Ainda antes de saber como vai terminar a crise financeira que atinge os mercados é evidente que os banco ficaram muito baratos, as suas acções desceram a pique corroendo o valor das suas acções. Isto significa que muitos bancos, não apenas os que faliram, ficaram muito expostos a eventuais operações de aquisição ou de fusão. A concentração bancária será uma possível consequência e sinal do fim da crise financeira.
Só que ninguém sabe quantos bancos vão falir, as contas dos bancos são tudo menos transparentes, não é possível determinar qual o peso dos seus investimentos nos produtos financeiros agora designados por tóxicos ou contaminados. E como estes títulos valem tanto como as antigas acções da Torralta os investidores dificilmente saberão quanto vale um banco.
A solução encontrada por George Bush foi assustadoramente brilhante, injectar no sistema financeiro o dinheiro perdido, transferindo os prejuízos para os contribuintes norte-americanos. Só que os contribuintes não gostaram da ideia e a medida não passou na Câmara dos Representantes. Porque razão Bush não propõe idêntica medida para os jogadores que perdem o seu dinheiro nos casinos de Las Vegas? Afinal alguns destes jogadores são mais cuidadosos do que os gestores dos bancos que estão à beira da falência e, ao contrário destes não ganham milhões dezenas ou mesmo centenas de milhões de dólares por ano, os tais ordenados que vi muita gente cá da praça justificar com o seu alto desempenho.
Do nosso ponto de vista a solução até era milagrosa, tal como se afigurou para os corretores de Nova Iorque e para os políticos do Washington, muito deles eleitos graças a chorudos financiamentos feitos por alguns destes banco. Só que o americano que vive da produção de soja está mais preocupado em assegurar os subsídios agrícolas do que com o futuro dos accionistas dos bancos e alguns políticos tiveram medo de aprovar o plano de Bush.
Resta agora que Bush encontre soluções alternativas, senão ficaremos mesmo a saber qual a real dimensão da crise financeira, ou seja, saberemos quantos bancos vão falir. Numa posição mais cómoda estarão os grandes investidores, com a China e os países produtores de petróleo à frente. Se Bush resolver o problema ganharão porque poderão recuperar os seus investimentos, se a crise atingir a sua real dimensão ficarão a ganhar pois estarão em condições de comprar bancos a preço de saldo.
Num momento em que tanto se fala dos princípios do liberalismo a situação é irónica, se Bush conseguir intervir salva os capitais do comunismo, se não o conseguir é bem possível que o comunismo salve os bancos do capitalismo. No meio ficarão os que vão pagar a factura, os países menos desenvolvidos e os pobres de todo o mundo, começando pelos desses mesmos países, pouco tempo depois de terem de pagar a alimentação e a energia mais cara vão ver disparar o serviço da dívida externa. As consequências da crise poderão ser imprevisíveis.
PS: são vários os analistas que defendem que esta crise financeira era previsível, alguns analistas americanos chegaram mesmo a prever a crise, ainda que poucos lhes tenham prestado atenção. Este mesmo argumento foi usado por algumas personalidades do PSD contra o Governo, ainda ontem Manuela Ferreira Leite criticou os objectivos da política económica num cenário de crise financeira, como se estes tivessem sido estabelecidos com conhecimento do mesmo.
Talvez fosse interessante ouvir António Borges um dos homens fortes do PSD de Manuela Ferreira Leite, ele que foi uma das primeiras vítimas da crise ainda muito antes de se saber da sua dimensão. António Borges era vice-presidente da Goldman Sachs e ninguém acredita que não estivesse na posse de dados precisos sobre o mercado imobiliário americano, já que, como agora se sabe, o banco estava enterrado nos títulos sub-prime.
António Borges é a pessoa ideal para dizer se a crise era previsível e se o governo devia ter adoptado medidas restritivas ainda antes desta ganhar proporções, como Manuela Ferreira Leite parece defender.