Um dos aspectos que mais me incomoda nos debates económicos é o desprezo total sobre os cidadãos, parece que tudo se decide por grandes agregados e os cidadãos não passam de um imenso rebanho que gasta mais quando aumentam os salários ou diminuem os impostos, todos junto não são um povo mas sim o “consumo”.
Quando são os políticos a falar de economia até fazem um esforço para tratar os cidadãos como gente, mas a mudança não é para melhor, para a generalidade dos políticos os seus concidadãos são uns idiotas manipuláveis. Mas este desprezo pela inteligência dos portugueses não é um exclusivo dos políticos, ultimamente foram vários os grupos profissionais que evidenciaram um grande desprezo intelectual pelos seus concidadãos, refiro-me a jornalistas como aqueles que imaginaram aparelhos de escuta que permitiram gravar as conversas no gabinete de Armando Vara apesar das paredes grossas. Refiro-me ainda aos magistrados que depois de terem escutado o primeiro-ministro de terem extraído certidões tão duvidosas como a legalidade das escutas tiveram imaginação para designarem por “face oculta” um processo que deveria ter sido intitulado de “manhas e golpes”.
Para as nossas elites o desenvolvimento parece resultar de fórmulas complexas, restando ao cidadão comum votar no presidente da junta e escolher de tempos em tempos um primeiro-ministro ou um Presidente da República. Mas será que cada português não poderá fazer mais pelo seu país em vez de ficar tranquilamente à espera do aumento da procura externa ou da evolução positiva dos agregados económicos?
Num tempo em que tanto se fala de avaliação do desempenho ou em que as contas das empresas são passadas a pente fino seria interessante avaliar cada comportamento e cada decisão de quem decide sob a perspectiva do desenvolvimento. Kennedy incentivou os americanos a questionarem-se sobre o que poderiam fazer pelo seu país. Talvez seja tempo de começar a questionar muito boa gente sobre o que está a fazer pelo país.
Por exemplo, o que estava Cavaco Silva a afazer pelo seu país quando permitiu, desconheceu ou deu cobertura ao seu assessor de imprensa Fernando Lima quando este lançou falsas suspeitas sobre o Governo? O que fez pelo país Manuela Ferreira Leite quando saneou do parlamento políticos que representam um terço do seu partido e no seu lugar colocou gente que compra e vende votos? O que quereriam fazer pelo país jornalistas e/ou magistrados que encheram os jornais com falsas acusações sobre o caso Face Oculta?
Ao contrário do que muitos economistas pensam nenhum país se desenvolve apenas olhando para as variáveis económicas, a grande variável é a vontade colectiva dos portugueses. E esta vontade colectiva está a ser destruída por gente que apenas está preocupada com os seus interesses ou com o seu umbigo. É urgente falar para os portugueses, apelar ao envolvimento dos portugueses e afastar todos aqueles que pelo seu discurso revelam um imenso dsprezo por esses mesmos portugueses.