quinta-feira, junho 24, 2010

Hipocrisia, oportunismo e proxenetismo regionalista

Vale a pena reflectir sobre os argumentos utilizados por alguns autarcas para justificar as borlas nas auto-estradas, são um bom exemplo da leviandade e hipocrisia da nossa classe política que põe a luta pelo poder acima de quaisquer interesses nacionais. Porque não aplicar a todos os domínios da sociedade os argumentos utilizados para justificar as borlas nas SCUT.

Vejamos, por exemplo o argumento usado por Macário Correia, um político a quem há muitos anos vaticinava um futuro mediano como controleiro de uma organização de extrema-esquerda e agora preside à CM de Faro eleito pelo PSD. Argumenta o autarca que se a auto-estrada de Huelva é à borla a Via do Infante também o deve ser. É um argumento do tipo meada pois puxando a ponta em Vila Real de Santo António só acaba no último quilómetro de auto-estrada que tenha sido construído. Como explicar a um estrangeiro que só tem auto-estrada gratuita até Ferreiras e quando virar no sentido de Lisboa esbarra com uma portagem?

Seguindo esta lógica tudo o que fosse à borla do lado de Espanha também o seria deste lado, não sucedendo o inverso pois nunca ouvi um político espanhol usar o argumento no sentido inverso. Curiosamente este argumento é usado por um senhor que em tempos era autarca de Tavira e que quando os preços dos combustíveis subiu decidiu abastecer a frota automóvel da autarquia nas estações de serviço de Ayamonte. Temos portanto um alto responsável que defende que a Via do Infante deve ser gratuita mas na horas de pagar impostos prefere ir pagá-los a Espanha. Pois é, os outros que lhe paguem a auto-estrada!

Ouvi um outro senhor autarca justificar as SCUT como o pagamento de uma dívida ao interior, como se pelo facto de ter nascido no litoral tenho uma quota parte de uma dívida aos que nasceram no interior. Bem, por esta lógica apetece-me perguntar se o tal autarca defende que em relação às populações do interior que ficam a mais de cem quilómetros da auto-estrada mais próxima o pagamento da tal dívida seja feita, por exemplo, em géneros. Por exemplo, quanto não deverá o país do litoral aos habitantes de Mértola ou de Alcoutim? No caso da Ilha do Corvo teríamos que dar a cada habitante um Ferrari mais uma viagem semanal em excutiva para passarem férias nas Bermudas!

E o que dizer de um autarca que gosta de assumir uma postura responsável e de quem se dizia que iria ser o futuro primeiro-ministro eleito pelo PSD e que agora faz apelos subtis à revolta do Norte? Este senhor acha que a sua região é uma excepção, ali todas as borlas se justificam e se for necessário até deve haver um TGV para que a viagem entre o Porto e Lisboa demore menos quinze minutos.

O que seria deste país se todos os autarcas de regiões que recebem muito menos do que o Porto dos impostos pagos pelas outras regiões fizessem apelos à revolta das populações? Barrancos já se tinha passado para o outro lado da fronteira, Vila Nova de Milfontes pediria para ser uma autarquia da Região Autónoma da Madeira e para chegarmos a Vila Real de Santo António teríamos de ir até Espanha pela auto-estrada de Évora para entrarmos no Algarve pela ponte do Monte Francisco, tanto quanto sei entre Lisboa e aquela região do Algarve não há nenhum concelho que tenha menos motivos para se revoltar do que o Porto.

A verdade é que tirando algumas excepções muito localizadas onde as SCUT fazem sentido o que estes senhores querem promover é o proxenetismo nacional, querem o mais possível dos impostos que os outros pagam, já que o país se está a afundar aproveitam-se deste modelo municipalista quase feudal para “sacarem” o mais possível para as suas regiões e assim assegurarem futuras vitórias eleitorais.

É uma combinação perigosa entre hipocrisia e oportunismo e proxenetismo regionalista.