Da mesma forma que não basta a um país ter recursos para se desenvolver, o facto de se terem excelentes jogadores não chega para ter uma boa equipa, os fundos comunitários recebido no período que se seguiu à adesão foram o nosso “Ronaldo” e de nada nos serviu. Ter boas auto-estradas pode promover o desenvolvimento mas se nela circularem carros de luxo comprados com esquemas para desviar dinheiros daqueles fundos em vez de camiões com produtos de exportação essas infra-estruturas de pouco nos servem, é a mesma coisa que termos uma equipa com valores e o treinador os usar nas posições erradas.
De um bom treinador espera-se que ponha a equipa a jogar com alegria, jogadores felizes jogam bem, jogadores deprimidos andam cabisbaixos e sem inspiração. O mesmo se passa com um país, de pouco serve um presidente prometer futuros radiosos se no dia a dia se entretém a deprimir os portugueses com discursos catastróficos. Pouco importa se o treinador é doutor na bola, os seus vastos conhecimentos da esférica economia de pouco servem à equipa se é incapaz de animar a equipa, ou se pensar que está a treinar os putos de outros tempos.
As equipas fazem-se no balneário e não nas conferências de imprensa, o bom ambiente, a entreajuda ou a “cooperação estratégica”, como alguns preferem designar, conseguem-se com lideranças transparentes e não com intrigas feitas através de adjuntos cinzentos ou de assessores anónimos. O treinador que seja feito de um “h” pequeno dificilmente leva a equipa a uma prestação de qualidade.
No fundo, no fundo, não há grandes diferenças entre um presidente e um treinador de futebol, mais vale um treinador de futebol que saiba de economia do que um expert na matéria que seja incapaz de usar bem os jogadores, da mesma forma o país ficaria melhor servido com um treinador de futebol na Presidência da República se em vez de ter bons conhecimentos de economia tivesse a dimensão humana, cultural e política exigida pelo cargo.
Cavaco Silva e Queiroz têm percursos mais ou menos paralelos, quando o primeiro era entronizado como governante o segundo foi eleito o símbolo da democracia de sucesso, um ganhava eleições, o outro ganhava campeonatos, um tinha rios de dinheiro dos fundos comunitários, o outro contava com aquela que foi a melhor geração do futebol português.
Passados vinte anos poderíamos meter o Queiroz em Presidente da República e Cavaco Silva como treinador da selecção que o resultado, muito provavelmente seria o mesmo, o país continuaria deprimido e cabisbaixo enquanto a selecção empataria com a Costa do Marfim.