sexta-feira, janeiro 29, 2010

Para a semana serei de direita

Quando Manuel Alegre diz que quer unir a esquerda (agora já não o dirá tão cedo), quando Louçâ se arma em cardeal patriarca da esquerda urbana, quando Jerónimo de Sousa parece ser o chefe de uma repartição encarregada de emitir certificados de ser de esquerda ou quando Sócrates assalta-me a dúvida sobre o que será ser de esquerda. Será a preocupação com os pobres? Não deve ser, os regimes políticos defendidos por alguns dos barões da esquerda geraram pobres com fartura, alguns deles como os da Coreia do Norte ainda passam fome. Além disso os voluntários de muitas ONG preocupam-se com os pobres, até fazem mais do que eles do que alguns dos nossos deputados de esquerda que se limitam a criar calos do traseiro e são de direita. Será defender mais Estado? Se assim fosse a nossa direita seria de esquerda, é tão intervencionista como a esquerda.

Acho que sou de esquerda, mas da mesma forma que sou do Benfica também não sei muito bem porque sou de esquerda. Talvez por causa dos valores, mas o facto é que partilho esses valores com muita gente que diz ser de direita, enfim, talvez quem mos transmitiu me tenha influenciado no sentido de os considerar de esquerda.

Mas quando olho à minha volta e vejo o que vai pela esquerda quase me apetece ser de direita, o problema é que quando olhos aos que pululam na direita mudo logo de ideias, para pior basta assim, parece que à direita e à esquerda estão a fazer um concurso de idiotas, em vez de ideologias parece que seguem “ideotologias”.

À direita a “ideotologia” assenta no princípio de que há uma ordem natural das coisas, complementada com os princípios da Santa Madre Igreja tudo deve ficar como está, ser pobre é uma determinação divina ou consequência da falta de capacidade ou de vontade de dobrar a espinha, em contrapartida o pobre tem como certo que dele será o reino dos céus. À esquerda temos uma “ideteologia” que muitos consideram científica, acreditam em Marx e estão certos de que mais dia menos dia o materialismo dialético transformará o capitalismo em comunismo e graças ao vanguardimos de um operário metalúrgico até o Ricardo Salgado se converterá Às determinações da ciência e apresentar-se-á como voluntário numa cooperativa agrícola do Alentejo. A direita quer que tudo fique como está, a esquerda quer que tudo mude, nem que para isso tenha de dar umas castanhadas, já que a ciência conclui que o capitalismo dará lugar ao paraíso socialista então porque não acelerar a coisa?

A grande diferença é que enquanto só há uma direita, na esquerda a biodiversidade é bem maior, há de tudo, em comum têm o facto de interpretarem a tal ciência à sua maneira, alguns até são um pouco empíricos pois vão fazendo experiências sucessivas, começaram no PCP, mudaram para a UDP e hoje são do BE ou do PS, outras foram mesmo para o PSD para dizerem que são de esquerda, deve ter sido uma consequência das alterações climáticas na Marmeleira.

Esta é uma das fases em que estou farto de ser de esquerda, estou com vontade de dizer uns desabafos que na esquerda de outros tempos daria direito a um longo processo de reeducação, o equivalente a uma desinfecção em álcool, uns tempos a trabalhar junto dos mais pobres, os tais que de tão pobres e explorados são os portadores da pureza ideológica.

Ficam avisados, para a semana serei de direita, se quiserem meto uma bolinha vermelha lá em cima para que os meus amigos da esquerda não me visitem por engano. Durante cinco dias os posts não serão recomendáveis para os portadores de verdades científicas.