segunda-feira, junho 28, 2010

Desilusão

Quando Cavaco Silva sugeriu que fossemos ao site da Presidência da República porque lá poderíamos encontrar a verdade e asas provas da sua honestidade e da verdade fiquei um pouco surpreendido, receei que o presidente da República tivesse transformado o site institucional da Presidência da República de todos os portugueses num blogue da familiar, onde os Silva misturariam as suas crenças religiosas com provas de honestidade. Como muitos portugueses deverão ter feito, lá fui visitar o "site".

Fiquei surpreendido, afinal o site ainda era da Presidência da República, não era desta que iria conhecer os pormenores da nova vivenda luxuosa da família Silva, nem a prova de que Cavaco Silva perdeu mesmo dinheiro com a crise financeira, numa demonstração de que é um defensor do velho princípio “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”, ele que tantas vezes avisou o país ficou a perder dinheiro por ter sido surpreendido por essa mesma crise.

Desde o tempo em que mudou de vivenda no Algarve e um jornal referiu que a segunda casa de praia teria sido negociada através de uma off-shore que ando com esta dúvida para esclarecer. Mas o “site” não continha o arquivo histórico da família Silva, pelo que não também não tive a oportunidade de recordar os detalhes de um processo disciplinar que lhe foi movido pela Universidade Nova e do qual ficou ilibado graças à intervenção do reitor que, mais tarde, foi promovido a ministro dos Negócios Estrangeiros.

Também não tinha informação sobre uma famosa desvalorização do escudo decidida pelo ministro das Finanças de Sá Carneiro que teve como consequência mandar Portugal para a sopa dos pobres do FMI. Para quem agora defende que tudo o que o governo faz deve ter em conta a competitividade, talvez o “site” explicasse quando é que Cavaco Silva passou a ter essa preocupação ou a partir de que momento passou a ter os poderes adivinhatórios que agora exibe.

Bem, não constavam as antiguidades familiares mas ainda assim não perdi a esperança, continuei a “folhear” o site em busca da página relativa aos negócios de acções da família Silva bem como de eventuais relações dos familiares em negócios do BPN ou da SLN. Como Cavaco Silva falava em provas de honestidade e neste caso foi beliscado pelo que veio publicado na comunicação social, esperava que estivesse discriminadas as acções que comprou e que vendeu nos últimos anos, para comprovar os prejuízos de que se queixou quando comentou o caso das acções da SLN. Contava ainda saber mais pormenores do negócio com as suas acções da SLN, pormenores como quem as vendeu, como foi fixado o preço de compra, quem fixou o preço de venda e quem as comprou. Esperava perceber como é que Cavaco Silva foi tão brilhante a prever o descalabro do banco dos seus amigos cavaquistas e foi surpreendido com os outros negócios em acções. Fiquei sem saber como alguém tão previdente, que nas acções negociadas negociadas no BPN com a preciosa intervenção de Oliveira e Costa teve um lucro de 100% (cem mil euros para ela e para a filha) e foi tão desastroso nos outros negócios ao ponto de no conjunto das poupanças ter tido prejuízo. Fiquei na mesma.

Esperava ainda ficar a saber de todos os pormenores sobre as famosas escutas a Belém, estava interessado em saber se sabia que tinha sido o seu assessor a lançar as suspeitas, se o repreendeu por tal facto, se discutiu com ele a possibilidade de desmentir e as conversas que teve entre as suas declarações durante a campanha e a declaração ao país mais idiota que um presidente já fez ao país, uma declaração que intelectualmente estava ao nível de um famoso discurso onde Américo Tomaz disse que” desde a primeira vez que cá vim é a primeira vez que aqui venho”. Mas não, o Palácio de Belém não é a Casa Branca e os portugueses só têm direito a saber o que Cavaco Silva diz em público.

Foi uma desilusão total, para confiar na honestidade de Cavaco Silva terei de continuar a acreditar nas dezenas de vezes que ele próprio diz de si que é honesto o que, diga-se de passagem, não lhe fica nada bem, quem é honesto não precisa de o repetir tantas vezes.