Em vez de promover a estabilidade política a pensar no desenvolvimento do país, Cavaco Silva tem gerido a crise política a pensar na sua própria imagem, os momentos mais difíceis tiveram-no como protagonista. EM vez de apoiar o governo, a tal cooperação estratégica de que tanto fala, optou por fazer aproximações quando as políticas são bem vistas pelos eleitores e por se ausentar quando essas mesmas políticas sofrem oposição.
Mais do que um Presidente de todos os portugueses Cavaco Silva é um presidente da direita, em vez de ter em consideração os sentimentos maioritários dos portugueses tem optado por impor os seus próprios valores. Mais do que um Presidente da República Cavaco tem vestido o papel de candidato a Presidente da República, tem exercido o cargo mais a pensar na sua recandidatura do que no país.
Assim, à instabilidade resultante da oposição feroz dos grupos corporativos a qualquer reforma que ponha em causa os seus interesses e, mais recentemente, à formação de um governo sem maioria absoluta, junta-se a instabilidade resultante da transformação da Presidência da República num protagonista político que intervém neste contexto em função das sondagens partidárias e das próximas presidenciais.
Pôr termo a uma Presidência da República que é só de alguns é o maior desafio que se coloca aos candidatos às próximas eleições presidenciais, os candidatos a Presidente da República devem ser capazes de provar que serão presidentes de todos os portugueses. De nada serve substituir uma crise gerida em função dos objectivos políticos de Cavaco Silva, por uma crise política gerida em função dos interesses de qualquer outro presidente.
É por entender que o Presidente deve estar acima dos objectivos partidários e presidir para todos os portugueses que tenho dúvidas quanto a uma candidatura de Manuel Alegre, basta ouvir o argumentos usados por Francisco Louçã para o apoiar para recear que uma Presidência da República de Manuel Alegre possa vir a transformar-se num chavismo soft com Louçã como mentor ideológico.
Tenho muitas dúvidas quanto à candidatura de alguém que se impôs com ameaças de divisão dos seu próprio partido, que recorreu aos argumentos mais populistas para ganhar protagonismo político na oposição ao governo do seu partido, que nos momentos difíceis optou pelo silêncio. Corre-se um sério risco de a intriga promovida pelos assessores de Cavaco escolhidos no PSD dê lugar a um ciclo presidencial em que a intriga passa a estar a cargo da extrema esquerda.
É tempo de o país fazer uma rotura com a tralha utópica herdada do 25 de Abril e dar a vez às novas gerações, a Presidência da República é um cargo com importância demais para ser considerado um prémio de carreira ou uma reforma.
O país precisa de uma Presidência da República que projecte o futuro e não uma Presidência que vive no passado.