Para o conseguir não bastou a Louçã adoptar a estratégia manhosa que caracteriza a sua postura na política, contou com a ajuda de Manuel Alegre, percebeu a frustração do eterno pré-candidato às presidenciais e fez o jogo da unidade de esquerda por este promovida. Percebeu que a estratégia de vingança de Manuel Alegre resultaria na divisão do eleitorado do PS, o seu grande objectivo político.
Para melhor percebermos o objectivo deste compagnon de route de Manuel Alegre vale a pena reler o que afirmou numa entrevista que deu ao Público no passado dia 1 de Dezembro de 2009:
«Como é que se forma essa maioria sem o PS?
Com uma recomposição que atravesse todo o espaço da política portuguesa.Isso implica uma cisão do PS ou uma transformação do PS.
Implica uma reconfiguração, certamente com uma clarificação contra as políticas passadistas e conservadoras que têm vindo a acentuar a crise. Já existiram diálogos, como aconteceu com Manuel Alegre. É a partir desse trabalho de diálogo que se encontrarão pessoas que fazem parte de todas as cores da política e das alternativas políticas à esquerda.
Essa reconfiguração passa também pela mudança do líder do PS?
O PS fará o que quiser. A esquerda precisa sobretudo de ter uma força para ter maioria. Essa força não é o PS.»
É evidente que o grande objectivo político de Francisco Louçã, o que se compreende perfeitamente num líder da extrema esquerda, é dividir o PS ao ponto de formar uma maioria em que apenas tenham lugar militantes desavindos deste partido. Por outras palavras, dividir e destruir o PS para viabilizar o seu projecto político que mais não é do que um chavismo intelectualmente aceitável.
A sua vontade de ver uma candidatura de Manuel Alegre a dividir o PS levou a esquecer o que disse nessa mesma entrevista:
« O que eu disse foi que se houver uma candidatura como a de Manuel Alegre, que contribua para uma clarificação política e para a rejeição destas estratégias que têm conduzido à crise económica e à desorientação social, então certamente que ela terá uma força extraordinária.»
Francisco Louçã nem esperou pela apresentação formal da candidatura e muito menos pelo seu programa, aproveitou-se da manifestação de disponibilidade do candidato para tomar o lugar de primeiro apoiante, o que vem de encontro, agora sim, ao que disse na referida entrevista:
«Pelo contrário, dou-lhes a maior importância porque vamos ter um Governo de maioria relativa, qualquer que ele seja, e vamos ter dificuldades sociais e económicas que vão prolongar-se nos próximos anos, com uma grande transformação política em curso. A campanha presidencial vai ser das mais clarificadoras na política portuguesa.»
Isto é, Louçã apoia uma candidatura de Manuel Alegre porque vê nele um apoiante das suas políticas por oposição a um governo com que se recusa a negociar.
Mesmo sem ter Louçã como seu mentor a candidatura de Manuel Alegre iria dividir o eleitorado do PS, os que deixaram de votar neste partido até poderão simpatizar com o poeta e a sua procissão de apoiantes, mas os que insistiram em votar no PS não se esquecem de tudo quanto Manuel Alegre fez para derrotar o PS e favorecer eleitoralmente o Bloco de Esquerda. Com Alegre a servir de bandeira do projecto político da extrema esquerda a divisão do eleitorado do PS e a vitória de Cavaco Silva é quase inevitável.
Louçã já venceu as presidenciais, Alegre ainda nem é candidato e já conseguiu o que há muito é o maior desejo do BE, dividir o PS e contribuir para uma vitória da direita a médio prazo. É o PS que está entre ele e as suas ambições políticas. Ele sabe que com o apoio da extrema esquerda o poeta não passará da versão 2010 de Otelo Saraiva de Carvalho, será derrotado nas presidenciais, proporcionando a Cavaco Silva uma vitória que se avizinhava difícil, senão mesmo impossível.
Louçã ficará feliz pois abre espaço ao crescimento do BE e Manuel Alegre sentir-se-á vingado das derrotas que sofre nas directas do PS e nas presidenciais.