quarta-feira, janeiro 13, 2010

O perigoso cidadão anónimo


Pacheco Pereira barafustou contra a blogosfera e desencadeou uma caça ao blogger anónimo, eleitos como perigosos agentes governamentais que beneficiam de tempo, meios sofisticados e informação privilegiada para atacar todos os que incomodem o governo, digamos que são uma espécie de ninjas de uma ASAE da blogosfera.

Dantes o blogger anónimo era alguém execrável que se escondia atrás do anonimato para insultar, algo inaceitável num país de gente muito bem-educada, onde o padrão do debate político é o herdado da antiga Assembleia Nacional. Agora, Pacheco Pereira acrescentou uma figura ainda mais perigosa, o empregado do governo que tem meios superiores ao do blogger comum e por isso é mais eficaz nos ataques aos adversários. Num país onde se viola diariamente o segredo de justiça para destruir políticos, alimentando argumentos de Pacheco como o da “falha de carácter” ou onde os jornais recebem cópias de processos inteiros com matéria para atacar os governos parece que o perigo vem dos blogger anónimos que são empregados do governo só porque se lembraram de quando Pacheco Pereira perseguia os jornalistas no parlamento, no tempo em que Cavaco era priemeiro-ministro.

Enquanto a blogosfera era um domínio de meia dúzia de adoradores de Pacheco Pereira era a última das maravilhas, quando se tornou popular se democratizou começaram os ataques e a desvalorização dos blogues. Agora que a direita não domina (nas últimas eleições legislativas antes de perderem nas urnas perderam na Web2) há que tentar calar essas vozes que por serem anónimas ultrapassam os limites das regras do chá das cinco.

Dantes a preocupação era a manipulação da comunicação social mas quando uma boa parte dessa comunicação não se perde de amores pelo governo, desencadeando campanhas pessoais ou alinhando em golpes baixos promovidos por um “empregado do Presidente da República” (será que Pacheco Pereira gosta desta expressão?) o argumento deixa de fazer sentido, é necessário encontrar outros motivos, o mal já não é a central de informação mas dois ou três blogger anónimos, que ao que parece estão a fazer estragos. São acusados por Pacheco Pereira de “empregados do governo”.

Da parte que me toca, gosto de falar como um cidadão anónimo, igual a milhões de outros de quem os nossos ilustres deputados e demais empregados da política desconhecem e nem querem conhecer o nome, até porque o voto, essa forma superior de manifestar a vontade popular é também anónimo. De que serve alguém saber que me chamo José da Silva ou Victor Sancho, não é o nome no perfil que me torna menos anónimo.

Fico com a impressão de que a classe política dá-se mal com o envolvimento do cidadão comum no debate público, isso é coisa de gente distinta que ganha milhares de euros indevidamente tributados a 50% com se fossem cantores de ópera. Quando meia dúzia de outsiders decidem intervir no debate levando a que muita gente preste mais atenção ás suas opiniões do que à Quadratura do Circulo entorna-se o caldo.

Da parte que me toca devo dizer que nunca ganhei o que quer que fosse pelo facto de manter este blogue, quando o iniciei já estava no topo da carreira e nunca estive interessado e-sem lugares de “empregado do governo”. Além disso, nunca usei informação que não fosse ou não devesse ser pública, o que é uma pena pois garanto-vos que anda por aí muito boa gente a falar de galo porque sente que o seu bom nomes é protegido por paredes de silêncio, como o sigilo fiscal e o sigilo bancário. Lembro-me, por exemplo, de um director-geral, que era atacado de forma infame por um conhecido comentador, queixar-se de que não podia repor a verdade e explicar a razão de tanta vingança por estar impedido pelo sigilo fiscal.