quarta-feira, outubro 01, 2008

Umas no cravo e outras tantas na ferradura -

FOTO JUMENTO

Pedindo na Baixa de Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Shannon Stapleton / REUTERS]

«Desesperación en Wall Street. Varios de los brokers de la principal Bolsa del mundo de los negocios se lamentan tras la negativa del Congreso al ingreso de 700.000 millones de dólares.» [20 Minutos]

JUMENTO DO DIA

Ana Sá Brito

A vereadora Ana Sá Brito explicou-se no caso da casa da CML que teve arrendada até ter assumido o cargo na actual liderança da autarquia. Segundo explicou não há nada de ilegal, arrendou a casa nos termos da lei e até tinha renda actualizada. O problema está em saber se outros cidadãos que pudessem ter estado interessados na casa que ela alugou tiveram possibilidade de aceder à mesma casa em condições de igualdade. O facto de tudo estar contratualmente correcto não significa que a senhora não tenha sido beneficiada até porque uma renda de cento e tal euros na Rua do Salitre é um verdadeiro achado.

Não fiquei nada convencido com as explicações da vereadora. Para que isso sucedesse teria que ter havido uma divulgação pública da intenção da CML de alugar o apartamento em causa, abrindo-se a outros cidadãos a possibilidade de se candidatarem a arrendar a casa. Isso sucedeu ou a vereadora beneficiou de um sistema em que só os amigos sabem destas coisas boas?

Enquanto a senhora vereadora vivia numa casa onde pagava pouco mais de cem euros eu alugava uma casa idêntica por quase quatro vezes mais, no meu caso encontrei-a através de um anúncio e ao longo de todos estes anos nunca via um anúncio da CML publicitando a intenção de alugar uma casa. Não basta dizer que estava na posse de um contrato legal e que a renda era actualizada segundo a lei, terá que demonstrar que concorreu a essa casa em condições de igualdade com os outros munícipes e que a renda corresponde a um preço aceitável para o mercado.

De uma coisa eu estou certo, uma renda de 146€ só pagaria uma barraca na Rua do Salitre, uma das zonas finas da cidade, aliás, deve haver na periferia da cidade quem pague mais por uma barraca. A verdade é que a vereadora beneficiou ao longo de anos de uma renda social, algo a que o cidadão comum não tem direito, nem sequer sabia que era possível graças ao património da sua autarquia.

O facto de ter entregue a casa quando foi eleita não resolve nada nem pode ser usado como simbolizando um compromisso ético. Entregou-a porque sabia que tal situação levaria a protestos, isto é, tinha dúvidas sobre a situação de que ao longo de anos beneficiou.

Entretanto, Ana Sá Brito assegurou que não se demitiria enquanto tivesse a confiança de António Costa. Isso é uma questão secundária, o problema agora é saber se numas próximas eleições autárquicas os lisboetas vão ter confiança nela. Eu não tenho.

O ANTI ELEITORALISMO DE JERÓNIMO DE SOUSA

Ontem Jerónimo de Sousa veio fazer ameaças a José Sócrates se enveredasse pelo eleitoralismo, hoje o PCP vem propor um aumento de deduções no IRS com despesas da saúde, educação, habitação e passes sociais. Isto é, para o PCP o Governo deve continuar a adoptar medidas difíceis, assim Jerónimo de Sousa pode liderar manifestações contra as políticas de Sócrates durante a manhã, enquanto à tarde propõe no Parlamento a distribuição de benesses eleitorais.

Este Jerónimo de Sousa é mesmo hipócrita, de manhã é o Estaline cá do sítio e à tarde desempenha o papel de avô boca doce.

A CRIMINALIDADE BENIGNA

Só hoje na edição electrónica do Correio da Manhã fiquei a saber que uma mulher foi violentamente espancada na frente de soldados da GNR e que o juiz o mandou de volta para casa, de onde a mulher teve que fugir, não me admirando nada que venha a ser acusada de "abandono do lar". Na mesma edição foi notícia que um agente da PSP matou a mulher a tiro.

Alguém ouviu o Paulo Portas exigir maiores penas? O Jerónimo de Sousa e o Bernardino Soares prometeram um pacote de medidas? Os sindicalistas dos magistrados do MP e dos juízes vieram a público queixarem-se da ineficácia da lei? O cardeal fez alguma homilia sobre a violência nos casamentos forçados?

Não, todos ficaram em silêncio, preferem calar-se perante um fenómeno que todos anos resulta na morte de mais de trinta mulheres portuguesas e mantém muitos milhares de outras reféns de homens tão criminosos como os que andam a assaltar bancos e bombas de gasolina. Tratam este fenómeno como se fosse criminalidade benigna, muitos polícias olham para o lado, os políticos ignoram, os padres aconselham as mulheres a voltarem para casa e os governos não adoptam medidas para perseguir estes criminosos.

O CASO 'LISBOAGATE' E A CULTURA DA CUNHA

«Mas, claro, de cunhas bem-intencionadas está o inferno cheio. Veja-se o caso "Lisboagate". As primeiras notícias divulgadas pelo DN ainda vinham acompanhadas de um halo de santidade. Os abusos na atribuição de casas pela autarquia eram, afinal, justificados pelas melhores razões: do Presidente da República à esposa do primeiro-ministro, todos metiam cunhas e pediam casas, mas sempre a favor do pobrezinho desamparado. A cunha, boa parte das vezes, não beneficia directamente o próprio e é feita com o argumento de reparar uma injustiça. O problema é que, sem a existência de regras claras e justas, passa a haver uma espécie de fotogenia da pobreza: beneficiam aqueles que melhor comoverem os poderosos. Claro que atrás do pobre vem o motorista do Presidente que mora longe, coitado, e atrás do motorista vem a funcionária que se divorciou e não tem para onde ir, e atrás da funcionária vem o filho da funcionária, que também é filho de Deus.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por João Miguel Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

REGULAÇÃO: SOLUÇÃO OU ORIGEM DA CRISE

«Há um ano, metade das hipotecas residenciais eram ajudadas ou garantidas pelas Fannie Mae e Freddie Mac, duas empresas pertencentes ao estranho grupo das apoiadas patrocinadas pelo governo. No último ano, elas financiaram 80% das hipotecas. A primeira foi criada no contexto da grande depressão e a segunda em 1970. Os privados negociavam com ela, com a certeza, agora comprovada, de que – qual caixa Geral de Depósitos do sítio – o governo nunca as deixaria cair. Este negócio foi intervencionado em 1997, proibindo a discriminação dos desfavorecidos. O sistema é fortemente regulado, e foi esse facto que suscitou a situação no imobiliário. Que ironia e desconhecimento quando vemos as saudações ao regresso da regulação. Mais do que legítimas perspectivas ideológicas, o que está aqui em causa são questões de facto e de conhecimento dos mecanismos económicos.

Sem a intervenção do governo, apoiando os créditos imobiliários, sem uma taxa de juros negativa que levou à explosão dos créditos e ao disparar dos preços, sem a isenção estatal das regras das boas práticas bancárias de um sistema financeiro paralelo não teria sido possível mascarar durante algum tempo a irracionalidade da situação. A intervenção que agora se ensaia, depois das intervenções falhadas, vai prolongar mais algum tempo, não vai actuar sobre os fundamentais e só pode agravar a situação a prazo. » [Jornal de Negócios]

Parecer:

Por Avelino Jesus.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PARTIDOS TAMBÉM "VIVEM" EM CASAS DA CML

«As secções locais de três partidos políticos, PS, PSD e PCP, funcionam em espaços alugados à Câmara Municipal de Lisboa, à qual pagam rendas mensais de valor compreendido entre 4,55 euros e 75 euros. » [Correio da Manhã]

Parecer:

Está explicada a razão porque o PSD e o PCP estão tão caladinhos e não aproveitam o escândalo. Aposto que além dos partidos os "jotas" também devem ser às dúzias a beneficiar do esquema.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Investigue-se.»

PORTUGAL NO SEU MELHOR

«Ana (nome fictício) vive um duplo pesadelo. Foi espancada pelo marido na passada sexta-feira, mas o homem, identificado e ouvido por uma magistrado, acabou por sair em liberdade e regressar a casa. A lei não permite que seja detido e é Ana quem está agora refugiada em parte incerta.

Mesmo assim, o seu pesadelo já poderia ter terminado se o sistema penal assim o permitisse. Um agente da PSP viu-a ser violentamente agredida pelo marido, dentro do seu carro, em plena auto-estrada. Agiu, mas não foi suficiente.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Até quando os governos portugueses ficarão impávidos e serenos assistindo a este triste espectáculo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se a Sócrates que vá conhecer as medidas que Zapatero adoptou.»

FERREIRA LEITE DIZ QUE HÁ UM ERRO DE POLÍTICA ECONÓMICA

«Em conferência de imprensa, na sede nacional do PSD, em Lisboa, Manuela Ferreira Leite defendeu, a propósito da crise do sistema financeiro, que «é essencial, inadiável e urgente que se revejam as prioridades da política económica» porque «há um erro de política nessa matéria». » [Portugal Diário]

Parecer:

É ridículo dizer que há um erro por causa da crise financeira. O PSD comporta-se com a crise financeira da mesma forma que fez com a greve dos camionistas, fica em silêncio e espera pelos acontecimentos para depois criticar. Ainda por cima entra em conflito com Cavaco Silva, há alguns dias e a propósito da crise financeira o PR pelou ao Governo para se preocupar com os pobres, agora Ferreira Leite usa a mesma crise para pressionar no sentido da austeridade na esperança disso lhe trazer ganhos políticos. Isto é pouco sério, é uma combinação de cinismo com oportunismo político.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Informe-se MFL que o seu discurso é puro oportunismo.»

POBRE VEREADORA ANA SÁ BRITO

«Questionada sobre se tinha necessidade da casa há 20 anos, era então enfermeira de profissão além de vereadora, respondeu que sim. E 20 anos depois, quando auferia uma pensão que, segundo a declaração de rendimentos que entregou em 2006 no Tribunal Constitucional, se eleva aos 46.883 euros anuais, ainda tinha necessidade de uma renda camarária de 146 euros? "Não era uma casa de habitação social", repetiu várias vezes. O imóvel integrava-se no património disperso do município, até hoje gerido com critérios discricionários. A renda, inicialmente inferior aos 146 euros, foi sendo aumentada de acordo com a lei até chegar a este montante, "A casa foi-me atribuída legalmente. O contrato de arrendamento era legal", disse Sara Brito.» [Público assinantes]

Parecer:

As explicações da vereadora são insuficientes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ofereça-se uma esferográfica BIC à vereadora, que a use para se demitir.»

O JUMENTO NOS OUTROS BLOGUES

  1. O "Câmara de Comuns" recomenda a leitura do post "O Óptimo de Parente".
  2. O "Cu-Cu" gostou da fotografia de Sascha Huetteneihain.
  3. O "Alcáçovas" gostou da publicidade da Innocent Drinks.
  4. O "Câmara de Comuns" cita O Jumento num post que merece ser lido.
  5. O "Legalices" pescou um artigo de Francisco Teixeira da Mota.

GRANDE PRÉMIO DE SINGAPURA [imagens]

ERIC LAFFORGE

Uma colecção rara de imagens recentes da Coreia do Norte.

PAGANDO-LHES NA MESMA MOEDA

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