Ainda que o debate orçamental entre o PSD e o PS se assemelhe mais a um jogo de matraquilhos do que a um jogo de xadrez, insisto em elevar o debate fazendo de conta de que estamos perante uma partida de xadrez, ainda que o desequilíbrio entre os jogadores seja tão grande que só a lentidão da partida tenha impedido o seu final.
Passos Coelho joga com as brancas o que significa que a abertura foi da sua iniciativa, fê-la na festa do Pontal desafiando Cavaco Silva para devolver a palavra aos portugueses até ao dia 19 de Setembro, data a partir da qual o Presidente da República deixaria de ter poderes para tal. Mas, pelo sim, pelo~não avançou com exigências em relação ao OE, que não houvessem aumentos de impostos, nomeadamente através das deduções fiscais, e cortar fortemente na despesa.
Se Cavaco tivesse ido de encontro à exigência de Passos Coelho o país estaria agora na bancarrota e em campanha eleitoral enquanto os emissários do FMI aguardavam num hotel pelo resultado para saberem com quem haveriam de negociar. Por outro lado, avança muito antes de saber a situação real das finanças públicas com exigências. Pior, manteve essas exigências até à apresentação do orçamento.
Com uma abertura destas era certo e sabido que o governo optou por não lhe retirar a iniciativa do jogo e se Passos Coelho abriu mal esta partida fez ainda pior na forma como moveu as peças. Foram evidentes as contradições entre os seus apoiantes mais próximos, Ângelo Correia, uma peça que agora saiu do tabuleiro, defendia que era melhor não haver orçamento do que um mau orçamento, posição defendida por muitos que agora estão muito caladinhos. Miguel Relvas foi à universidade Disney de Castelo de Vide admitir que as deduções fiscais, posição que levou Nogueira Leite à indignação pública o que resultou no silenciamento do secretário-geral do PSD por longas semanas.
A meio da partida, pressentindo as dificuldades decide dar a iniciativa ao PS recusando-se a fazer propostas com o argumento de que deve ser o governo a fazê-las, isto é, faz exigências mas deve ser o adversário a concretizá-las. Perante a recusa do governo em ficar com a iniciativa do jogo Passos Coelho ensaia uma nova jogada, dizendo que estava a ser alvo de chantagem, ele que exigiu a presentação do OE até 9 de Setembro, que fez exigências e depois passou a ameaçar o chumbo do OE com o argumento de Ângelo Correia de que era preferível um mau orçamento.
Pelo meio recorreu a jogadas de diversão para animar os espectadores, alguém lhe sugeriu uma piada nova e passou a dizer que só negociaria com testemunhas, quem fazia exigências e se recusava a negociar, passava a dizer que só negociaria na presença de testemunhas. Fou um golpe baixo que lhe retirou credibilidade enquanto jogador.
Chegado à fase final da partida e com as suas peças mal posicionadas e muitas perdidas começou a ser evidente um xeque-mate nas próximas jogadas, reuniu as suas peças e tenta agora um empate, mas como ainda sonha com uma vitória fez ainda mais exigências do que no Pontal, pior ainda, na terça-feira faz sete exigências e na quarta-feira faz quatro.
Como era de esperar, com tão desastrado jogador o ministro da Presidência recusou-se a ficar com a iniciativa do jogo, o governo fica à espera da próxima jogada infantil de Pedro Passos Coelho. Já é tarde para dar conselhos a Pedro Passos Coelho, sem peões e com uma boa parte das outras peças em debandada só mesmo Sócrates poderia ajudá-lo.
Pedro Passos Coelho jogou e perdeu, tentou jogar xadrez como se fosse um jogo de matraquilhos.
Em tempo: a escolha de Catroga foi, finalmente, uma boa jogada de Pedro Passos Coelho, resta saber se foi este a escolher a equipa de Cavaco para negociar com Sócrates ou se foi Cavaco que deu a mão ao líder do PSD exigindo em troca que fosse um dos seus a negociar.