Um dos lados mais curiosos e preocupantes do escândalo em torno do aluguer de casas da Câmara Municipal de Lisboa foi o silêncio com que reagiram os partidos, silêncio que se tem generalizado à comunicação social. O assunto já teria caído no desconhecimento se não houvesse uma investigação a decorrer na Procuradoria-Geral da República.
Alguém descontente decidiu estragar o negócio e complicar a vida a Santana Lopes, o que desencadeou a vingança e veio para a comunicação social o nome da vereadora do PS. Este tipo de vinganças e o silêncio a que se remeteram as forças políticas é um comportamento tipicamente “siciliano”, é uma verdadeira omertà à escala da autarquia lisboeta.
Porque razão os nossos partidos, que costumam andar nos caixotes do lixo da política, não aproveitaram este petisco para fazerem oposição? Por uma razão muito simples, porque muito provavelmente todos beneficiavam deste esquema.
Enquanto os cidadãos suportaram a duplicação do IMI e a redução do período de isenção, pagam taxas elevadíssimas por todos os serviços camarários, havia um grupo de gente ligada aos partidos com presença na CML que beneficiavam de casas a baixo custo. Como explicou a vereadora Ana Sá Brito em relação à sua casa, havia contratos e a renda era actualizada como, aliás, não podia deixar de ser, aplicava-se a lei em vigor.
Mas na verdade as casas eram alugadas com rendas quatro ou mais vezes inferiores às que os cidadãos de Lisboa pagavam. No ano em que a vereadora alugou uma casa com uma renda de cerca de vinte contos eu aluguei um T1por quatro vezes mais e também a minha renda era actualizável.
Pelo pouco que se soube a CML mantinha um mini-mercado de arrendamento para amigos, os jotas, os assessores, os directores e os vereadores iam sabendo de casas bem localizadas e que iam caindo no património da autarquia e rapidamente eram distribuídas segundo critérios que ninguém conhece e que foram mantidos em silêncio, para que não estragassem o negócio.
A verdade é que ao longo dos anos todos os partidos e autarcas da capital pactuaram com o negócio, distribuindo benefícios indevidos pelos amigos, mantendo tudo em silêncio para que os lisboetas desconhecessem que estavam a ser tratados como cidadãos de segunda por gente oportunista e sem escrúpulos.
Não admira que agora vigore a omertà em torno deste assunto, é evidente o pacto de silêncio entre a gente da Praça do Município. Resta saber quantos mais segredos estão a ser escondidos por este pacto de silêncio.