Não sei porque tanta gente fica incomodada na hora em que são publicados os estudos que mostram que as desigualdades aumentam em Portugal, o nosso modelo económico está “viciado” em pobreza, gera pobreza quando cresce e volta a gerar quando entra em recessão. E o problema não está nos salários ou na ausência de uma política de redistribuição de rendimentos, ainda que em alguns sectores mais modernos da economia, como é o caso do sector financeiro, essa questão possa ser colocada.
Uma parte muito significativa do nosso sector privado faz depender a sua competitividade nos baixos salários, praticando uma política de preguiça nos modelos de gestão ou no investimento tecnológico. A má qualidade do ensino e a falta de qualificação profissional enquadra-se neste modelo, isso explica que uma boa parte da mão-de-obra qualificada, com destaque para os recém-licenciados tendam a emigrar. Dantes eram os trabalhadores menos qualificados que eram “exportados” quando havia excesso de mão-de-obra, agora são os mais qualificados que fogem da nossa economia.
Este modelo económico gera riqueza “preguiçosa”, pouco propensa a procurar investimentos de risco ou com resultados a médio e longo prazo, prefere a especulação financeira, vai directamente para as mãos dos gestores de fortunas dos bancos ou, na melhor das hipóteses, investe em sectores especulativos, como é o caso do sector imobiliário.
O padrão de consumo gerado pelas assimetrias na distribuição do rendimento favorece o consumo de bens importado o que resulta no minguar do mercado interno, o baixo poder aquisitivo da maioria dos portugueses leva a que o nosso mercado não tenha dimensão crítica que favoreça o investimento, as nossas empresas não encontram mercado que sustente a sua internacionalização.
Por tudo isto o aumento do rendimento dos portugueses e o combate à pobreza não deve ser considerado apenas um objectivo que acaba disfarçado por médias estatísticas. Estas médias estatísticas disfarçam a realidade, o nosso número de pobres é superior ao que resulta desses indicadores, os nossos ricos são mais ricos que os dos outros países.
O aumento do rendimento dos portugueses deve sim ser um objectivo central de uma política económica que vise o crescimento e o desenvolvimento económico. Para isso é preciso apostar no investimento público gerador de emprego qualificados, aumentar a competitividade nos mercados, combater a evasão fiscal, gerir os apoios públicos às empresas em função da qualificação e da remuneração dos seus trabalhadores, em suma, apoiar a economia que gera bom emprego.
Um país de pobres nunca será um país rico. Os países ricos são aqueles onde os trabalhadores são mais qualificados e melhor remunerados. Os países mais competitivos não são os que pagam menos aos trabalhadores, são aqueles que têm maior mercado interno e onde existe uma forte concorrência entre empresas. De pouco nos vale, por exemplo, que Belmiro de Azevedo crie muito emprego, se uma boa parte desse emprego são repositores de supermercado ou raparigas do shopping.