Quando não é a abertura do ano judicial são as entrevistas bombásticas da dra. Maria José Morgado, quando não são os discursos de Pinto Monteiro é a tomada de posse do presidente do sindicatos dos magistrados que teve a presença de mais personalidades do que a de um presidente africano.
Se de um lado temos as magistraturas, bem pagas e ciosas da defesa das suas mordomias, do outro temos uma justiça que se arrasta, com empresas que esperam anos pela cobrança de dívidas, com arguidos esperando anos por julgamentos, com crianças que esperam anos pela adopção, dum lado temos uma feira de vaidades, do outro um país com fome de justiça, descrente nos tribunais.
Como se tudo isto não bastasse parece que há gente que se esqueceu de que os tribunais são órgãos de soberania e decidiram fazer política e, pior do que tudo isso, fazer julgamentos na praça pública. A fuga ao segredo de justiça tornou-se na regra, os nossos polícias, magistrados ou não, decidiram fazer justiça pelas próprias mãos condenando cidadãos nas páginas dos jornais. Muito antes dos julgamentos muitos arguidos são condenados sem qualquer direito a defesa por jornalistas ditos de investigação, cujo único trabalho jornalístico é receberem envelopes de mãos amigas.
Começou a ser regra neste país o início ou o reinício de processos judiciais em tempo de eleições, fala-se agora muito de Sócrates mas recentemente sucedeu o mesmo com Pedro Santana Lopes, mal se falou da sua candidatura foi iniciado um processo, enfim, uma coincidência que começa a ser comum em Portugal. Até parece que há gente cuja carta ninguém conhece que chamou a si o papel pedagógico de dizerem aos eleitores em quem não devem votar.
Quando os casos chegam a julgamento é o que se tem visto, é raro o arguido que é condenado, ou a acusação é fraca ou as provas não valem, em suma, os julgamentos são meras manifestações de incompetência da justiça. Só nos últimos tempos vimos a Fátima Felgueiras, o Avelino Ferreira Torres e o Pinto da Costa a saírem das salas de tribunal a rir dos acusadores e não é muito difícil de adivinhar o que vai suceder no julgamento do autarca de Oeiras.
Os portugueses têm medo da justiça, receiam serem envolvidos num processo que se arrasta em julgamentos ritualistas, temem ver a sua vida devassada por escutas telefónicas vertidas para jornais, temem a vingança de uma máquina cinzenta que é gerida por um grupo corporativo que põe a defesa dos seus interesses acima dos do país.
Sem justiça os cidadãos não confiam no Estado e sem magistrados independentes a democracia é uma ficção.