A última a agarrar a bandeira da corrupção foi Manuela Ferreira Leite, desta forma cria-se a ideia de que o poder é corrupto e a líder do PSD quer luta contra a corrupção. Mas não é Ferreira Leite que tem um afilhado deputado que vai ser levado a julgamento por alegadamente ter recebido dinheiro? Não foi o PSD de Manuela Ferreira Leite e Durão Barroso que mandou as facturas para a Somague e depois escolheram um doente para arcar com as culpas? Não foram velhos companheiros de Manuela Ferreira Leite que que fizeram um buraco de dois mil milhões no BPN?
É importante e urgente combater a corrupção mas isso não passa apenas por algumas medidas panfletárias que têm vindo a ser propostas e muito menos por catalogar como corrupto qualquer português que use camisa nova. Neste ambiente paranóico até o Governo chegou ao ponto de ter tentado sujeitar a um processo disciplinar qualquer funcionário do fisco que comprasse bens acima de determinado valor, isto é, primeiro sujeitava-se a processo disciplinar e era no âmbito deste que quem fosse suspeito teria de provar que não era corrupto.
Está a criar-se a ideia de que a corrupção combate-se apenas apanhando os prevaricadores, tornando a luta contra a corrupção numa roleta russa que de vez em quando transformará qualquer corrupto mais incauto em vítima exemplar. Não seria mais fácil combater a corrupção identificando e secando as suas fontes.
Quando o PSD e o PS acordaram que as nomeações para os altos cargos da Administração Pública deveriam ser feita com base na confiança política não estão a abrir as portas à corrupção? É evidente que um qualquer boy idiota que foi nomeado para um cargo que decide milhões nunca dirá não às sugestões do ministro, do amigo do ministro, do compadre que ajudou a nomear o ministro e mais uma infinidade de gestores de influências que gravitam em torno do ministro.
A corrupção combate-se com transparência nas decisões dos altos cargos do Estado e para isso é necessário acabar de vez com a nomeação dos incompetentes e mais servis, dando lugar a um Estado gerido por gente capaz, honesta e que esteja ao serviço da coisa pública, algo que tem sido esquecido nas reformas da Administração Pública, dando lugar a um Estado de borregos.
A verdade é que a corrupção está entranhada na nossa cultura, são décadas em que os portugueses se habituaram a viver com o favor, nada se faz sem recorrer à influência. De pouco serve apanhar uns quantos corruptos para os exibir na praça pública, da mesma forma que não é a prisão de meia dúzia de correios que põe fim ao tráfico de droga.