Não admira que em Portugal quem faz oposição sejam os líderes corporativos, gente cinzenta como o camarada Mário Nogueira ou o agora famoso senhor Palma, gente que associa interesses partidários mais ou menos assumidos com a defesa de mordomias pagas pelos contribuintes. É preciso manter a qualquer custo abusos como o subsídio de residência dos juízes, um subsídio absurdo maior do que o salário mínimo que uma boa parte dos portugueses auferem e, ainda por cima, livre de impostos.
A esta gente pouco importa quem governa, se a esquerda ou a direita, se Salazar ou Vasco Gonçalves, o que importa é que os governos não ousem retirar-lhes o estatuto de casta superior. Isso explica que alguns dos grupos profissionais que mais lamberam as botas a Salazar sejam precisamente aqueles que mais oposição fazem. Não se limitam a usar os direitos à greve ou à manifestação, assumem claramente a intenção de decidir quem deve governar o país, uns dizem aos eleitores para não votarem num determinado partido, outros usam o acesso privilegiado à informação que lhes proporciona a sua profissão para tentarem julgar o primeiro-ministro na praça pública.
Nestas condições a oposição torna-se preguiçosa, em vez de apresentarem soluções credíveis limitam-se a entreter os tempos de antena e os debates parlamentares esperando pelos acontecimentos. Estão convencidos de que a melhor forma de chegarem ao governo não é provando que o seu projecto político é melhor. Mas sim aguardando que outros ou alguns dos seus paus mandados façam o trabalho sujo.
De uma forma ou de outra tem sido assim nos últimos anos, não admira, portanto, que enquanto o país se debata com uma grave crise eonómica, bem mais grave do que aquela que preocupa o mundo, os nossos políticos estejam mais interessados em saber qual vai ser a próxima declaração do senhor Palma do que conhecer os indicadores do desemprego. Já perceberam que os indicadores dos desemprego não os tem favorecido nas sondagens, resta-lhes a golpada.
Esta estratégia assenta no pressuposto de que os portugueses são parvos, que os senhores Palmas conseguem manipulá-los para poderem manter os privilégios da sua corporação. Veremos se os portugueses são mesmo parvos ou os senhores Palmas vão enganar-se e correr um sério risco de terem que justificar o que ganham.