O défice ficou-se quase pelos dez por cento, os funcionários públicos vão devolver parte do que receberam em ano eleitoral, os que não pagam impostos continuarão a não pagar, os que pagam continuarão a pagar, os carros vão ficar mais caros, nada de novo a leste do orçamento.
Ler o projecto de leio do orçamento é o frete, são centenas de artigos alterados, milhares de linhas em branco, alterações e pedidos de alterações legislativas, truques disfarçados no meio da linguagem cifrada. Mais défice menos défice o resultado é o do sempre, a não ser que se esteja em ano eleitoral, aumenta a despesa, aumentam os impostos, aumenta a dívida, diminuem os salários e penalizam-se os candidatos a pensionistas.
Agora o ministro das Finanças já pode piscar o olho para as empresas de rating porque, afinal de contas, foi para elas que o orçamento foi feito, os representantes do povo votaram a favor ou abstiveram-se de forma obediente, só faltou terem convidado os obscuros representantes locais das empresas de rating, a versão mais recente do “homem do fraque”, para as galerias do parlamento.
Dantes a austeridade era decidida em nome de acordos com o FMI, agora é feita para agradar às agências de rating, num dia aprova-se o orçamento, no outro vai ler-se o Financial Times ao para ver a que cheiram os arrotos dos senhores do rating. Agora os representantes do povo comportam-se como cniches obedientes a lamber os senhores do rating, os mesmos que ajudaram a virar o mundo de pernas para o ar com a crise financeira. Até o Presidente da República vai reunir o Conselho de Estado só para dar graxa às agências de rating.
Enfim, para o ano há mais do mesmo, austeridade, redução dos salários reais, aumento do imposto automóvel e aumentos encapotados dos restantes impostos, aumento da idade da reforma e, pelo meio de artigos incompreensíveis, algumas benesses orçamentais para os amigos, ou um qualquer truque para os ex-secretários de Estado dos Assuntos Fiscais ganharem algum à custa da bandalhice fiscal.