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Durante anos o debate político foi dominado pela crítica do PSD às “SCUTS”, agora que o governo pretende introduzir portagens numa auto-estrada e apesar das críticas a toda e qualquer obra pública com o argumento da dívida pública fez-se silêncio.
Este é um exemplo da falta de seriedade com que os problemas da sociedade são discutidos. Outro bom exemplo está a ser dado na questão do casamento de pessoas do mesmo sexo onde o PSD começa por não fazer propostas, em cima da votação propõe uma espécie de casamento e acaba preocupado com a discriminação dos homossexuais por lhes ficar vedada a adopção. Ainda há alguns meses opuseram-se a alterações no estatuto das uniões de facto com o argumento de que se estava a tornar numa espécie de casamento, agora já se preocuparam e pretenderam dar às uniões homossexuais o que recusaram às uniões de facto, deixaram de se preocupar com o exclusivo dos direitos decorrentes do casamento. Perante a causa perdida estão agora preocupados porque os homossexuais podem casar-se mas não podem adoptar…
Outro bom exemplo da seriedade no debate é-nos dado por Cavaco Silva que, por acaso, até (mas não parece) Presidente da República. Há uns meses entrou na discussão da construção do novo aeroporto mas nunca defendeu que o país não dispunha das condições financeiras para o construir, promoveu uns estudos para “ajudar” a mudar a localização. Apesar de num ano ou pouco mais não ter acontecido nenhum cataclismo nas contas públicas Cavaco Silva anda muito preocupado com a dívida pública. Ora, a situação não é nova e só não é pior porque a dívida foi substancialmente reduzida durante os governos de António Guterres a fim de se verificarem as condições impostas para se aderir ao euro. Cavaco não só esqueceu dos números do tempo em que era primeiro-ministro, como só reparou na dívida de um dia para o outro.
Em Portugal o mundo da política é ainda menos sério do que o do futebol, nenhuma das verdades de hoje sê-lo-á amanhã, fazem-se grandes debates, o Presidente promove grandes roteiros, mas meses depois o que tanto os preocupava deixa de ser preocupação, lançando-se novas preocupações. Talvez por isso mesmo Cavaco Silva ande sempre preocupado, cada intervenção pública que faz é para declarar que está preocupado com qualquer coisa, aliás, a crise política tem andado ao ritmo das suas preocupações. Já se preocupou com a exclusão social, já se preocupou com supostas escutas a Belém, já se preocupou com o desemprego, já se preocupou com a localização do aeroporto, já se preocupou com o estatuto da família.
O país está a deixar de discutir os seus problemas para passar a andar preocupado com as preocupações de Cavaco Silva. O problema é que muitas destas preocupações ou cheiram a falso (como as preocupações com o processo Freeport) ou são motivadas pela falta de honestidade política das lideranças do PSD, como foi o caso do novo aeroporto de Lisboa.