FOTO JUMENTO
Actuando na Rua Augusta, Lisboa
JUMENTO DO DIA
Cavaco Silva
Dulcineia
Quem tu és não importa, nem conheces
O sonho em que nasceu a tua face:
Cristal vazio e mudo.
Do sangue de Quixote te alimentas,
Da alma que nele morre é que recebes
A força de seres tudo.
José Saramago
Pessoalmente não tinha grandes simpatias por Saramago, mas a dimensão e importância da sua obra estão acima de qualquer motivo pelo qual eu poderia ter ou deixar de ter simpatias pessoais, a dimensão literária de Saramago está acima disso e o país tem com este português uma dívida.
Quando Bento XVI esteve em Portugal o Presidente da República desdobrou-se entre rezas e missas, umas públicas, outras oficiais, só faltou mesmo nomear um daqueles assessores que costumam passar o tempo a conspirar contra o primeiro-ministro para segurar no pirilau do papa quando este ia ao WC.
Mas quando os restos mortais de José Saramago chegaram a Portugal não dei pela presença de Cavaco Silva, do chefe da Casa Civil ou de um dos seus modestos assessores, nem mesmo o Fernando Lima, pelo que vi as televisões também não deram por tal presença.
É uma vergonha para Portugal, enquanto a ministra da Cultura de Espanha acompanhou os restos mortais na viagem para Lisboa e o governo espanhol manda a sua vice-presidente ao funeral o Presidente da República de Portugal fica de férias nos Açores.
Enfim, neste mundo sempre houve Homens grandes e homens pequeninos, Saramago é um dos grandes, Cavaco sofre de nanismo cultural e político.
Só os pequenos homens não conseguem superar a sua pequenez, como demonstra a forma como Soares e Saramago reataram relações:
«Mário Soares explicou: «Mas sarei essas feridas, quando era primeiro-ministro. Depois de ter lido o «Memorial do Convento» e «O Ano da Morte de Ricardo Reis», escrevi-lhe uma carta a dizer que, apesar de não termos relações, me sentia na obrigação de dizer-lhe que o apreciava enquanto escritor.»
A esta carta, José Saramago respondeu com uma outra que Soares resume deste modo: «Eu ainda gosto menos de si do que você de mim, mas também acho que é altura de reatarmos relações». Reconciliados, Saramago recebeu Soares na casa de Lanzarote. «Sou muito amigo da esposa, uma pessoa extraordinária que contribuiu muito para a carreira dele». » [Portugal Diário]
Este gesto de Cavaco tem a dimensão política que Marcelo tentou disfarçar, como disse Saramago em política não há deslizes ou gaffes:
«Na política "não há deslizes, não há 'gaffes'. Aquilo que se diz é aquilo que se pensa. Que depois se reconheça que foi mal e que se lhe chamemos de deslize e 'gaffe' para justificar ou desculpá-lo, nós já sabemos que isso se faz. Mas se ele disse “dia da raça” é porque pensa efectivamente que este dia se deveria chamar “dia da raça”, embora não ouse fazer isso", sustentou José Saramago à RR. » [aeiou]
Que faça umas boas férias, os portugueses sabem homenagear os seus e ninguém vai dar pela sua falta:
«O Presidente da República, Cavaco Silva, visitou hoje as lagoas do Fogo e Furnas, cumprindo parte do prometido à sua chegada quinta-feira a Ponta Delgada para quatro dias de férias na ilha de S. Miguel.Acompanhado da mulher, filhos, nora e netos, o Chefe de Estado aproveitou o bom tempo que se regista em S. Miguel para apreciar a paisagem do interior da maior ilha açoriana, almoçando o típico "cozido das Furnas.» [DN]
O HOMEM QUE SE LEVANTOU DO CHÃO
«Como é próprio do que é grande, há para todos. Aqui, de José Saramago, só ele, o homem. Logo, para começar, Jerónimo Melrinho: "Sou neto de um homem...", contou Saramago, contando-se. No dia que partiu para o hospital, o avô Jerónimo desceu à horta e despediu-se das árvores. Abraçou-as, uma a uma. O Greenpeace faria disso um anúncio de página inteira. Mas, como vos disse, fico-me pelos homens. Depois, o jovem serralheiro, trabalhando num hospital conventual, na grande cidade - e o moço escapando para a biblioteca onde lia tudo. Um literato faria disso uma tese sobre os heterónimos de Pessoa, já o jovem que lia a pulso guardou Ricardo Reis para, mais tarde, Rua dos Sapateiros abaixo, o passear com Pessoa. José Saramago e escrever, o destino estava decidido, mas havia que fazer pela vida: jornalista. Aos 53 anos, porém, fechou-se-lhe a profissão. Outros iriam contar o tempo para a reforma, ele agradeceu ao destino e caminhou para a glória. Depois, Levantado do Chão. Sobre isto: homens que se levantam do chão. Depois, aos 63, eles encontraram-se e ele, com ela, pararam os relógios lá de casa, às 4, a hora do encontro. Aos 85, quando, que mais não seja por prudência, outros se recolhem, ele pôs-se a vociferar contra Deus. Repito, deixo a outros o estilo e as causas. Mas não perco, fico-me pelo homem. Que homem! » [DN]
Parecer:
Por Ferreira Fernandes.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
A NOSSA FÁBULA
«Uma formiga trabalhava afincadamente, como hábito, quando se cruzou com uma cigarra de ar próspero.
Achou estranho e perguntou-lhe onde ia.
Lesta, a cigarra disse-lhe que seguia para o aeroporto, de partida para Nova Iorque, para uma apresentação de moda.
Despediram-se e a formiga continuou a trabalhar 18 horas por dia, sem folgas, procurando amealhar para os dias maus que se adivinhavam.
Passados uns tempos, encontra novamente a cigarra que lhe disse ter sido fantástica a viagem a Nova Iorque e que, entretanto, já tinha visitado Tóquio e Roma, estando de partida para Paris, em jacto privado. E que, se a formiga quisesse alguma coisa de Paris, estava disponível.
A formiga pensou e pediu-lhe: "Olha, se vires por lá o La Fontaine manda-o dar uma curva, da minha parte".
Pedro Passos Coelho vai à África do Sul ver um jogo de futebol, Portugal contra a Coreia do Norte. E a seguir, se ainda houver caminho, outros irão, num vai e vem que sustenta a lógica do "faz o que eu digo, não faças o que eu faço". Claro que é futebol e o circo sossega a barriga.
Aceitemos, pois, a excepção. Como o imposto que fura a Constituição, mas é retrospectivo antes de ser retroactivo. Com uma pequena objecção: se a coisa é séria, seleccione-se o mensageiro. Queiroz é o menos, Deco deve pouco ao futuro, ambos fazem o melhor que sabem. O problema, se é que ele existe nas cabeças que sofrem com a trave do golo, está exposto na figura e no comportamento do presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Assim, em caixa alta e com o privilégio de uma instituição de interesse público.
O homem não sabe onde está ou ao que vai. Atrapalha-se quando perguntado. E Portugal joga quando? Segunda. Será? Terça? É. É indiferente para o responsável máximo pela coisa, numa figura pública que mostra a vacuidade e envergonha quem vê e ouve. Mas que é, naturalmente, alimentado pelas tetas de um certo regime.
O futebol é, de modo excessivo?, o espelho do país. É, mas é o que parece. O que hoje se discute, no meio da fome à espera de circo, é o número que cada pontapé deve desempenhar para que, no fim, o resultado compense a angústia. Tudo é pobre - e é nesse desenho civilizacional que emerge como bom o exemplo Mourinho. Goste-se ou não, ele percebeu que a sua qualidade excedia em muito a exigência local.
Na pequenez em que caiu o rectângulo perdeu-se garra e ganhou-se indiferença. Mudar as regras fiscais a meio do jogo, para se alcançar um determinado resultado, é matéria para os notáveis da academia aconselharem os notáveis políticos. Ninguém, por simples lembrança, afirma a verdade do que está a acontecer - e, aceitando os factos, declara o fim (será interregno?) da soberania e a inutilidade de um texto constitucional ou de um orçamento votado anualmente.
Haverá certamente quem se interrogue com a facilidade com que os poderes públicos vulgarizam a contradição na procura única de uma mesinha para que o mal não volte. Ao mesmo tempo que se elege o regresso ao aforro como solução para esse mal, castiga-se a ideia. Repare-se no exemplo prático: dois contribuintes com salário igual; um gasta, o outro aforra; são ambos despedidos; o que aforrou cem mil euros não tem direito a apoio social, o que gastou sem reservas está e fica ao abrigo do Estado.
Pois é. Vamos dar uma curva. Todos, até que o mal passe. » [DE]
Parecer:
Por Raul Vaz.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
ANELKA REGRESSA A FRANÇA
«"Vai apanhar no..., filho da p...", disse o avançado ao seleccionador francês no intervalo do jogo com o México. Este sábado recebeu ordem de expulsão da Federação Francesa.
icolas Anelka foi expulso do Mundial 2010 pela selecção francesa depois do grave episódio de indisciplina que protagonizou perante o seleccionador Raymond Domenech no intervalo do França-México. O avançado recusou retractar-se publicamente e recebeu ordem de regresso a casa pela Federação Francesa de futebol, devendo abandonar esta noite a África do Sul.» [DN
Parecer:
Deco é um santo.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Diga-se a Queiroz que tem sorte de não ter nenhum Anelka.
REGRESSARAM AS FÉRIAS JUDICIAIS
«O Governo de José Sócrates recuou nas férias judiciais e alterou a lei do anterior Governo de José Sócrates. Este ano, os tribunais vão parar entre 15 de Julho e 31 de Agosto, ou seja, a interrupção começa 15 dias mais cedo do que o ano passado. Esta alteração é reivindicada pelos advogados desde 2005, quando o primeiro-ministro mexeu na lei ao jeito de bandeira política. Porém, ela só foi promulgada nesta segunda legislatura, quando ao Ministério da Justiça chegou o secretário de Estado João Correia, advogado que concorreu contra Marinho e Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados (OA).
Se a alteração é apoiada pelos advogados e solicitadores, pois foram eles quem mais lutou por ela, para os restantes operadores judiciários - juízes, magistrados do Ministério Público, funcionários judiciais - a questão é indiferente. "Gostaríamos de ter férias como qualquer outro cidadão", disse ao DN Carlos Almeida, presidente do Sindicato dos Oficiais de Justiça (SOJ). "Esta alteração é para agradar aos advogados", frisou. A mesma posição foi assumida por Fernando Jorge, presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), para quem o tema só terá servido para confundir as pessoas. "Fizeram passar a ideia de que os operadores judiciários têm mais férias que os restantes portugueses", disse, apontando o dedo a José Sócrates.» [DN]
Parecer:
A pedido dos advogados.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Desejem-se boas férias aos advogados e magistrados.
76 PROFESSORES AGREDIDOS NO ANO PASSADO
«As agressões a professores e funcionários das escolas subiram quase 40% no ano lectivo passado. Os dados do Programa Escola Segura mostram, no entanto, uma diminuição das agressões a alunos e do número de ocorrências.
Para João Sebastião, do Observatório de Segurança Escolar, a subida em 37,86% das agressões a professores e em 38,35% da violência contra funcionários pode não significar um crescimento real, mas sim um aumento das participações. E relembra que há um ano ocorreram alterações ao Código Penal que tornaram as agressões a docentes dentro das escolas um crime público. "Há também mais pressão para as escolas denunciarem estes casos", salienta .» [DN
Parecer:
Como os professores não estão em luta este tema já não merece atenção.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Discuta-se o assunto com seriedade.
SINDICATOS NÃO ACEITAM ALETRAÇÕES NOS FERIADOS
«A proposta de duas deputadas ainda nem saiu do Parlamento, mas o braço-de-ferro com os sindicatos é já um dado adquirido. UGT e CGTP opõem-se à ideia de reduzir o número de feriados. E a Inter nem aceita colá-los ao fim- -de-semana para acabar com as pontes (ao contrário da UGT, que aceita discutir o assunto em negociação colectiva). Na concertação social, o projecto terá luta certa.
O projecto de duas deputadas independentes pelo PS estava na agenda há semanas, mas ontem recebeu luz verde na reunião da bancada socialista. "Estabeleceu--se um consenso e o projecto de resolução vai avançar", anunciou Ricardo Rodrigues.» [DN]
Parecer:
A ideia não me parece grande coisa nem vai salvar a economia.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Esqueça-se mais uma parvoíce.»
PROCESSO BPN DIVIDIDO
«A acusação do caso BPN deverá ser dividida em dois processos já este mês, para não atrasar o início do julgamento previsto para Outubro. Esta hipótese foi discutida entre os advogados de defesa e o juiz titular do processo, numa reunião no final de Maio. Em causa está um recurso interposto por dois dos envolvidos, que terão de esperar pela decisão do Tribunal Constitucional. Mas os restantes acusados podem seguir para julgamento.» [DE]
Parecer:
Está-se mesmo a ver, condenam Oliveira e Costa e esquecem os outros a bem da Nação.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»
VATICANO POUCO CRISTÃO NO DIA DA MORTE DE SARAMEGO
«O diário do Vaticano “L’Osservatore Romano” atacou hoje o recém-falecido escritor português José Saramago num artigo em que o define como “populista e extremista” de ideologia antirreligiosa e marxista.
Um dia depois da morte do Nobel da Literatura 1998, o diário da Santa Sé publica um obituário intitulado “A (presumível) omnipotência do narrador”, assinado por Claudio Toscani.» [i]
Parecer:
Esta é, no mínimo, uma posição pouco cristã, representam bem o Deus cruel como Saramago caracterizou.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Bento se já encomendou Saramago ao diabo.»
A ANEDOTA DO DIA
«O conselheiro de Estado Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou hoje a ausência do Presidente da República, Cavaco Silva, nas cerimónias fúnebres do escritor José Saramago, considerando que é mais importante a sua presença espiritual do que física.
Em declarações aos jornalistas, à saída dos Paços do Concelho de Lisboa, onde o corpo de José Saramago está em câmara ardente, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que "o Presidente associou-se, através de uma mensagem, ao sentido nacional desta homenagem, e está presente no luto nacional destes dois dias".» [i]
Parecer:
Marcelo Rebelo de Sousa tem razão, a presença espiritual de Cavaco é muito forte, foi o homem que o levou a partir para Espanha.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Diga-se a Marcelo Rebelo de Sousa que é preciso ter muita lata para ir à CML tentar limpar a imagem de um senhor que prefere estar a comer o cozido nas Furnas em vez de assunir o seu estatuto de Presidente da República e homenagear Saramago. Sugira-se ainda a Marcelo que não goze com a inteligência dos portugueses.»
COUDELARIA DE ALTER SOB INVESTIGAÇÃO
«Criada em 2007 por decreto governamental, a Fundação Alter Real (FAR) assumiu o património e as competências do Serviço Nacional Coudélico, um organismo que funcionava no âmbito do Ministério da Agricultura e foi então extinto. A presidência do seu conselho de administração é assegurada, por inerência, pelo presidente da Companhia das Lezírias, Vitor Barros, que exerceu as funções de secretário de Estado do Desenvolvimento Rural nos Governos de António Guterres e foi o candidato derrotado do PS às eleições de 2005 para a Câmara de São Pedro do Sul. Em Março deste ano, Rui Simplício, então assessor parlamentar do Partido Socialista, líder distrital do PS em Portalegre e antigo presidente da Câmara local, foi nomeado por proposta de Vítor Barros administrador-delegado da fundação.
Os inspectores do Ministério da Agricultura estão no terreno há dois meses e já ouviram os dirigentes e vários técnicos da instituição, incluindo o presidente Vítor Barros e a vogal da administração Maria Leal Monteiro, que dirigiu até há poucos meses à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo e foi, no ano passado, a candidata derrotada do PS à Câmara de Alter do Chão. » [Público]
Parecer:
Nunca gostei do presidente da Fundação nem compreendi as razões porque Jaime Silva o nomeou.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Investigue-se»
MAESTRINA JOANA CARMEIRO PREMIADA NOS EUA
«A maestrina Joana Carneiro, directora musical da Berkeley Simphony, nos Estados Unidos, recebeu o prémio Helen M. Thompson, pelo seu “talento excepcional”, mostrando-se “muito comovida” com a distinção, por ter sido atribuída “ao fim de tão pouco tempo”.
Em comunicado, a Liga das Orquestras Americanas, que atribuiu esta distinção, refere que o prémio “reconhece o empenho de Joana Carneiro em alargar a comunidade base da Berkeley Simphony e a tradição da orquestra, ao apresentar trabalhos de compositores do nosso tempo”. » [Público]
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