quinta-feira, janeiro 28, 2010

Belmiro de Azevedo falou

E falou da forma a que já nos habituou, pensando que por ser um empresário rico tem uma quota no país muito superior à de qualquer cidadão, com arrogância e alguma falta de educação. Falou com o pressuposto de que o seu sucesso empresarial o habilita a falar de cima para baixo para um país de falhados, como se ele fosse portador do segredo da competência.

Só que um país não é gerido como uma empresa, os cidadãos não são as meninas da caixa que ganham miseravelmente. O país não enriquece com heranças problemáticas, não cresce com negócios de oportunidade da banca, nem duplica a sua riqueza com negócios fáceis como aquele que tentou fazer na PT. O país enriquece com criação de riqueza e não com mais-valias, não podemos comprar a Andaluzia com o dinheiro do Santander para a vender mais tarde, com o turismo em alta, ninguém nos vende a Catalunha a preço de Saldo como se fosse o Banco Português do Atlântico, para depois a vendermos por dez vezes mais sem ter investido um tostão. Portugal não pode transferir a Administração Pública para a Burundi para poupar nas despesas com os funcionários, como os empresários como Belmiro que se mudaram para a Holanda para evitar pagar impostos no país onde criaram a riqueza e, pior ainda, quando sofrem prejuízos no estrangeiro transferem-nos para Portugal, beneficiando de reduções de impostos. Nenhum país do mundo multiplicou a riqueza inicial ao ritmo que fez Belmiro de Azevedo.

Se o país quiser crescer terá de produzir muito mais e isso só é possível criando mais valor acrescentado, isto é, produzir com mais saber e tecnologia. É um pouco diferente de aumentar as vendas do Continente indo à China comprar produtos baratos para os vender como marcas brancas. Se Belmiro quer ensinar o país a enriquecer que nos diga quanto gasta a SONAE em investigação, quantos novos produtos foram desenvolvidos e colocados no mercado pelo seu grupo empresarial. Isso sim que Belmiro nos devia dizer, não podemos transformar Portugal num hiper da Europa e transformar todos os portugueses em meninas da caixa e repositores, para isso já bastam os licenciados em que o país investiu para andarem a arrumar as prateleiras dos hipermercados de Belmiro de Azevedo, a troca de meia dúzia de euros.

Belmiro gosta de dar ares de não depender da política e de se estar nas tintas para os políticos, até faz questão de mostra desprezo por eles, usando do mesmo populismo primário que criticou em Francisco Louçã, na verdade Belmiro de Azevedo, pelas soluções fáceis que apresenta, não passa de um Francisco Louçã de direita. Mas não é verdade que Belmiro despreze assim os políticos, um dos seus braços direitos é um conhecido gestor da alta finança que também é braço direito de Manuela Ferreira Leite, nas suas iniciativas de lazer, como o “Espírito do Douro” comaprece uma boa parte do PSD do cavaquismo.

Se o novo aeroporto fosse nas imediações de Tróia e o governo tivesse ajudado Belmiro de Azevedo a comprar a PT ao preço da uva mijona o patrão da SONAE falaria tão mal da classe política? Duvido. A verdade é que até ao negócio da PT falhar o líder da SONAE esteve calado e o Público, um jornal que funciona como se fosse o seu blogue pessoal, não se cansou de elogiar todas as políticas, reformas e ministros de Sócrates, dia sim dia não o editorial do Público bajulava José Sócrates, depois foi o que se viu. A verdade é que nos tempos da botanada de Tróia Belmiro de Azevedo não estava preocupado com o traçado do TGV, só agora é que parece achar que o TGV deveria ser como o antigo comboio correio e passar por todas as cidades e empreendimentos importantes, aliás, imagino que o traçado ideal deveria contemplar uma estação que servisse o seu empreendimento de Tróia