Se Francisco Louçã quisesse ver Manuel Alegre ser eleito Presidente da República não teria apoiado de forma precoce e oportunista a sua candidatura. A verdade é que Louçã não pretende servir Alegre, o que o líder do Bloco de Esquerda pretende mesmo é servir-se de Manuel Alegre, o que tem feito com maestria ainda que com a anuência do até há poucos meses dissidente do PS.
Louçã que durante a campanha para as legislativas pôs algumas condições para apoiar a candidatura de Alegre, nem esperou que fosse apresentada formalmente a candidatura para e antecipar a tudo e a todos para apoiar formalmente uma candidatura que não existe. Curiosamente, aproveitou-se da candidatura de Alegre para chamar a si o protagonismo numa semana em que ocorriam negociações em torno de um orçamento de que se marcou a troco de meio minuto de televisão.
Manuel Alegre não mudou muito nas últimas décadas e muito menos nos últimos anos, pelo que Francisco Louçã deveria e explicar aos portugueses o que viu agora em Alegre que não viu há quatro anos quando se candidatou a Presidente da República contra a candidatura de Manuel Alegre.É evidente que Louçã percebeu que apoiando Alegre evitava despesas e coseguia mais tempo de antena, além disso poupa-se a uma derrota humilhante.
Louçã sabe muito bem que o seu apoio vale muitos votos, os eleitores do Bloco de Esquerda são muito menos “obedientes” do que os do PCP, ao contrário do PCP onde os simpatizantes correspondem quase aos eleitores, com o BE não há qualquer relação entre uns e outros. Se apoio de Louçã poderá significar dois ou três por cento dos votos favoráveis pode, muito provavelmente, significar a derrota antecipada da candidatura de Manuel Alegre. Não sei se Manuel Alegre telefonou a Louçã para lhe agradecer o apoio, mas quem o deveria ter feito era Cavaco Silva, o candidato da direita vai receber mais votos com esse apoio, tem tudo a ganhar com um Alegre que durante meses se vai apresentar como o candidato apoiado pela extrema-esquerda.
É evidente que Louçã saber fazer estas contas, só que lhe é indiferente se o próximo Presidente da República é Cavaco ou Alegre. Francisco Louçã apenas quer que o PS se divida e o seu apoio apenas tem esse objectivo, se tivesse ocorrido nos últimos dias da campanha eleitoral isso não sucederia, mas assim a extrema-esquerda não se poderia servir para se credibilizar junto do eleitorado do PS. Além disso, Louçã sabe que se Alegre vencesse faria as pazes com o PS e seria marginalizado, por isso aposta tudo numa derrota de Manuel Alegre, sabendo que uma boa parte dos militantes e eleitores do PS não votarão Alegre espera que o candidato fique zangado com o seu partido e prossiga a vingança contra o seu próprio partido porque este não o escolheu para líder, um partido que não ajudou a fundar e à boleia do qual fez carreira.
Da mesma forma que Louçã sabe muito bem o que está fazendo seria de esperar que há muito que Manuel Alegre deveria ter percebido que as aproximações de Francisco Louçã apenas visou dar-lhe a sensação de que estaria a unir a esquerda, estimulando-a a prosseguir o trabalho de divisão do PS. O problema é que Alegre não parece ser tão dotado quanto Louçã e não percebeu aquilo que quase toda a gente percebeu.