Recordo-me desta história do passado quando vejo o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, no meio de múltiplas pressões sobre os investigadores, quase todas no sentido de envolver o nome de Sócrates, aparece este senhor muito incomodado com as pressões sobre os magistrados. Quando alguém manda a dica para os jornais e este senhor vem insinuar que há grandes intimidações sobre os magistrados, quando em vez de as ir denunciar ao Procurador-geral prefere pedir um audiência ao Presidente da República recusando-se a dizer o que se passou por ser demasiado grave o que é que este senhor está a fazer senão pressionar os investigadores? Tanto pressionou e desautorizou o Procurador-Geral que este foi obrigado a emitir um comunicado?
Onde estava o senhor Palma quando a seguir à primeira vaga de notícias surgiram na comunicação social insinuações e críticas às intervenções de Cândida Azevedo, onde estavam quando algumas vozes questionavam a sua presença à frente do processo?
E como entender as intervenções dos sucessivos presidentes do seu sindicato? É evidente que o senhor Palma não refere nomes, nem precisa, quando fala em pressões tão grandes que só o Presidente da República as pode conhecer nenhum português vai pensar que foi o presidente da junta de freguesia da Buraca que as fez.
Ficámos a saber que durante um almoço um procurador disse algo aos procuradores envolvidos na investigação, que estes poderão ter entendido as bocas como pressões. Mas será que o procurador que mandou as bocas tem poder para prejudicar a vida dos investigadores e estes são assim tão medrosos? As pressões foram tão grandes que o Procurador-Geral nada pode fazer e os procuradores atingidos foram apresentar queixa ao sindicato, desprezando a lei e optando pela mediatização de insinuações em vez de usarem os mecanismos legais à disposição do Procurador-Geral? Como é que o senhor Palma soube das intimidações, os procuradores queixaram-se ao sindicato ou ouviu uns bitaites de corredor?
Ora senhor Palma, pressões a sério existem na Itália, não são bocas à hora de almoço, são ameaças, tiros e bombas que matam procuradores a sério, procuradores que procuram fazer justiça e não intervir no jogo político de forma subliminar, isso sim são intimidações, e são procuradores corajosos que não precisam de sindicalistas que só aparecem em público quando está em causa o governo de um determinado partido. Deixemo-nos de mariquices que apenas servem para lançar insinuações com resultados político-partidários mais do que óbvios.
E as sucessivas vagas de fugas ao segredo de justiça não são intimidações sobre os investigadores, promovendo uma condenação pública antes da conclusão de qualquer investigação não são uma forma de intimadores dos magistrados?
Apetece-me fazer como o meu antigo colega de residência de estudantes e gritar "puritanos!", talvez assim andasse por aí menos gente a vir a público com ar de virgens inocentes. Sim, porque se ainda não sabemos se há culpados no processo Freeport já temos a certeza de que há por aí muita gente com culpas no cartório, desde os que desrespeitaram o segredo de justiça e dos contribuintes que lhes pagam as mordomias e andaram a distribuir peças do processo de forma avulso até aos que usando a postura de debutantes têm tentado manipular a opinião público, tudo fazendo para que a justiça seja substituída por um linchamento público em vésperas de eleições. Todos eles andam agora preocupados com as intimidações que o presidente do sindicato dos magistrados do MP denunciaram.
Caro senhor Palma, como dizia muitas vezes o seu antecessor na liderança do sindicato durante as investigações do processo Casa Pia, confie na justiça e nos seus agentes, o que significa confiar nas instituições e nos responsáveis por estas, começando pelo próprio Ministério Público e pelo Procurador-Geral.
Deixe-me rir, no meio da desgraça em que toda a justiça está o nosso amigo parece andar preocupado com bocas à hora de almoço.