É por eu ser rico que quando vou a São Domingos de Rana tenho que pagar portagem na auto-estrada de Cascais, mesmo não havendo alternativa, enquanto que se ele for passar a noite com a amante num apartamento na Foz beneficia de uma borla em nome da solidariedade a que a condição de rico estatístico estou obrigado. No fim ficamos os dois mais ou menos na mesma, ele deixa de ser estatisticamente rico à conta das borlas pagas pelos meus impostos que, nesta situação, desempenham na plenitude o seu papel distributivo. Além disso, o país conseguiu o milagre, sem criar riqueza acabou com a pobreza!
Esta forma generosa e cega de distribuir dinheiro recorda os velhos métodos de aplicação dos adubos, para adubar a terra onde se encontra a semente espalhava-se adubo à volta, desperdiçando-se uma boa parte dos fertilizantes, gastava-se mais, produzia-se o mesmo ou menos e ainda por cima os terrenos ficavam intoxicados.
Neste país em vez de se pensar em criar riqueza perde-se a maior parte do tempo a discutir um cada vez maior esquema de borlas que servem para que a riqueza de uns vá parar à mão de outros, com a agravante de a máquina burocrática do Estado enquanto faz a gestão dessa redistribuição de riqueza consumir uma boa parte dos recursos. À conta da borla generosamente dada ao nosso armador da Póvoa do Varzim, há uma imensidão de administrativas, técnicos assessores principais, subdirectores-gerais e directores-gerais que fazem estudos preciosos para que o nosso amigo não só não pague a portagem como não seja incomodado no momento em que beneficia do direito inalienável à solidariedade nacional. Isto é, não só se consegue combater a riqueza como ainda se cria emprego, se algum dia um político se lembrar de acabar com isso terá a forte oposição dos sindicatos que nunca aceitarão a eliminação dos empregos estatais e muito menos que esses funcionários sejam deslocados para outros locais de trabalho.
Não sou contra a ajuda aos que mais necessitam e que devido a circunstâncias aceitáveis não estão em condições de atingir um patamar de rendimento que lhes assegure uma vida com dignidade. Sou a favor de ajudas ao rendimento a regiões que, por serem interiores ou por quaisquer outro motivo são penalizadas na competitividade, concordo que se deve usar o investimento público para promover o desenvolvimento de regiões desfavorecidas.
Mas a forma como o Estado polvilha regiões e grupos sociais com dinheiro fácil a título de ajuda não só não resolve os problemas de pobreza como gera injustiças, o que motiva muito dos argumentos oportunistas que nestes dias temos ouvido a propósito das SCUT. Há gente pobre que depois de pagar a casa e os impostos tem menos rendimento disponível do que muitos dos que recebem casa do Estado e rendimento mínimo, há empresas de Lisboa menos competitivas do que as dos interior mas que têm que suportar custos elevados na capital.
Esta cultura de oportunismo estimulada a todos os níveis, famílias, empresas e regiões, terá como resultado a preguiça nacional o que, aliás, é evidente no debate político dos últimos dias. Num país em crise em vez de vermos os políticos a discutir a melhor forma de criar mais riqueza, andam todos embrulhados a discutir a melhor forma de se dar o pouco que se tem ou, pior ainda, o que nem sequer se tem pois uma boa parte da generosidade estatal está a ser financiada com dívida externa.
Portugal é um país de políticos idiotas, doidos e irresponsáveis.