terça-feira, outubro 14, 2008

A líder política subprime


Não deixa de ser irónico que Manuela Ferreira Leite, que ganhou coragem de concorrer a líder do PSD com os primeiros sinais da crise financeira, acabe por ser a grande vítima da crise financeira em que apostou para retirar a maioria absoluta a José Sócrates. A verdade é que as cotações do PSD nas sondagens acompanharam a queda do PSI20, só que de nada lhe valeu as medidas adoptadas pelos governos europeus, incluindo o português.

Como se tudo isto fosse pouco, uma das sondagens feitas revelam que os portugueses não confiam em Manuela Ferreira Leite para governar num ambiente de crise financeira. A líder do PSD nada fez para contrariar esta opinião, comportou-se na política da mesma forma que estão a actuar os investidores especulativos, optou pelo silêncio, nada arriscou, esperou que a situação económica se agravasse acabando com o capital político de José Sócrates enquanto o seu ficava intacto.

O que pensa Manuela Ferreira Leite da crise financeira? No pressuposto optimista de que a líder do PSD pensa (nos últimos tempos tem-se limitado a dizer o que Pacheco Pereira pensa) temos que concluir que desta vez ou Manuela Ferreira Leite não pensou ou evitou dizer o que pensou. O certo é que não disse nada e em política quem não diz nada é porque não tem nada para dizer. Aliás, Manuela Ferreira Leite só fala quando ninguém a espera ouvir e sobre questões meramente secundárias, nunca tomou posição em situações de crise, sucedeu isso com a crise dos camionistas, com o boicote às lotas e, agora, com a crise financeira.

Se uma candidata a primeiro-ministro nada tem a dizer quando o país e o mundo enfrentam uma das maiores crises financeiras da história, então as futuras intervenções terão pouca credibilidade. Manuela Ferreira Leite actuou com o cinismo de um especulador, apostou no silêncio no momento difícil, guardando as suas propostas e ideias para quando mais lhe interessar. Esqueceu-se de que os grandes políticos não se servem das crises, mostram o que valem quando as enfrentam.

A única posição pública que fez durante esta crise não foi para dar o seu contributo, limitou-se a tentar aproveitar uma afirmação feita por Sócrates num comício, para se assumir como a defensora dos mercados. Errou nas previsões, os mercados entraram mesmo em crise e foi necessária a intervenção estatal à escala mundial.

Esta actuação política de Manuela Ferreira Leite revela que para o seu grupo de salvadores da nação, como Pacheco Pereira e António Borges, a política é um jogo como a bolsa, investe-se quando se pensa que se vai ganhar, capitaliza-se quando se julga que já se ganhou e desinveste-se quando a crise é anunciada. Talvez por isso as sondagens tratem Manuela Ferreira Leite como se fosse uma líder política subprime, prometia muito mas acabou por se desvalorizar muito rapidamente. Já não faltam no PSD os que se querem livrar dela, como se fosse uma velha acção da Torralta.