Manuela Ferreira Leite, que agora está a ser recuperada na sua argumentação por Passos Coelho, é um bom exemplo de como os políticos tentam gerir o curso da economia tentando substituir a linguagem da política económica pela linguagem política. Quando foi ministra das Finanças descobria em tudo os desejados sinais de retoma, na hora de encerrar as contas do défice até suspendeu os reembolsos do IVA com o argumento da fraude para conseguir respeitar o pacto de estabilidade.
EM política económica a mentira tem perna curta e se já estamos habituados à ideia que o discurso político é a arte da mentira, transformar este em discurso económico pode ter consequências graves. São os políticos que devem saber avaliar os ciclos da economia adoptando o discurso político e adoptando as medidas adequadas no momento certo. Para ousar a linguagem da medicina como fez Teixeira dos Santos no último Ecofin, direi que anti-febril deve ser ministrado quando eclode a febre e não seis dias, o anti-inflamatório deve ser tomado na fase inicial da infecção e não quando uma pequena infecção se transformou.
Não é por o ministro das Finanças dizer que o défice está em linha com as previsões que as contas públicas se equilibram, porque o ministro do Trabalho garantir que o emprego cresce que os empresários vão a correr contratar trabalhadores ou porque o primeiro-ministro está optimista que a economia cresce.
É tempo de políticos ignorantes em matéria de política económica deixem de se armar em feiticeiros e perceberem que a sua incapacidade de com discurso político conseguem inverter a realidade económica. É uma estratégia idiota pois dão aos cidadãos a ideia de que são capazes de resolver problemas que os ultrapassam, acabam por ser responsáveis pelas consequências das crises de que não são responsáveis e, pior ainda, presos à ideia de que são capazes de tudo acabam por fazer asneiras desastrosas ao decidirem em função de objectivos meramente políticos, ignorando os mercados e a vontade dos agentes económicos.
O discurso de Sócrates ao justificar as medidas de austeridade exemplificam bem como o discurso político se está a sobrepor à realidade económica, ao dizer que as medidas que adoptou só poderiam ser decididas em último caso está precisamente a pensar mais no seu futuro político do que na economia. É óbvio que só foram adoptadas no momento apropriado para o debate político e porque os mercados assim o ditaram, para não referir o risco de enfrentar um Ecofin receoso de mais um ataque ao euro. Alguém acredita que a redução da despesa em viaturas, o congelamento das ajudas de custos ou algumas das medidas anunciadas tinham de esperar por Outubro?
Enquanto os políticos portugueses andarem armados em feiticeiros e os economistas andarem pelas televisões a dizer disparates para justificarem os políticos dos vários partidos não será possível abordar os problemas da economia portuguesa com o rigor que exigem. A economia é um domínio de rigor e não o espaço de mentira política em que tem sido transformado neste país.