Mas se Cavaco apela a que se façam férias cá dentro para evitar o crescimento da dívida externa, também pode fazer muitos outros apelos nesse sentido, que comam tomates portugueses, que comprem roupa fabricada em Portugal em vez de irem à Zara, que bebam bagaço em vez de whisky, que comprem sapatos portugueses, enfim, as oportunidades não faltarão.
Só que não é apenas Portugal que tem problemas, tanto quanto se sabe os ingleses, os irlandeses, os espanhóis, os gregos e os húngaros também estão a passar por algumas dificuldades, não sendo nada de excluir a hipótese de outros países se juntarem à lista que já deixou de ser dos “pigs”. A rainha de Inglaterra ou o rei Juan Carlos podiam fazer o mesmo e apelar aos seus concidadãos para que se fiquem no Reino Unido e em Espanha, a rainha de Inglaterra podia mesmo apelar a que optassem pelo Whisky em vez do Vinho do Porto e o Rei Huan Carlos teria boas razões para dizer aos espanhóis que têm excelentes vinhos.
Se Cavaco Silva sabe tanto de economia como diz também sabe que o seu apelo manhoso é uma negação do comércio internacional e que se todos fizessem o mesmo Portugal seria a primeira vítima pois é dos que mais depende das suas exportações. Vindo de um economista com tiques liberais este apelo é uma aberração, vindo de um político é um gesto pacóvio mais próprio de um presidente de uma junta de freguesia.
Resta-nos esperar que os jornalistas europeus que estão em Portugal não liguem muito ao que Cavaco diz pois se noticiarem nos seus países o que o Presidente da República disse isso só serve para Portugal cair no ridículo. Bem, também serve para a partir de agora podermos acusar de falta de nacionalismo qualquer português que se lembre de passar férias no estrangeiro.
O apelo deste tipo vindo de um Presidente da República não passa de uma forma subtil de proteccionismo, um gesto muito pouco próprio para o mais alto magistrado de um país da União Europeia.