sábado, junho 19, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Joalharia de rua, Lisboa

PORTUGAL VISTO PELOS VISITANTES D'O JUMENTO

Janela do Redondo (imagem de A. Cabral)

JUMENTO DO DIA

Cavaco Silva

Cavaco Silva tem razão ao afirmar que José Saramago será sempre uma referência, será uma referência do obscurantismo cultural que não hesitou em censurar aquele que viria ser prémio Nobel da literatura. Será mais uma referência do cinismo do cavaquismo que recusa uma pensão a Salgueiro dando a um PIDE e que quando chega a Presidente vai a correr a Santarém prestar homenagem ao capitão de Abril, o mesmo cavaquismo que desprezou Saramago como primeiro-ministro e apressa-se a homenageá-lo como Presidente da República.

«O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, disse esta sexta-feira numa mensagem enviada à Comunicação Social que o Nobel da Literatura, José Saramago, "será sempre uma figura de referência da nossa cultura".

"Escritor de projecção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura", afirma o Chefe de Estado.

"Em nome dos Portugueses e em meu nome pessoal, presto homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras", acrescenta Cavaco Silva, endereçando condolências à família do escritor. » [CM]

GINGA PELÉ

CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA

«A Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso PT/TVI está morta e enterrada. Como escrevi logo no início de Abril, a comissão corria o risco grave do fracasso, devido à sua constituição tardia, tendo sido antecedida por uma inútil e impertinente "investigação preliminar" na Comissão de Ética. E, como também já escrevi em Maio, esse risco tornou-se ainda mais palpável quando se tornou óbvio que a comissão não poderia trabalhar com todos os elementos de prova à sua disposição. O resultado final não podia ser outro: o fracasso de uma comissão que não proporcionou aos portugueses uma explicação plausível para factos que põem em causa um pilar da democracia, a liberdade de imprensa.

Não obstante os esforços louváveis de alguns dos seus membros, os trabalhos da comissão padeceram de erros metodológicos que levaram em linha recta ao insucesso final. A "investigação preliminar" permitiu a articulação de depoimentos. A alegação infundada de regimes de sigilo esvaziou o dever de prestar depoimento. A falta da acareação entre certas testemunhas deu azo a contradições insolúveis que ficaram por resolver. A omissão da inquirição presencial do primeiro-ministro na comissão, como a Constituição prevê, deixou em aberto as questões políticas mais importantes que só o contraditório directo poderia esclarecer. Por fim, o silêncio sepulcral sobre meios de prova fundamentais pedidos pela própria comissão e prontamente colocados à sua disposição pelo poder judicial, para além de politicamente insustentável, é processualmente injustificável, porque não permitiu o confronto das testemunhas com todos os meios de prova disponíveis. » [DN]

Parecer:

Paulo Pinto de Albuquerque dá uma lição de investigação aos deputados da comissão de inquérito parlamentar, a primeira e pior parte da lição é a sua afirmação da presunção de culpa do arguido.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Paulo Pinto de Albuquerque de onde vem tanta certeza, também leu as escutas?»

A CONTAGEM DE CRUCIFIXOS

«Os partidos adoptaram, sabe-se, a expressão "contar as espingardas". Acontece quando se quer adivinhar, antes de ir a votos, quantos são arrastados por um líder ou uma facção. Geralmente sucede no ambiente quente dos congressos e a prática tem mais de póquer (bluff) do que de real contagem de forças. Também o país católico está, como já repararam, em pleno processo de "contar os crucifixos". Ao cardeal-patriarca deu-lhe para mensagens subliminares, a Santana Lopes deu-lhe para se chegar à frente, a Bagão Félix deram- -no como candidato e cem senhoras deram pela necessidade de alguém que "represente um povo maioritariamente católico". O moinho que move todas estas dádivas parece ser a promulgação por Cavaco Silva dos casamentos gay. Mas como acontece amiúde nas causas incertas este moinho é de vento. Ninguém quer abater Cavaco, com excepção da esquerda que esfrega naturalmente (e ilusoriamente) as mãos com esta imprevista divisão da direita. O que querem os promotores desta agitação é fazer prova de vida. Estes católicos não estão a pedir que se conte com eles, estão a dizer: "Contem-nos." Não um a um, com ábaco ou mesas de voto, mas no domínio da fé que lhes é próprio: eles contam com a mistificação de serem tomados pelas multidões que receberam o Papa. » [DN]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

CRIATIVIDADE?

«A criatividade virou moda. Até o Presidente da República, que não é propriamente um vanguardista, já fala de criatividade e indústrias criativas como receita para resolver alguns dos nossos problemas estruturais. Para quem, como eu, anda às voltas com o assunto há décadas esta parece ser uma boa notícia. Mas, não sei. Depende. Não basta enunciar palavras. É preciso entender o que elas realmente significam. E ser consequente.

Não é criativo quem quer. Uma pessoa não se torna subitamente criativa através de um simples ato de vontade. Às condições ambientais, de que falou Florida com os seus 3 T's - Tecnologia, Talento e Tolerância -, é preciso acrescentar algumas qualidades dos próprios. A criatividade exige conhecimento e irreverência. O que pode parecer uma contradição. Há quem imagine que um ensino para a criatividade é deixar os alunos à solta a fazer o que lhes apetece. Não é. O saber é objetivo e tem que ser transmitido e aprendido com todo o rigor. Só a partir dessa base é possível partir para a experimentação, outra das componentes do saber. Uma escola para a criatividade tem de conseguir combinar o conhecimento puro e duro com a exploração aleatória da tentativa e erro.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Por Leonel Moura.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O MAU PERDER DE PACHECO PEREIRA

«Pacheco Pereira, o único deputado do PSD que consultou os resumos das escutas da Face Oculta enviadas à comissão, chegou a conclusões bem claras e desferiu um forte ataque ao PS, a Mota Maral e aos restantes partidos da comissão que não quiseram ver este documento.» [CM]

Parecer:

Afinal esta comissão tinha sido uma encomenda da sua tutora Manuela Ferreira Leite.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso amarelo.»

CUMBO COLECTIVO NA ORDEM DOS ADVOGADOS

«O bastonário Marinho e Pinto barrou a entrada da maioria dos candidatos à Ordem dos Advogados (OA) deste ano ao chumbar 88% dos recém-licenciados.

Dos 275 que fizeram exame de acesso ao estágio profissional em Março - criado em Janeiro por Marinho e Pinto - foram apenas 33 os que foram aprovados e que poderão agora inscrever-se na OA para iniciarem o estágio em Setembro. Os restantes terão de repetir o exame nessa altura. Dos 12% de alunos aprovados, 21 são da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e apenas dois de uma universidade privada, a Católica de Lisboa (ver caixa).» [Diário de Notícias]

Parecer:

Quem chumbou? As universidades, os candidatos a advogado ou a Ordem dos Advogados.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Apure-se.»

ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO QUALIFICADO PARA POLÍCIA QUE BALEOU MC

«O polícia que baleou mortalmente o rapper conhecido por MC Snake vai ser acusado de homicídio qualificado. O processo de inquérito, concluído em apenas dois meses, concluiu que três segundos separaram o disparo de aviso, para o ar, e o tiro fatal.

Para o Ministério Público (MP) estes factos demonstram que "o agente da PSP é o autor material do crime", conta o sítio online da TVI24. A actuação de do polícia Nuno Moreira foi "desnecessária, desproporcional e desadequada".» [JN]

Parecer:

A morte de MC foi um disparate inexplicável.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo julgamento.»

RAY COOPER