terça-feira, junho 15, 2010

Em tempo de crise não há borlas para ninguém

Uma das coisas mais surpreendentes no debate sobre as SCUT são os argumentos de muitos cidadãos e agora também de autarcas para justificarem a institucionalização das borlas, o ridículo até chega ao ponto de já se falar de providências cautelares, agora é uma questão de escolher o tribunal onde o juiz usa a auto-estrada à borla para impedir o fim das SCUT.

Será que as autarquias que tentam manter as SCUT vão deixar de cobrar pela água aos seus munícipes? Recordo que no passado uma boa parte das casas tinham os seus poços e só aderiam à utilização da água canalizada se o pretendessem, aliás, isso ainda sucede nalgumas aldeias onde este tipo de serviço está a ser introduzido. Parece-me tão legítimo argumentar que não há uma boa alternativa à auto-estrada como recusar o pagamento da água aos serviços municipalizados porque com o fim dos poços os habitantes também são obrigados a pagar a água que consomem.

Um constituição assente num projecto utópico elaborada por uma constituinte que esquece que Portugal era um país pobre, políticos muito generosos que não perdem a oportunidade para amealhar votos e um povo com pouco sentido colectivo levaram a que em Portugal a bola se tivesse tornado uma instituição. Os que viajam nas SCUT sabem que outros lhes pagam a portagem, os que estão pouco preocupados com o rendimento dos filhos não se incomodam que sejam outros a pagarem-lhes as escolas e os que recebem o rendimento mínimo devem saber que são os outros a pagar-lhe o falso ordenado. Mas todos eles estão muito pouco preocupados com a despesa pública enquanto forem os outros a pagá-la.

Mais de que numa cultura de solidariedade muitos destes direitos à borla têm por base o cinismos e o oportunismo social, é por isso que a imensidão de borlistas que existem neste país, sejam os que conduzem carros de luxo nas SCUT ou os presidentes dos governos regionais em vez de estar grata pela solidariedade forçada de muitos contribuintes, muitos deles mais pobres do que os beneficiários da generosidade colectiva, ainda reagem com arrogância, chegam ao ponto de darem este direito ao sacrifício dos outros com um direito adquirido, ameaçando com providências cautelares.

Mais do que defensor do princípio do utilizador pagador sou contra esta cultura de borlismo que se instituiu no país, em que uns julgam ter o direito inalienável de serem proxenetas dos outros. É revoltante que alguém que ganha o ordenado mínimo e tem entregar uma boa parte ao Estado soba a forma de IRS, IVA e de uma infinidade de taxas ande a financiar os fins-de-semana nas SCUT, os Ferrari dos industriais vítimas da interioridade, ou os banquetes do governo regional da Madeira.

É tempo de acabar com esta cultura de borlismo que nada tem que vez com estado social, com combate à pobreza ou com desenvolvimento regional, assemelhando-se cada vez mais a proxenetismo social.