A democracia não se esgota no parlamentarismo e nem sempre (ou quase nunca) os deputados representam quem os elegeu, faz todo o sentido que os cidadãos se façam representar em organizações movimentos que os representam directamente e onde podem intervir sem que tenham que recolher milhares de assinaturas para serem recebidos por deputados que se limitam a bocejar enquanto não passam os três minutos da praxe.
Organizações sindicais, comissões de trabalhadores, comissões de bairro ou de utentes ou, simplesmente, manifestações de rua são alguma das formas de os cidadãos manifestarem a sua opinião, exercendo os seus direitos de cidadania. Só que desde sempre quem em Portugal os partidos recorreram a militantes travestis para ocuparem estes espaços de cidadania. Aliás, alguns partidos não se limitam a conquistar a liderança de muitas destas organizações colocando-as na sua órbita, como inventam uma infinidade de comissões supostamente representativas que ninguém sabe muito bem como aparecem ou quem escolhe as suas lideranças.
Desta forma os partidos ganham uma expressão nos movimentos sociais que não conseguem na hora das eleições. A perversão da democracia chega ao ponto de havere deputados que em pleno Parlamento desvalorizam as suas decisões pretendendo que a representação do povo está na rua.
Se é verdade que os portugueses não se sentem representados pelos deputados o que dizer de sindicatos onde ninguém assiste a uma votação para escolha de representantes sindicais e muito menos dos líderes do sindicato? E o que dizer de uma infinidade de organizações supostamente representativas que ninguém sabe quem as inventou?
Os mesmos partidos que fazem do debate parlamentar o espectáculo enfadonho a que habitualmente assistimos ocuparam a chamada sociedade civil, transferindo a luta partidária para as organizações que supostamente deveriam de representação directa dos cidadãos. Com esta estratégia acabaram por asfixiar aquele que poderia ser um importante mecanismo regulador da democracia parlamentar. Não raras vezes são partidos minoritários no parlamento que tentam intervir à margem do parlamento com os seus militantes travestidos de cidadãos comuns.
Aliás, esta ocupação do espaço do cidadão por parte de militantes disfarçados foi bem mais longe, algumas instituições do Estado há muito que estão sendo ocupada por travestis partidários, o que explica muito do que se tem passado em sectores como, por exemplo, a Justiça ou a Educação.