capitais de distrito.
Professores ou não professores, comunistas ou não comunistas, os manifestantes desta tarde vêm protestar contra o Governo e já não contra este ou aquele decreto do Ministério da Educação. A avaliação dos docentes desencadeou um movimento de proporções absurdas, se tivermos em conta a natureza e o alcance das decisões do Ministério da Educação que o provocaram. Tornou-se, não por acaso, o pretexto e o pólo de todos os descontentamentos que existem em muitos e variados sectores da população e da administração pública em particular. Do que se trata é de um braço-de-ferro político que já tem pouco a ver com a discussão sobre os assuntos que lhe deram origem ou com a dignidade supostamente ofendida dos professores.

A manifestação desta tarde no Marquês de Pombal está intimamente ligada à de sábado passado no Rossio: primeiro convoca-se a vanguarda militante, depois o povo unitário e todos os aliados de circunstância.

Por mais que o PCP se queixe, entre a troça ostensiva e a mágoa fingida, de que Sócrates só vê comunistas a assobiá-lo, é público e notório que as escolas são talvez o mais firme reduto das esquerdas - daí a enorme incomodidade do próprio PS com a actual situação - e que o PCP ainda é o mais forte poder instalado nas estruturas representativas. Ao colocarem-se na posição de vítimas, os comunistas fazem-no para retomar o velho espírito de cerco e a lógica de resistência à mudança em que se enquistaram nos últimos 30 anos, encarando cada tentativa de reforma como um passo no regresso ao fascismo. No fundo, porém, ficam gratos ao primeiro-ministro porque ele está a reconhecer-lhes uma capacidade de mobilização de massas que vai muito para lá do que seria de esperar à luz da sua representatividade eleitoral.
Quanto mais Sócrates se agasta com o PCP, mais o PCP aproveita e polariza os descontentamentos, incluindo os de muitos não comunistas. Luís Filipe Menezes bem pode esperar sentado se acaso imagina que ganhou ou virá a ganhar algum capital político e eleitoral por se colar aos protestos dos docentes, posando para uma fotografia com o líder da Fenprof.

Aliás, um dos aspectos mais curiosos e caricatos da situação actual é precisamente o facto de a direita política não se demarcar da contestação da esquerda e de aceitar mesmo ser conduzida por ela, algo que poucas vezes aconteceu depois do PREC. E essa é uma submissão que a mesma direita pode vir a pagar caro. Não custa perceber que a esmagadora maioria do seu eleitorado mais depressa se reconhecerá nas políticas e na atitude de firmeza e razoabilidade que a ministra da Educação tem apresentado do que neste jogo de cálculo e oportunismo em que o PSD aparece a reboque do PCP.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Fernando Madrinha.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PELOS PROFESSORES

«Hoje, 70.000 professores vêm a Lisboa protestar contra o Governo e a ministra da "Educação". Não posso simpatizar mais com eles. Mas não me parece que tenham percebido bem o fundo da questão: nem eles, nem a generalidade do público. Toda a gente parte do princípio que os professores devem ser avaliados; mesmo os próprios professores, que só criticam o método proposto pela 5 de Outubro. Ninguém ainda disse que os professores, pura e simplesmente, não devem ser avaliados, nem que a avaliação demonstra a (incurável?) deformidade do sistema de ensino. Em cada manifestação aparecem professores furiosos proclamando que não temem a avaliação. Acredito que sim. Infelizmente, não se trata disso.

Uma avaliação pressupõe critérios: parece que neste caso à volta de catorze (e pressupõe avaliadores, muitos dos quais sem qualquer competência científica ou pedagógica ou interesses de uma total irrelevância para a matéria em juízo). Os critérios medem, peço desculpa pelo truísmo, o que é mensurável como, por exemplo, a assiduidade ou notas de uma exactidão discutível, como perfeitamente sabe quem alguma vez deu notas. Não medem nem a "moral", nem o "ambiente", nem os valores da escola ou a contribuição de cada professor para a sobrevivência e a força dessa "moral", desse "ambiente" e desses valores. Numa palavra, não medem a qualidade, de que depende, em última análise, o sucesso ou o fracasso do acto de ensinar. Criam uma trapalhada burocrática que esteriliza e que massacra e acaba sempre por promover a mediocridade, o oportunismo e a rotina. A sra. Thatcher ia matando assim a universidade inglesa.

Os professores não precisam de uma vigilância vexatória e nociva por "avaliações". Precisam de um ethos, que estabeleça uma noção clara e unívoca de excelência. Se o ensino superior for de facto excelente (e não o travesti que por aí vegeta) e se tiver inteira liberdade de seleccionar alunos (como agora não tem), os professores ficarão com um objectivo, o de preparar as crianças para o ensino superior, que os distinguirá entre si, sem regras de espécie alguma; e que tornará o seu trabalho pessoalmente mais compensador, interessante e útil. Desde o princípio que o Estado democrático não compreendeu esta evidência. Começou as reformas por baixo e não por cima. Aturou sem vergonha os mercenários que exploravam a universidade. E de repente quer que os professores paguem a conta do desastre.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O REGRESSO DA RUA

«Há um ano, se alguém dissesse que a "rua" iria ser importante na política portuguesa, seria ridicularizado. Ou era comunista ou era um antiquado nostálgico do PREC ou, ainda pior, do Maio de 1968. Estava na moda a mania um pouco yuppie e reaccionária de pensar que isso das manifestações não interessava para nada, eram coisas de sindicatos e do PCP, que eram inócuas e que nenhum "decisor" sério, dos que enxameiam as páginas dos jornais de economia, as tinha em conta para alguma coisa. Deixá-los lá estar no seu nicho de arcaísmo, que é nos gabinetes que as coisas se resolvem.

Tudo isto é um pouco irónico porque hoje o país está suspenso de uma manifestação em que toda a gente está na rua, do PS de Alegre ao PSD. Até a parte PP do CDS-PP está na rua, a que mais nefelibata é sobre as manifestações, essas "coisas de comunistas", e vai lá sob a forma de uma minúscula associação de professores ligada ao partido. Para colocar a cereja no cima do bolo da "rua", até o Governo está a preparar uma contramanifestação daqui a uma semana, tentando arranjar uma sala suficientemente pequena para ter uma enchente e tecto e paredes grossas para não se ouvirem os assobios.

Se se estivesse atento aos sinais, percebia-se que a "rua" estava a encher-se de forma anormal, consistente, muito para além da força do PCP e da CGTP, há muito tempo. Ao mesmo tempo, também a força da central sindical pró-comunista e do último partido comunista a sério da Europa Ocidental estavam a aumentar porque não há uma coisa sem a outra. Era pelo menos óbvio que existia mobilização e essa mobilização estava a trazer para a "rua" primeiro gente da área que se tinha desmobilizado já há bastante tempo e, depois, gente nova, não em idade, mas na ida a manifestações.

Sempre maltratados pela comunicação social, que acha muito mais graça aos efeitos pirotécnicos do BE, sindicatos, grevistas e PCP continuavam a funcionar mais como um pólo de mobilização do que de atracção, mas, mesmo assim, com resultados num país que tem o "retrato social" de Portugal. Desde a táctica de desgaste de Sócrates, que ia dos assobios de meia dúzia de activistas à entrada deste para as suas sessões de propaganda e casting, estragando-lhe os cenários e o marketing, até à sucessão de greves para culminar em greves gerais, estava em curso um treino do clima de agitação. Com o agravar da crise social, com muita gente a empobrecer, a começar pela classe média, com conflitos corporativos suscitados pela linguagem das reformas apresentadas a cada grupo profissional como sendo "contra os privilégios injustos" do grupo profissional do lado, reformas com mérito feitas muitas vezes de forma incompetente e atabalhoada, com casos de abuso do poder, como o da DREN, com um ambiente de precariedade na função pública, as pessoas começaram a perder o medo, ou a ultrapassá-lo, e a perguntar a si próprias: "Por que razão é que não vou à manifestação, por que razão não faço greve, tão atingida, humilhada, desesperada que estou?" E faz greve e vai à manifestação.

Analisemos três momentos deste crescendo. Primeiro, a CGTP fez uma manifestação com cerca de 100.000 pessoas e continuou a indiferença. No tratamento noticioso valeu menos do que um anúncio da máquina de propaganda de Sócrates, menos do que um incidente parlamentar ou um caso de doença rara com que se metem as lágrimas nos telejornais. Nos blogues era o mesmo ambiente em pior, porque os blogues estão cheios de gente cuja classe social se acha acima destas coisas e conhecem pouco mais do que o Portugal das livrarias e das páginas de opinião. Mas as pessoas estavam lá, na "rua", elas pelo menos sabiam que eram muitas.

Segundo, atrás do núcleo duro do PCP e da CGTP, começaram a aparecer outras forças políticas, regionais e locais, a minar o PS por dentro, como aconteceu na contestação à política de saúde do Governo. As manifestações já tinham à sua frente autarcas do PSD e do PS e, facto decisivo, obtiveram uma enorme vitória: derrubaram na rua o ministro da Saúde. A contestação na educação não teria sido o que foi e é sem as pessoas terem a consciência intuitiva que podem de facto empurrar o primeiro-ministro para derrubar a ministra ou obrigá-la a ceder. Será difícil, mais pela ministra do que por Sócrates, mas este já mostrou que pode ser empurrado para um canto e no canto pede tréguas.

Terceiro, há a manifestação do PCP, também maltratada pela comunicação social, a primeira que o partido faz em seu próprio nome, debaixo das bandeiras vermelhas da foice e do martelo, com os manifestantes a mostrarem o cartão do partido em frente das janelas do Tribunal Constitucional. Foi como se fazia antigamente, antes da batalha, quando o comandante concentra as tropas de mais confiança, a elite, as falanges mais treinadas, a cavalaria pesada, queimados pelo sol de mil refregas, retirando-as ordenadamente do conjunto das tropas coligadas e juntando-as ao seu lado, para lhes falar ao espírito de corpo, gritarem uns gritos de guerra próprios e depois voltarem às fileiras comuns.

Era uma manifestação puramente política, algo que nenhum partido em Portugal seria capaz de fazer, com cinquenta mil pessoas a marcharem pelo PCP e pelo comunismo, uma coisa tão rara nos dias de hoje em todo o mundo que deveria suscitar toda a atenção e todas as análises, mas passou quase despercebida. Este facto não encaixa no quadro mental e comunicacional dominante dos dias de hoje, por isso é como se não existisse. E, no entanto, sem o ver, também não se vê o Portugal realmente existente e não aquele que nós pensamos em abstracto para o século XXI.

Para finalizar, o PS e o Governo resolveram mostrar quão grande era a contestação na "rua" mostrando quão pequena é a sua capacidade de mobilização: anunciaram uma contramanifestação pequenina, que todos os dias muda de sítio para encolher as paredes e parecer que é grande na televisão. Era para ser numa praça do Porto, é certo que uma praça muito pequena e bem fechada de limites, para passar depois para uma sala do tamanho de menos de metade da praça. Eu a pensar que um partido que está à frente nas sondagens e cujo primeiro-ministro ganha com facilidade o confronto eleitoral com a oposição não teria dificuldade em encher a Avenida dos Aliados de gente desde a câmara à Estação de S. Bento. Pelos vistos, teme não o conseguir e a sua fraqueza já concedeu a vitória aos adversários.

Seja como for, também o PS está na "rua", verdade seja dita que dos dois lados. O PS governamental vai para a rua, embora mais fraco do que o PS que vai estar na manifestação dos professores, ou que esteve nas manifestações contra Correia de Campos. Ora isto muda o caso de figura e representa a vitória da "rua" um ano depois do seu vilipêndio. Não é que o PS não tenha todo o direito de lá estar, mas é o facto, esse sim preocupante, de todos sentirem necessidade de lá estar. Isso é que parece o PREC, medidas as distâncias.

Estando Governo e oposição na "rua", frente a frente, estamos numa situação em que se vai para a "rua" por falência (ou inexistência) de mecanismos institucionais que impliquem mediações no processo político. Falência do Parlamento, em primeiro lugar, dos partidos, em particular do PSD, na oposição, e do PS como apoiante do Governo, falência de muitos instrumentos de mediação. Por isso é que, estando toda a gente na "rua", nem sempre se sabe como de lá sair.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Pacheco Pereira.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

BERARDO LEVA ANTIGOS ADMINISTRADORES DO BCP A TRIBUNAL

«A revelação foi feita ontem pelo ‘Jornal de Negócios’, segundo o qual Joe Berardo tem uma equipa de advogados a preparar a acção judicial contra esses antigos administradores do maior banco privado português. Pelas contas do maior accionista individual do BCP, do qual detém cerca de sete por cento do capital social, as perdas totalizam cerca de 800 milhões de euros e devem-se a “má gestão”. Por tal motivo, têm de ser responsabilizadas as pessoas que “lesaram os accionistas”. » [Correio da Manhã]

Parecer:

Zangaram-se as comadres do capitalismo luso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Reserve-se lugar na primeira fila para este espectáculo.»

O PROCURADOR-GERAL ENGANOU-SE

«Segundo apurou o DN, neste momento a Judiciária tem na rua uma série de elementos, que continuam a analisar os locais dos crimes e a recolher informações. No entanto, está a ser equacionada a hipótese de chamar outras secções a participarem na investigação, nomeadamente a de roubos, da Directoria de Lisboa, e a de assaltos à mão armada, na dependência da Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB). "Neste momento, a polícia está a fazer todos os esforços para se chegar a suspeitos, devendo ser chamadas outras secções para participar na investigação. É preciso ter mais gente no terreno e cruzar informações sobre grupos organizados. Estamos perante um grupo que mata à queima-roupa. É preciso encontrá-lo", justificou ao DN fonte policial.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Afinal houve relação entre os crimes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se ao Procurador-Geral que fique menos deslumbrado com as câmaras de televisão.»

MINISTRO ADOPTA "LIVRO DE BOAS MANEIRAS PARA A PSP"

«Na véspera da Marcha da Indignação, que decorre hoje em Lisboa, o ministro da Administração Interna apresentou um conjunto de "normas técnicas" para regulamentar a actuação das forças de segurança perante manifestações públicas. O documento defende que as forças policiais devem "evitar qualquer atitude ou práticas policiais que, independentemente da boa intencionalidade, sejam vistas como interferência ou condicionamento de exercício de tal direito [de manifestação]". » [Diário de Notícias]

Parecer:

É uma pena que não haja um livro de boas maneiras para todas as formas de intervenção policial pois os cidadãos começam a ficar fartos de polícias.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proponha-se.»

OUTRA VEZ MARCELO

«‘‘Reservo-me o direito de ver como falo do presente e que lições devemos tirar para o futuro’’, afirmou Marcelo ao Expresso, numa altura em que o seu nome volta a ser falado como hipótese de federar apoios num cenário de queda antecipada da actual liderança. O professor diz que não tem sentido, mas a verdade é que ele próprio tem ajudado a engrossar o suspense sobre o desfecho do consulado de Luís Filipe Menezes. Há um mês abordou na RTP a possibilidade do líder do partido ser posto em xeque no Conselho Nacional, e há duas semanas apontou o Verão como o momento certo para se avaliar se Menezes tem ou não condições para vingar.

Marcelo ir a votos contra Menezes é impensável, mas o que voltou a ser falado nos bastidores do PSD é o que fará o professor se, muito pressionado pelos críticos internos que ameaçam não lhe aliviar a pressão, Menezes acabasse por desistir e sair de cena. Num cenário desses - que o elevado grau de imprevisibilidade instalado no partido ajuda a introduzir nas conversas -, muitos acreditam que, ao ver o poder cair na rua, Marcelo Rebelo de Sousa poderia dizer: Aqui estou! Quem sabe se ressuscitando o duelo antigo com Santana Lopes, que igualmente surgiria na primeira linha se Luís Filipe Menezes optasse por sair.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Parece que o drama do PSD é ter que escolher entre a versão rasca do populismo que é personificada por Menezes e a versão Jet Set do mesmo protagonismo de que Marcelo é o melhor representante. Veremos se o PSD "profundo" esquece a guerra que Marcelo fez ao governo de Santana Lopes a propósito da sua saída da TVI.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo desfecho.»

FENPROF JÁ TEM MAIS UMA LUTA EM CARTEIRA

«Os sindicatos esperam hoje liderar em Lisboa uma manifestação de 70 mil professores. Mais do que unidos contra as políticas de Maria de Lurdes Rodrigues os docentes dizem-se unidos na indignação contra a forma como essas medidas foram apresentadas e pedidas às escolas. Ontem, a 24 horas da Marcha da Indignação já eram separados na sede da Fenprof, para serem reencaminhados para as escolas, os panfletos e cartazes que marcarão a luta a partir de amanhã os professores vão preparar um abaixo-assinado contra a excessiva carga horária.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Esta dá quase vontade de rir. É cada vez mais evidente o empenho do PCP em usar os professores.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «A Fenprof vai ter lutas até que Jerónimo de Sousa seja PR vitalício.»

ALÍPIO RIBEIRO JÁ TEM OS TIQUES DE SÓCRATES

«O director nacional da Polícia Judiciária (PJ), Alípio Ribeiro, aproveitou, ontem, a tomada de posse de João Baptista Romão como novo responsável da Directoria do Porto da PJ para lançar um alerta contra alegadas resistências internas às mudanças na instituição que irão ocorrer com a aprovação da respectiva lei orgânica. "Não serão os ruídos das fontes anónimas ou os sussuros dos incompetentes que terão força para atraiçoar uma dinâmica de mudança", disse.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Se para Sócrates as vozes contra são profetas da desgraça para Alípio Ribeiro, director nacional da PJ, as críticas à sua gestão são sussurros dos incompetentes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Recorde-se a Alípio Ribeiro que o seu mandato está longe de ser brilhante, mais parece um sarrabulho de incompetência.»

MENEZES TENTA DIVIDIR OS LUCROS COM JERÓNIMO DE SOUSA

«O líder social-democrata Luís Filipe Menezes afirmou este sábado que a Marcha da Indignação «é a Ponte 25 de Abril do engenheiro José Sócrates» e corresponde «à contagem decrescente desta maioria», escreve a Lusa.

«A partir de hoje nada será como dantes. Iniciou-se um plano inclinado do ponto de vista da contagem decrescente desta maioria para uma derrota eleitoral. É um corte emocional, do ponto de vista do subconsciente colectivo, com o engenheiro José Sócrates», disse. » [Portugal Diário]

Parecer:

Menezes parece convencido de que tal como numa escola o próximo primeiro-ministro será eleito pelos professores.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Menezes se acha que os pais estão ao lado dos professores.»

OITENTA MIL PROFESSORES?

«Nem todos são professores e fazem questão de o afirmar. Por empatia, por laços familiares ou por qualquer motivo, há quem ali esteja apenas para «apoiar» os docentes e «criticar» o Governo. » [Portugal Diário]

Parecer:

Tenho dúvidas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao PCP e ao PSD o que fizeram para engrossar a manifestação de forma a dizerem depois que eram metade dos professores do país.»

MALÁSIA: MULHER DE 89 ANOS FAZ CAMPANHA ATRAVÉS DE UM BLOGUE

«Una anciana malaya de 89 años, que apenas sabe leer y escribir y que no cuenta con dinero ni una mano que la ayude, se apoya en el ciberespacio, a través de su perfil en Facebook y de su bitácora online, para ser elegida representante en el Parlamento de su país.La mujer, que es la candidata con más edad que se presenta a esta elección y posiblemente la persona más anciana del mundo que pretende ser elegida, está luchando por conseguir restarle un escaño en el noreste a la coalición gobernante.» [20 Minutos]

ARTISTA ARGENTINO QUEIXA-SE DE LHE TEREM FEITO UMA MALDADE COM O PHOTOSHOP

«Un actor argentino, de 28 años, se mostró indignado por la imagen que aparecía en el cartel anunciador de una obra de teatro en Londres en que trabajó y en el que aparecía con los genitales retocados.

Los genitales de Juan Pablo di Pace fueron reducidos, según denunció, para ilustrar el póster de Rigoletto. En el cartel, se encontraba completamente desnudo y frente a la cámara, según informa The Telegraph.» [20 Minutos]

ALEXANDER ZADIRAKA

CORRIDA EM SALTOS ALTOS

A EU