É assim, somos maus, temos a pior opinião daquilo que produzimos, temos vergonha de ser portugueses, descarregamos nos políticos dizendo que eles são culpados e exibimos o êxito consumindo estrangeiro. O fenómeno não é novo, é muito antigo e até serviu para David Ricardo, o percursos da teoria económica que ainda hoje domina explicasse a vantagem do comércio, os ingleses bebiam o Vinho do Porto e nós vestíamos os têxteis ingleses.
Com o fim das taxas de inflação de dois dirigidos, a redução das taxas de juro a quase nada e os bancos a multiplicarem esquemas para vender dinheiro a crédito o nosso pobre riquismo ficou deslumbrado, em vez de viajarem tranquilamente para as praias do Algarve, as melhores da Europa e arredores, optam por irem atulhados num voo charter para molharem os ditos nas águas de uma praia da República Dominicana onde mal podem sair do hotel e correm o risco de apanharem com um furarão, para depois andarem a ganir porque o governo português não os foi logo buscar em classe executiva.
De pouco serve Cavaco Silva apelar ao nacionalismo económico na sua forma mais primária, sempre que aqui abordei a questão tive comentários negativos. Quando a Opel fechou a fábrica da Azambuja defendi que se os portugueses reagissem deixando de comprar automóveis daquela marcam os seus responsáveis teriam pensado duas vezes. Foi o que fiz, mas na ocasião fui muito criticado, basta ir à rua para perceber que a muitos portugueses nem lhes passou pela cabeça que estão a conduzir um automóvel que foi fabricado em Espanha, mas devia ter sido produzido por um operário português que muito provavelmente ainda está desempregado.
Agora que estamos com a corda ao pescoço Cavaco apelou ao nacionalismo, fazendo algo que numa comunidade económica é uma aberração, é aceitável da parte de grupos de cidadãos ou de associações empresariais mas é um absurdo vindo de um Presidente, ainda por cima de alguém que quando foi primeiro-ministro não hesitou em suspender os mecanismos de protecção da agricultura portuguesa adoptados no Tratado de Adesão, para promover a importação de produtos agrícolas mais baratos e dessa forma combater a inflação.
De pouco serve Cavaco Silva armar-se agora em arauto do nacionalismo ou propor aos portugueses o regresso às alpargatas com solas de pneus, afinal ele é o símbolo do novo riquismo nacional, do dinheiro fácil à custa dos fundos europeus, foi ele que em tempos promoveu a ideia da democracia de sucesso.
É tarde para mudar uma cultura, até para muitos portugueses mudarem as suas férias a pedido de Cavaco Silva, isso se não estivermos perante mais uma intriga palaciana pois como todos sabemos o primeiro-ministro costuma passar férias no estrangeiro. Esperemos que alguém da direita que venha sugerir que Sócrates faz como fazia Durão Barroso que passa férias à borla em ilhas paradisíacas de amigos ou em veleiros de luxo, tudo à borla incluindo transportes, do nacionalismo económico passaríamos ao nacionalismo da pedincha.