Confesso que não fiquei muito surpreendido ao ouvir Manuela Ferreira Leite evocar o 25 de Abril e a revolução, ainda que fosse motivo para ficar pasmado, desde que a líder do PSD segue a orientação de Pacheco Pereira é de esperar que diga coisas destas. Todavia, tenho que confessar que quando ouço MFL falar de Abril e da Revolução fico com a mesma sensação que sinto quando ouço padres falar de sexo, o discurso é bem estruturado mas não combina bem com quem o profere, não bate a bota com a perdigota.
Sem ideias nem projectos, porque não os tem, ou porque os quer manter escondidos, resta a MFL tentar desgastar a imagem do Governo e como Sócrates até tem uns tiques autoritários o discurso do medo pode ajustar-se. Não é nada de novo, o seu tutor ideológico, Pacheco Pereira, há muito que ensaia o discurso da falta de liberdade e do controlo da comunicação social.
Só que esta estratégia política revela uma atitude defensiva, mais própria de quem quer retirar uns quantos votos e não de quem tem a convicção de que pode ganhar eleições. Quem quer ganhar eleições não faz queixinhas, apresenta-se como alternativa. Ora, em matéria de democracia e de tiques autoritários MFL não é alternativa a Sócrates, nem ela nem os governos em que participou foram exemplo de tolerância e de liberdade.
Fica mal a Manuela Ferreira Leite vir agora falar de Abril e de revolução, ela que nunca falou do tema e que até pertenceu a um governo que desprezou a comemoração dos 30 anos do 25 de Abril. Ela que saneou todos os altos dirigentes do ministério das Finanças pouco depois de tomar posse, ela que nas várias pastas governamentais em que esteve nunca deu o mais pequeno sinal de diálogo. Se os tiques autoritários são uma imagem de Sócrates então que venha o diabo e escolha, quanto a mim, diabo por diabo prefiro o que lá está.
Manuela Ferreira Leite está confundindo falta de liberdade com falta de poder, é uma confusão muito típica de quem gosta de exercer o poder com autoritarismo. Ao acusar os outros de asfixia democrática a líder do PSD está a espantar os seus próprios fantasmas.