Pelo pouco que se vai sabendo começa a ser evidente que a crise financeira ainda está longe de ser superada e há muito que ultrapassou os títulos sub-prime, propagando-se a todo o sistema financeiro. Ninguém sabe ao certo qual a dimensão real das dificuldades que estão a ser sentidas pelos bancos, as próprias declarações dos ministros das Finanças da zona Euro no sentido de tranquilizar os depositantes só podem merecer desconfiança, se dizem que os depósitos serão garantidos é porque algo de mau está a suceder longe das nossas vistas.
Ainda a crise está longe de ser superada e já são visíveis as dificuldades no acesso ao crédito e isso significa retracção da actividade económica, significa menos consumo e, em consequência, menos procura de produtos de que resulta menos produção e a redução do crescimento económico. Mas não são só os consumidores que recorrem ao crédito, a maioria das empresas também carecem dele para manter a sua actividade, desde o empreiteiro de obras públicas que carece de garantia, ao exportador que muitas vezes depende da capacidade de acesso ao crédito por parte dos seus clientes, passando, por exemplo, dos produtores nacionais que vendem às grandes superfícies e que suportam os grandes prazos de pagamento alargados recorrendo à venda dos seus créditos a empresas de factoring. A prolongarem-se as dúvidas a recessão é uma consequência inevitável.
Os governos e, em particular, o governo português estão confrontados o maior desafio que enfrentaram no domínio da política económica. A pouco tempo da apresentação do Orçamento todos estarão agora a questionar-se sobre o que fazer.
Reduzir os impostos? Seria uma solução mas tal só seria admissível reduzindo a despesa e isso só é possível aumentando o défice, reduzindo a despesa com os funcionários, cortando na despesa corrente ou diminuindo o investimento público. Venha o diabo e escolha, qualquer uma destas opções pode ser desastrosa.
Adiar as obras públicas como já alguém defendeu? Isso significa acelerar a recessão pois instalar-se-ia a desconfiança de sectores indispensáveis ao crescimento económico. O adiamento das obras públicas levaria a uma baixa de expectativas de vastos sectores da economia, não se limitando às próprias empresas do sector.
Baixando os preços dos combustíveis? Daí só resultaria um sinal errado para a economia, aumentaria o consumo ineficaz, agravar-se-ia o défice comercial e muito provavelmente não teria qualquer impacto nas empresas, a não ser nas petrolíferas.
A verdade é que os governos pouco poderão fazer, mesmo que tenham uma grande preocupação com as consequências sociais de uma recessão. Aumentar as pensões e as ajudas ao rendimento? No caso de o desemprego se agravar a despesa em subsídios de desemprego agravar-se-á fazendo perigar as contas públicas.
Não é tempo de esperar que a crise financeira passe, já se percebeu que não vai passar, havendo ainda o risco de se agravar. É tempo de pensar o que fazer, é tempo de todos os agentes políticos assumirem as suas responsabilidades e perceberem que a dimensão da crise é demasiado grande para que seja analisada apenas na perspectiva de jogos eleitorais e disputas de poder pessoal.
Que cada um, Presidente da República, partido do Governo e partidos da oposição faça o seu melhor, nas próximas eleições (sejam regionais, autárquicas, legislativas, europeias ou presidenciais) os portugueses saberão avaliar o comportamento de cada um e votar naqueles em quem mais confiam.