sábado, junho 19, 2010

Não é este o país que eu quero

Como se pode explicar que o país crie muito mais riqueza do que há trinta anos e dê aos mais jovens, com ou sem formação universitária, um estatuto equivalente ao de uma empregada doméstica?

Que desenvolvimento é este onde há de tudo à borla, desde a consulta de urgência que de urgência nada tem às portagens da auto-estrada, onde quem não quer trabalhar recebe casa e rendimento mínimo, onde os pensionistas ganham mais do que quando trabalhavam e os jovens chegam aos quarenta anos de emprego precário em emprego precário?

O que fizemos e fazemos à riqueza que o país cria? Vejo montes de gente a defender aquilo que dizem ser direitos adquiridos, até já vi um ministro das Finanças receber uma pensão absurda paga pelo Banco de Portugal justificá-la invocando que se tratava de um direito adquirido, enquanto as novas gerações ao mesmo tempo que pagam os direitos adquiridos dos outros são obrigados a viver sem direitos.

É verdade que o país está mais moderno, que tem melhores infra-estruturas, até vai ter aeroporto novo e TGV, tem estádios maravilhosos onde ninguém vê futebol, tem hospitais modernos para tratar dos mais velhinhos, tem tudo do bom e do melhor. Mas os mais jovens não têm carro para andar nas auto-estradas, não têm dinheiro para ir de TGV até Madrid e como são jovens nem precisam de ir aos hospitais novos. Em contrapartida têm a casa dos pais para viver, têm recibos verdes e têm um prazo no termo do qual serão despedidos e como se tudo isto não bastasse têm uma imensa dívida pública por pagar e um desequilíbrio externo crónico por corrigir.

As gerações que governaram o país amanharam-se, em nome da democracia encheram-se de direitos, direito dos funcionários à reforma antecipada, direito dos magistrados a subsídios de residência isentos de impostos, direito dos administradores do Banco de Portugal e das empresas públicas a pensões absurdas, direitos dos gestores a ficar com os carros depois de terminado o leasing, direito dos mais preguiçosos a confundirem-se com os pobres e receberem o rendimento mínimo.

Os políticos especializaram-se em ganhar votos a troco da manutenção dos direitos adquiridos e, se a dívida pública ainda o permitir, a alargarem esses direitos. Os autarcas desdobram-se em apoios aos mais velhinhos, desde visitas a Fátima até levar os velhotes a lançar na Expo depois de um passeio de avião. Em vez de investirem em escola aposta nos lares pois as crianças não votam, as crianças que daqui a uns anos serão trabalhadores ainda mais precários do que o que são os jovens de hoje.

Há que repensar esta combinação entre modelo económico, geração de empresários oportunistas e políticos incompetentes, não faz sentido que quanto mais riqueza cria um país piores são as expectativas para os mais jovens. É preciso parar para pensar.