quarta-feira, janeiro 27, 2010

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Bairro da Bica, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Olivier Laban-Mattei/Agence France-Presse/Getty Images]

«LOCKED UP: A man looked out of an isolation cell at a psychiatric facility in Port-au-Prince, Haiti, Monday.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

Teixeira dos Santos, ministro das Finanças

Portugal vai ter um incentivo fiscal original, será entregue aos primeiros cinco mil portugueses que comprarem um carro movido a energia elétrica, está, portanto, aberta a corrida a este tipo de viaturas, é como se fossem os saldos do Harrods, quem chegar primeiro safa-se. Quem tem o dinheiro safa-se, quem não tiver dinheiro e conseguir um crédito bancário terá de pagar juros mas ainda fica com o carro, quem ainda não dinheiro e não merecer a confiança do gerente do banco terá de desistir e roer-se de ciúmes a ver os outros a andar de carrinho eléctrico.

Não me admiraria se no próximo orçamento o ministro Teixeira dos Santo introduzir um novo tipo de benefícios fiscais, distribuídos por sorteio. O governo poderia por exemplo vender rifas de incentivos fiscais, sorteá-los aos compradores de detergente Skip ou sorteá-los em simultâneo com os jogos da Santa Casa.

Depois de abandonar o lugar Teixeira dos Santos terá lugar certo na MAKRO, por lá costumam fazer este tipo de promoções, com preços imbatíveis para os primeiros clientes a chegarem às loja.

PEDRO PASSOS COELHO, O JOVIAL BOM RAPAZ

«Pedro Passos Coelho já não é um miúdo, mas mantém, apesar dos 45 anos, um jovial aspecto de bom rapaz. Como ser bom rapaz é maneira garantida de ser, em política, perdedor, nunca encarei a hipótese de este Pedro vir um dia a governar Portugal. Por isso, nunca liguei muito ao que dizia o homem que não se importa de ser apresentado na Wikipédia como "um dos braços direitos do engenheiro Ângelo Correia".

Mas isto de ver caras corresponde a não ver corações e, afinal, o eterno jovem arrisca-se a ser líder do PSD e, a partir daí, a correr para derrubar Sócrates e o PS. Há dias lançou um livro, intitulado "Mudar", onde explana o seu pensamento político.

Resolvi tentar saber o que vai por ali. Mas como também me custa dar 15 euros por um texto certamente maçador, resolvi ir ao site passoscoelho-mudar.com e ver, gratuitamente, as 18 páginas que lá estão.

A primeira frase que pude ler foi esta: "Nós, portugueses, como acontece certamente com todos os outros povos, nunca estaremos conjuntamente de acordo quanto ao conteúdo das políticas que devemos prosseguir." Esta evidência está ao nível do "se não estivesse morto, estaria vivo" que celebrizou o marechal La Palice. Belo!» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Pedro Tadeu.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

SERVIÇO PÚBLICO: AQUI TRADUZ-SE

«Em 2007, a empresa britânica Today Translations, depois de ouvir mil tradutores, fez a lista das dez palavras do mundo mais difíceis de traduzir. Ontem, Sá Pinto deu uma conferência de Imprensa com a sua versão da cena de murros com Liedson. Ele disse que foi cordato até o jogador insistir no erro. Eu recorro à lista da Today Translation para tentar traduzir-vos o que ouvi em directo pelas televisões. Essencialmente, Sá Pinto apresentou-se como um ilunga (da língua tshiluba, do sudoeste da República Democrática do Congo, a 1.ª palavra da tal lista). Ilunga: pessoa que está disposta a perdoar tudo à primeira vez, tolera o mesmo pela segunda, mas nunca pela terceira. Foi chato que tivesse acontecido com Sá Pinto, já com um historial de murros: em 2.º lugar da lista, vem shlimazl, do ídiche, pessoa cronicamente azarada. Sá Pinto lamenta muito: lembrei-me da 5.ª palavra, altahmam (árabe), um tipo de tristeza profunda. Isto tudo pode lançar o Sporting por maus caminhos (10.ª, klloshar, do albanês: perdedor). No fim, Sá Pinto foi-se embora sem responder aos pochemuchkas da sala. Pochemuchka (russo), 9.ª da lista: pessoa que faz perguntas demais. Por mim fiquei com saudade (português), 7.ª: coisa que me dá daquele tempo em que o futebol era com bola.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

JUSTIÇA NO YOUTUBE

«Depois, o sistema de justiça foi ficando cada vez mais poroso e começámos a ter citações de peças processuais. Mas a tendência era imparável e logo se seguiram as transcrições integrais de escutas. Tudo se passou muito depressa. Pelo caminho, notável coincidência, enquanto os representantes corporativos dos operadores do sistema iam ganhando crescente protagonismo mediático, juízes e magistrados do ministério público, que tradicionalmente estavam entre os profissionais em quem os portugueses mais confiavam, passaram a comparar mal com políticos em estudos de opinião. Na semana passada foi dada mais uma estocada no já frágil prestígio da justiça em Portugal: o áudio de escutas do processo "apito dourado" foi reproduzido integralmente no YouTube.» [Diário Económico]

Parecer:

Por Pedro Adão e Silva.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

É O FÁRMACO A FALAR

«A boa notícia vinha no PÚBLICO de sábado: o Infarmed recomenda que as farmácias deixem de vender medicamentos que contêm sibutramina. O mais conhecido é o Reductil, que, para além de nos tirar o apetite, dá um spide desagradável e torna-nos insuportáveis.

É pena falar-se pouco dos efeitos dos medicamentos sobre as pessoas que têm de gramar quem os tomou. O Reductil é mau para a saúde de quem toma, mas também é mau para o bem-estar dos não-tomadores. Nos dois últimos anos, venderam-se em Portugal 15 milhões de euros destas embalagens de sibutramina. Fica bem às farmácias prescindirem desse lucro. Livra-nos de uma tentação perigosa. Mas também traz alívio às populações.

Se calhar, era boa ideia cada um de nós trazer ao peito um pequeno autocolante no qual constassem os fármacos que estamos a tomar. Poderiam ser impressos com as palavras: "Tenha paciência. Estou a tomar...." Depois, cada um de nós preenchia à mão o nome dos medicamentos. Poupar-se-iam muitas cenas de conflito e má-educação. A pessoa que nos parece propositadamente morosa pode apenas estar a tomar Xanax. Em vez de nos zangarmo com ela, teríamos pena dela e, se calhar, mudávamos para outra bicha.

Têm sido terríveis, por exemplo, os confrontos entre a população stressada pelo Reductil e a população apaziguada pelo Xanax. A primeira quer tudo depressa e nada a satisfaz. A segunda não quer absolutamente nada e faz tudo devagar. Vai uma pedra contra a outra - e faz faísca.» [Público]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

MANUEL ALEGRE

«Embora Manual Alegre tenha avançado para a sua candidatura presidencial sem nenhuma concertação com o PS e ela não seja propriamente entusiasmante para o partido, não resta a este grande margem para uma recusa de apoio ao seu desavindo militante, muito menos para o lançamento de uma candidatura alternativa. Todavia, dificilmente o PS pode oferecer-lhe um apoio incondicional, tal a distância que existe entre ambos.

Se há cinco anos Alegre se apresentou contra o candidato oficial do seu partido (Mário Soares), desta vez antecipou-se, retirando espaço de manobra ao PS. Agora seria Sócrates a assumir a responsabilidade de fracionar o partido e de dividir a sua base de apoio. Para além de falta de uma alternativa credível e disponível, as atuais condições políticas não favorecem tal aventura. Governando em minoria e sob pressão do Presidente da República - que não lhe tem facilitado a vida (para dizer o menos...) -, o PS não pode dar-se ao luxo de se cindir internamente no confronto presidencial com Cavaco Silva. Embora as hipóteses de vencer Cavaco sejam reduzidas - até agora nenhum Presidente da República deixou de ser reeleito -, a verdade é que o PS não pode deixar de ir à luta, nem entregar antecipadamente os pontos.

Quer isto dizer que o PS se tem de render sem condições ao avanço unilateral de Manuel Alegre? Não é provável, nem compreensível, que o faça. Muito menos que o faça precipitadamente.

Mesmo que não estivessem ainda vivas as dificuldades que Alegre criou ao Governo socialista na passada legislatura, parece fácil antecipar que o PS só pode apoiar convictamente a candidatura mediante um compromisso daquele no sentido de atenuar os principais fatores da sua separação política e ideológica em relação ao partido. Entre eles contam-se o seu óbvio "gaullismo" presidencial (que leva consigo o risco de uma inaceitável deriva presidencialista, que o PS sempre combateu), a sua hostilidade contra o aprofundamento da integração europeia (que as suas críticas ao Tratado de Lisboa e ao mercado interno europeu revelaram), a sua oposição à modernização social-democrata da teoria e da prática política do PS (que o levou a uma afinidade eletiva com a esquerda radical no combate ao Governo socialista na passada legislatura) e as ideias de frentismo de esquerda, que fazem pouco sentido entre um PS social-democrata e o radicalismo protestatário do PCP e do BE.

Ainda que o apoio a uma candidatura presidencial não suponha nem requeira um alinhamento total com o candidato, um partido responsável não pode abdicar de red lines nesta matéria, sob pena de oportunismo, para mais tratando-se de um militante seu, que compromete mais o partido do que um candidato independente. O PS não pode prestar apoio mobilizador a um candidato que surge mais próximo do Bloco de Esquerda - que aliás se apressou a manifestar-lhe o seu apoio incondicional - do que do seu próprio partido. A alternativa a um compromisso político claro desta natureza só poderia traduzir-se num apoio de baixa intensidade à candidatura, sem real empenhamento. Porém, não é de crer que um apoio descomprometido favorecesse qualquer das partes.

No final, Manuel Alegre bem poderá surgir como candidato único à esquerda - pois também o PCP acabará por lhe dar o seu apoio, mesmo que opte por apresentar um candidato próprio, para mobilizar as hostes até às vésperas da eleição - e, como tal, aparecer bem posicionado para travar as eleições presidenciais. No entanto, deveria ser evidente que não basta o apoio de toda a esquerda, nem o óbvio desgaste de Cavaco Silva - que chega ao final do primeiro mandato em situação menos segura do que a de qualquer dos seus antecessores - para assegurar a Manuel Alegre reais hipóteses de ser eleito contra o atual incumbente.

Desde logo, seria totalmente irrealista contar com uma soma automática dos votos dos três partidos à esquerda. A questão está em que não existe transferência direta de votos das eleições parlamentares para as presidenciais. O problema não está obviamente na fidelidade dos militantes dos partidos em causa - a começar pelos do PS -, que não deixarão de seguir em geral a orientação política dos seus partidos. A dificuldade está nos eleitores sem partido - que são a maioria -, que não seguem consignas partidárias. Embora de uma forma difusa, a generalidade dos eleitores tem uma noção bem clara do diferente objeto das eleições parlamentares, que servem para escolher o partido de governo e as políticas, e o das eleições presidenciais, que servem para eleger um presidente da República sem poderes governativos, com funções de supervisão do funcionamento do sistema político e de moderação das maiorias parlamentares.

O problema de Manuel Alegre está evidentemente no eleitorado flutuante do centro político, cuja inclinação determina o resultado de todas as eleições. Parece evidente que ele não está nas melhores condições para atrair esses eleitores, que não gostam de propostas radicais e que prezam a estabilidade institucional e a previsibilidade nos inquilinos de Belém. O simples facto de Alegre se ter deixado cooptar pelo Bloco de Esquerda - que ao contrário de há cinco anos abdicou mesmo de uma candidatura própria logo à partida - é um fator negativo. Há ligações que comprometem. Quanto mais tempo Alegre demorar a distanciar-se do BE e a enveredar por um discurso político mais apelativo para os eleitores moderados, mais compromete as suas possibilidades, já de si escassas, de chegar a Belém.» [Público]

Parecer:

Por Vital Moreira.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O ARROTO MADEIRENSE

«A posição do Governo em relação à alteração da Lei das Finanças Regionais está a motivar fortes críticas na Madeira. O deputado do PSD, Guilherme Silva, sugere mesmo a demissão de Teixeira dos Santos.

"Fazer crer lá fora que o país vai entrar numa situaçao de rotura financeira se umas migalhas de 0,05% do PIB, ou 0,04% da dívida pública, vão trazer este agravamento, então é porque o país está pior do que a Grécia", afirmou Guilherme Silva em declarações à RTP.» [Diário Económico]

Parecer:

Este senhor irrita-me.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Responda-se à Pinheiro de Azevedo.»

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