Depois de tudo o que já sucedeu não restam grandes dúvidas de qual será o partido vencedor nas próximas legislativas. Apesar da crise financeira, de todas aselhices políticas de alguns ministros, de tudo o que se escreveu sobre a personalidade de José Sócrates, do seu diploma e do seu currículo como desenhador de construção, das manifestações de professores, da infinidade de blogues a apelar aos professores para que votem no PCP ou no BE, o PS não vai ter grandes dificuldades em ganhar as próximas legislativas.
Apesar de uma boa parte dos comentadores oficiais já terem declarado o fim da maioria absoluta o facto é que esta começa a ser uma das grandes dúvidas das legislativas, o que significa que tal hipótese é real. Se há uns meses atrás as análises das sondagens começavam por excluir o cenário da maioria absoluta, agora são analisadas em função da aproximação a esse cenário. Os que há uns meses apontavam a crise económica como o maior obstáculo para renovar a maioria absoluta, descobrem agora que a crise favorece Sócrates, são os mesmos que exigiam do governo medidas de alívio e agora designam o Orçamento de Estado como eleitoralista.
Com o CDS a afundar-se, apesar do balão de oxigénio que Portas obteve nas regionais dos Açores, e os militantes do PSD a testarem líderes como se fossem as manas da Gata Borralheira a experimentarem sapatos, a direita afunda-se, sem lideranças convincentes e sem projecto político, o pouco que restava do projecto ideológico de uma direita não refundada ou foi “roubado” por Sócrates ou desmoronou-se com o desaparecimento da mão invisível durante a crise financeira. A direita portuguesa não existe ideologicamente, não tem projecto político, não tem liderança digna desse nome, em suma, não é alternativa ao poder.
É à esquerda do PS que se travam as grandes lutas políticas, PCP BE lutam entre si para representarem o “povo de esquerda”, a sua luta contra Sócrates tem mais que ver com a luta da liderança à esquerda do PS do que com a oposição ao Governo. A repetição do desastre dos Açores, onde o BE ficou à frente do PCP, seria uma desgraça para o PCP. Seria um prémio de consolação ter mais votos mas ser ultrapassado com um partido cuja capacidade de organização e mobilização nem dá para organizar um piquenique.
Jerónimo de Sousa apercebeu-se desse risco e apressou-se a passar um certificado de esquerda ao BE, deixando no ar a sugestão de entendimentos, uma tentativa infantil de subalternizar o seu concorrente. Só que Louça não tem grande jeito para organizar manifs da CGTP e concentrações mobilizadas por SMS anónimos, mas não se deixou enredar pelo canto da sereia de Jerónimo de Sousa, o seu grande objectivo político é mesmo ultrapassar o PCP.
Neste momento ninguém questiona o resultado das próximas legislativas, é mais provável que o PS ganhe com maioria absoluta do que seja Manuela Ferreira Leite a candidata do PSD a candidato vencido a primeiro-ministro. E Jerónimo de Sousa até dava de bandeja a maioria a Sócrates se isso lhe garantisse a hegemonia política à esquerda do PS, pelo menos durante mais quatro anos. A luta política em 2009 não vai ser contra o PS, vai ser entre as facções do PSD e, como se está a ver com os professores, entre o PCP e o BE.
