António Borges, uma estrela cadente da nossa política, fez coincidir a sua saída da Goldman Sachs e regresso temporário ao país com uma entrevista ao jornal Público, uma forma de dizer “portugueses cheguei!”. Como a entrevista não teria impacto se apenas tratasse de coisas desinteressantes como a taxa do IVA decidiu acusar Manuel Pinho de vingança.
Não admira que tenha sido o Público a oferecer-se para entrevistar o banqueiro no desemprego, para além das boas relações entre Belmiro de Azevedo e António Borges (António Borges é um convidado assíduo das iniciativas da SONAE como o “Espírito do Douro, onde tem sempre uma posição de destaque) já se percebeu que o Público disputa ao Avante a agressividade anti-governamental, desde que o novo aeroporto de Lisboa ficou demasiado longe para que fosse possível construir uma manga privativa para o empreendimento turístico da SONAE em Tróia. Não admira, portanto, que num dia seja publicada a entrevista e no dia seguinte José Manuel Fernandes, director do jornal, publique um editorial onde fazendo justiça pelas suas próprias mãos decide que fala verdade e quem mente, condenado o ministro Manuel Pinho.
É evidente que nem o vaidoso António Borges nem o pequeno Manuel Pinho são flores de cheiro, o primeiro esqueceu que não é um bom princípio misturar a banca com a política, o segundo terá “cortado as vasas” ao banqueiro. Nem é bonito ver um banqueiro que graças aos negócios com o governo e as empresas de capitais públicos tem acesso a informação privilegiada usar o palco político para criticar o cliente, nem é aceitável que o ministro use os poderes que tem para pequenas vinganças.
José Manuel Fernandes exige no seu editorial que seja divulgados os contratos entre a Goldman Sachs e o Governo para apurar se houve vingança de Manuel Pinho. Seria mais interessante se fosse divulgados os dados relativos aos contratos da Goldman Sachs com entidades portuguesas para percebermos se a influência da financeira no sector privado é equiparada à que tem no sector público e para termos a certeza de que a omnipresença da Goldman Sachs em Portugal nada tem a ver com a influência política de António Borges.
Todos ouvimos falar do grande negócio que são os contratos de consultoria do Estado e das empresas públicas, sempre que é aprovado um Orçamento de Estado os jornais dão conta das elevadas verbas afectas a esse tipo de negócio. É um facto que desde há alguns anos se ouve falar com frequência da Goldman Sachs.
Se tivéssemos a certeza de que nem António Borges usou a sua influência em favor da financeira onde era vice-presidente, nem Manuel Pinho usou o poder que tem para executar uma vingança política ficaríamos mais descansados, estaríamos a matar dois coelhos com uma cajadada.
José Manuel Fernandes até poderia sugerir a António Borges para que este usasse os seus bons ofícios para que a Goldman Sachs divulgasse esta informação, mesmo assegurando o anonimato das entidades privadas já que em relação às públicas já se viu que o director do Público acha que tudo pode ser conhecido.