Um gestor japonês, presidente da Elpida Memory, anunciou que durante os próximos dois meses prescindirá do seu salário e nos meses seguintes, até que a empresa apresente lucros, receberá apenas metade. É evidente que isto é coisa de japoneses, se por cá alguém fizesse esta sugestão viriam logo dizer que os gestores merecem ganhar de acordo com as responsabilidades e que uma redução dos seus vencimentos seria desastrosa para as empresas.
É evidente que o discurso não aplica aos que nas empresas auferem dos mais baixos salários, ganharem mais seria um perigo para a competitividade e, por conseguinte, para a sobrevivência das empresas. É por isso que todos os dias se ouve falar de baixos salários e a crise é usada como chantagem sobre os trabalhadores, mas não ouvi falar de qualquer redução dos rendimentos dos nossos gestores, começando pelos da banca que por estes dias sobrevive à custa das garantias dadas pelo Estado, isto é, por todos os portugueses e principalmente pelos mais pobres e seus vizinhos da classe média, pois são esses que costumam pagar a factura.
Ouço a Manuela Ferreira Leite exigir apoio para as PME que dão prejuízo mas todos sabemos que os gestores de muitas dessas empresas que apresentam prejuízos ao longo do ano sem que encerrem, usam carros topo de gama adquiridos pelas empresas em regime de leasing, têm numerosos almoços de negócios pagos com o cartão de crédito da empresa nos bons restaurantes, lançam na contabilidade das empresas uma boa parte das despesas pessoais.
Já vivi muitas crises, ciclicamente sou apanhado por um plano de austeridade, vi o meu vencimento ser reduzido quase todos os anos desde que trabalho. Mas nunca vi as nossas elites terem o mais pequeno gesto de solidariedade com o país, pelo contrário, todas as crises são acompanhadas do aumento das assimetrias na distribuição do rendimento. A seguir a cada crise os ricos ficam mais ricos e os pobres ficam mais pobres.
É por estas e por outras que este país não se desenvolve, com gente desta até seria um milagre.