FOTO JUMENTO
Torreão do Terreiro do Paço, Lisboa
IMAGEM DO DIA
[Andy Clark/Reuters]
«Wearing a “Canada Rocks” T-shirt, an extraterrestrial doll sat in the stands during the World Men’s Curling Championships in Moncton, New Brunswick, Canada, Wednesday.» [The Wall Street Journal]
JUMENTO DO DIA
Miguel Relvas, líder parlamentar do PSD
Ao exigir do PS a unanimidade no apoio à candidatura de Durão Barroso à liderança da Comissão europeia, condenando qualquer opinião discordante, Miguel Relvas revela que não tem a noção do ridículo. Durão Barroso está longe, mesmo muito longe, de ter sido um líder competente, representa mesmo um passado que a Europa e o mundo querem esquecer.
Relvas esquece o que Durão Barroso e o PSD fizeram quando o candidato foi António Vitorino, nessa altura não ouvi nenhuma voz do PSD e muito menos a de Relvas apoiar a candidatura do então comissário europeu.
A liderança da Comissão Europeia não é um campeonato por países e Durão Barroso está a ocupar a vaga portuguesa na Comissão. Depois da forma como Manuela Ferreira Leite tem actuado na nomeação de cargos públicos o que o PSD merecia é que fosse escolhido um comissário que estivesse mais de acordo com o parlamento português.
O que o PSD quer não é um português à frente da Comissão Europeia pois Durão não é o único em condições de exercer o cargo, o que Manuela Ferreira Leite e Relvas desejam é que seja mais um alto cargo a ser ocupado por alguém do seu partido. O cargo de comissário é um cargo de nomeação e por isso mesmo Sócrates deve condicionar o apoio a Barroso ao apoio do PS ao nome proposto pelo PS para Provedor de Justiça, amor com amor se paga.
Mas será que o PSD está mesmo preocupado com a presidência da Comissão Europeia, e se Barroso perder? Ou estou muito enganado ou Manuela Ferreira Leite vai querer que Barroso ou outro militante do PSD fique como comissário se o actual presidente da Comissão não conseguir renovar a nomeação como presidente.
AVES DE LISBOA
Rola-do-mar [Arenaria interpres]
Local da fotografia: Terreiro do Paço
MEMÓRIAS SEM HÁBITOS
«Quando publiquei o Pequeno Livro do Grande Terramoto, recebi uma mensagem de uma portuguesa emigrada numa cidade japonesa, onde estudava a língua e literatura daquele país. Contava-me ela que, tal como os seus vizinhos, se habituara a ter sempre uma mala feita com os objectos essenciais e roupa escolhida de prontidão para o caso de haver um sismo durante a noite. Quando saía pela manhã tinha um especial cuidado em fechar a canalização do gás, para evitar explosões no caso de haver um sismo quando estava fora de casa. Ao fazê-lo, salvava vidas.
Perguntava-me ela por que razão, sendo Lisboa a cidade de 1755, os lisboetas (e, já agora, os algarvios) não tinham o mesmo tipo de cuidados. A resposta que então lhe dei - e que tinha dado no livro - é que a nossa sismicidade (no continente) é traiçoeira. Uma região com sismos frequentes, como o Japão ou os Açores, tem uma relação diferente com o fenómeno. Aqui temos principalmente uma memória colectiva fortíssima de uma catástrofe antiga que se poderá repetir, ou não, durante as nossas vidas. Essa memória não se apagou, nem apaga, mas não se converte em hábitos.
Isto é potencialmente muito perigoso. As desvantagens relativas da nossa situação têm de ser compensadas "politicamente", ou seja, através da comunidade organizada. Não é por acaso que um sismo muito forte no Japão causa muito menos mortes do que um sismo menos forte no Afeganistão. O Japão está preparado, o Afeganistão não.
Nessa mesma altura, fui convidado para vários debates sobre 1755 e estava lá apenas enquanto alguém que estuda o caso do ponto de vista da história cultural. Costumava ir também um sismólogo ou geofísico, alguém da protecção civil, ou um engenheiro especialista nos nossos edifícios.
Em geral, o que eu ouvia dos meus parceiros de debate deixava--me só moderamente preocupado, o que significa também "moderadamente confiante". Mas o que eu ouvia sobre o nosso "parque edificado" (para usar o palavrão técnico) deixava-me mesmo muito preocupado. O engenheiro João Appleton, especialista em edifícios antigos, era veemente nos seus alertas. Segundo ele, a má construção e a má recuperação de edifícios são endémicas no nosso país, e particularmente em Lisboa.
Esse problema de base, já de si alarmante, é agravado pela falta de informação. Se eu for comprar ou alugar uma casa, para onde devo olhar ou que devo procurar? Não sei. Que podemos fazer nós, que não somos engenheiros civis? Devemos apenas confiar nos regulamentos e esperar que eles sejam respeitados, ou há algo mais que possamos acrescentar?
Uma resposta possível poderia estar naquilo a que se chama certificação - e que eu entendo como uma modalidade do "desenho de informação". Tal como existe agora a certificação energética de edifícios, que atribui notas ao consumo de cada prédio, deveria haver uma certificação anti-sísmica simples e pública. Os edifícios seriam visitados por técnicos antes de serem postos no mercado e nós, leigos, poderíamos saber quais são as classificações para cada prédio.
É uma ideia. Como vimos esta semana em Itália, não é preciso um novo 1755 para causar mortes evitáveis. É com ambivalência - por receio de ser alarmista - que se usa a desgraça de outros para falar de nós. Mas o autocarro passa e o meu soalho treme; estou certo que os meus ex-parceiros de debate concordariam que é melhor ficar mais preocupado agora e mais seguro depois.» [Público assinantes]
Parecer:
Por Rui Tavares.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
A MENTIRA COMO ARMA POLÍTICA OU O CALCANHAR DE L'AQUILA
«No dia 31 de Março, o Comité de Grandes Riscos da Protecção Civil Italiana reuniu-se em L'Aquila e concluiu que "os tremores que a população está a sentir fazem parte de uma sequência típica... [que é] absolutamente normal numa área sísmica como a que rodeia L'Aquila". Não havia, disseram, razão para alarme.
Anteontem, passada uma semana sobre aquela data, um violento terramoto dilacerou a cidade, matando mais de 200 pessoas e ferindo para cima de mil. O comité enganou-se: havia razão para alarme. Ou, no mínimo, para tomar precauções.
Mas o que se fez foi o contrário. E foi até calada a única voz que, semanas antes, alertara para a possibilidade de uma catástrofe, a de Gioacchino Giuliani, um cientista do Instituto Nacional de Astrofísica, morador em L'Aquila. Giuliani baseou as suas previsões nas concentrações de gás radão no local, mas foi acusado de espalhar alarme, silenciado (teve que retirar da Internet o texto onde apresentava tais conclusões) e posto sob vigia. O presidente da câmara local ficou furioso e mandou calá-lo. Ninguém quer uma população assustada.
Mas como lidar agora com a dúvida, quando se concretizou o pior dos cenários? O chefe da Protecção Civil, Guido Bertolaso, veio já depois da catástrofe garantir que os terramotos são imprevisíveis. Giuliani mantém a versão contrária: sim, são previsíveis, e ele é prova disso. O que sucedeu, então? Faz sentido reduzir o episódio a um jogo de adivinhas? Tanto o comité como Giuliani arriscaram às cegas uma hipótese e, para azar de L'Aquila e dos seus habitantes, só o último venceu?
A verdade é que os políticos não gostam de cenários incómodos. Nova Orleães, por exemplo, foi vítima de uma incúria calculada, para a qual havia já inúmeros avisos antes de rebentarem os diques. L'Aquila, terra já varrida por vários terramotos, devia ter, se não previsto, pelo menos acautelado a proximidade deste. Só não o fez porque os poderes locais o não quiseram: mesmo refreando o pânico, era possível e desejável manter o estado de alerta enquanto se mantivessem os sinais que Giuliani detectou e que todos os outros ignoraram.
A situação é antiga e foi, aliás, caricaturada num dos grandes filmes americanos dos anos 70: Tubarão, de Spielberg. Quando o chefe da polícia tenta convencer o mayor de que há um tubarão muito perigoso na costa, este responde-lhe: "Martin, é tudo psicológico. Se você grita 'barracuda', toda a gente diz: 'Hã? O quê?'. Se você grita 'tubarão', temos nas mãos um pânico generalizado neste dia 4 de Julho". O resto conhece-se. O tubarão de Spielberg semeou a morte na praia de turistas indefesos, tal como o terramoto arrasou L'Aquila com milhares de habitantes tranquilizados. O poder, na sede de manter sob controlo o que está ao seu alcance, ignorando tudo o que lhe é incómodo, comete crimes destes. E volta a mentir, na hora de prestar contas.» [Público assinantes]
Parecer:
Por Nuno Pacheco.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
ANF RECUA
«A Associação Nacional de Farmácias (ANF) anunciou esta quarta-feira a suspensão da campanha de substituição de medicamentos de marca por genéricos mais baratos sem autorização do médico.
Contudo, os doentes vão continuar a ser informados do valor que poupariam se esta substituição fosse feita, informou o presidente da ANF, João Cordeiro, em conferência de imprensa.
A ANF justificou a suspensão com o facto de que sem o apoio do Ministério da Saúde as farmácias não têm a capacidade financeira para procederem à substituição dos medicamentos de marca por genéricos mais baratos.» [Correio da Manhã]
Parecer:
Se a ANF está preocupada com a situação económica de muitos doentes tem duas soluções, propor a liberalização no acesso à instalação de farmácias e reduzir as margens de lucro na comercialização de medicamentos.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Façam-se as propostas à ANF.»
PS APOIARÁ BARROSO MESMO QUE PSE VENÇA
«Segunda-feira à noite, o cabeça de lista do PS às eleições europeias, o constitucionalista Vital Moreira, defendeu que o próximo presidente da Comissão Europeia deverá ser um socialista se o PSE vencer as próximas eleições para o Parlamento Europeu.
Em declarações aos jornalistas no final do debate quinzenal na Assembleia da República, José Sócrates frisou que a posição oficial do Governo e do PS é a de apoiar a recandidatura de Durão Barroso ao lugar de presidente da Comissão Europeia em qualquer cenário.» [Diário de Notícias]
Parecer:
É a hora do cinismo.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Apoie-se Barroso em público e outro candidato em privado, como fez o próprio Barroso para chegar a presidente da Comissão.»
TRABALHAORES DA QUIMONDA DESILUDIDOS COM PROPOSTA DE EMPRESÁRIO
«Os trabalhadores da Qimonda estão "desiludidos" com a proposta que o empresário Paulo Tomás apresentou, esta manhã, tendo em vista a aquisição da unidade de Vila do Conde.
"Foram-nos apresentadas ideias vagas", frisou Jorge Sousa, um dos elementos da Comissão Instaladora dos trabalhadores, ao mesmo tempo que se disse "desiludido", porque o projecto "não está sustentado nem tecnicamente nem financeiramente". » [Jornal de Notícias]
Parecer:
Este empresário lembra-me um outro que queria patrocinar o Boavista, ninguém sabe o que quer, quem é e muito menos quanto dinheiro tem.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para se ver»
BERLUSCONI NO SEU MELHOR
«Para Sílvio Berlusconi, os desalojados pelo sismo em Itália enfrentam estes dias como «um acampamento de fim-de-semana». A declaração do primeiro-ministro italiano foi proferida ao canal alemão N-TV, num comentário às condições de auxílio às vítimas.
«Eles têm tudo o que precisam. Têm apoio medico, comida quente... Claro que o local onde estão é temporário, mas deviam encarar a situação como uma fim-de-semana de campismo», referiu, em entrevista. » [Portugal Diário]
Parecer:
Como é que os italianos escolheram esta besta-quadrada?
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Reflicta-se sobre o assunto pois um dia destes os portugueses ainda vão escolher um igual ou pior, se é que já não tiveram um ainda que não tivesse sido eleito.»
MANIFESTANTES TIBETANOS CONDENADOS À MORTE
«Duas pessoas que participaram nos motins em Lhassa, a capital do Tibete, em Março do ano passado, foram hoje condenadas à morte, noticiou a agência Xinhua, dando conta daquelas que são as primeiras penas capitais aplicadas por envolvimento naquelas manifestações.
Outros dois acusados foram também condenados à morte, mas a pena será suspensa por dois anos – um procedimento que habitualmente resulta na comutação da pena em prisão perpétua. Um quinto arguido foi condenado a prisão perpétua, acrescentou a Xinhua, citando um porta-voz do tribunal de Lhassa.» [Público]
Parecer:
A acusação de homicídio é uma forma esfarrapada de negar o direito à manifestação.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento a Jerónimo de Sousa, o representante local da repressão chinesa no Tibete.»
PARA A FENPROF A "UNIDADE DOS PROFESSORES" ESTÁ ACIMA DA TRANSPARÊNCIA
«A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) considera que o acesso por qualquer pessoa a documentos da avaliação de desempenho pode trazer transparência ao processo, mas ao mesmo tempo agravar o clima de conflitualidade entre docentes nas escolas.
Segundo um parecer da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), a que a Agência Lusa teve hoje acesso, o processo de avaliação do desempenho dos professores pode ser consultado por qualquer pessoa, desde que não contenha informação da reserva da intimidade do docente. » [Público assinantes]
Parecer:
Isto só merece uma gargalhada.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a competente gargalhada.»
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