quinta-feira, janeiro 14, 2010

Casa onde não há pão...


Se alguém mais distraído ou desconhecedor deste país assistir aos debates políticos deste país chega à conclusão de que o problema de Portugal é excesso de riqueza e as suas elites nem sabem o que fazer a tanto dinheiro.

Diz-se por aí que estamos endividados, que importamos muito mais do que produzimos, que o défice orçamental consome uma boa parte das hipóteses de retoma do crescimento económico, que é preciso reduzir a despesa pública e controlar o endividamento. Mas na hora do debate político o discurso muda, cada um pede o que pode.

Os militares querem mais submarinos, as elites culturais exigem um aumento do investimento público na cultura, os magistrados querem salas de audiências sejam luxuosas para que dignifiquem o seu estatuto, os sindicalistas exigem jackpots salariais, os professores querem horas extraordinários por tudo o que sejam obrigados a fazer fora das aulas, as PME querem menos impostos, as universidades exigem mais despesa na investigação, não há político nem grupo profissional que não exija mais despesa em nome da eficácia ou de bons princípios.

Os próprios políticos em quem delegamos o poder de governar só conseguem ter imaginação para aumentar a despesa ou reduzir as receitas, quando propõem uma redução dos impostos aplicados às PME avançam logo com um milagroso aumento de impostos sobre outros para assegurar que o défice não aumenta.

Até parece que o problema do país está apenas no que o Estado gasta ou na forma como se gasta. Mas não é verdade, o problema do país está na criação de riqueza e na forma como todos os grupos com capacidade de fazer pressão ou com recursos para manipularem a opinião dos eleitores para conseguirem uma maior parte na abusiva partilha da pouca riqueza que o país cria.

Enquanto os líderes dos países mais ricos discutem soluções para aumentarem a riqueza e só depois discutem a sua distribuição, por cá ninguém quer saber da criação de riqueza. Daí que muito boa gente chegue à brilhante conclusão de que a culpa é dos gestores ou dos políticos, dos gestores porque gerem mal e dos políticos porque são os malandros, todos os outros, o “nós” português, somos uns santos, damos o litro pelo país e não vemos resultados, tudo por causa daqueles malandros.

O resultado é aquele que há muito a sabedoria popular no ensinou, casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. Queremos um Estado tão bom como os dos países ricos mas sem pagar impostos, queremos um bom ensino sem nos preocuparmos se os filhos estão a estudar ou na consola, queremos boas escolas sem exigir muito dos professores, queremos submarinos sem grandes batalhas navais, queremos tudo e mais alguma coisa e, se possível, uma praia na Messejana e ainda um par de bota, queremos o milagre de ser ricos sem termos de criar riqueza, como se ainda houvessem escravos para negociar ou o ouro do Brasil para explorar.

O resultado é aquele que há muito a sabedoria popular nos ensinou, em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão.