E enquanto uns peregrinavam em direcção à Buenos Aires o ministro das Finanças reunia os jornalistas para lhes dar a conhecer um orçamento apresentado como se fosse a palavra do senhor, algo decidido por uma entidade divina que deve ser aceite por todos sob pena de os portugueses irem de TGV para o inferno do FMI. A palavra orçamental é de tal forma inquestionável que até fazia sentido que em vez de uma pen o ministro das Finanças tivesse entregue a Jaime Gama um contentor cheio de tábuas de eucalipto com a lei do senhor inscrita a fogo. Para completar o cenário litúrgico o ministro das Finanças ainda respondeu a uma jornalista fazendo votos de pobreza, afirmando-se disponível para abdicar de todas as riquezas assumindo o estatuto de franciscano. Eufóricos ficaram os seus acólitos, os directores financeiros, amigos que nomeou com o estatuto de directores-gerais em todos os ministérios para assegurar que a sua palavra era ouvida pelo governo.
Depois de se ter remetido ao isolamento de eremita Manuel Alegre reapareceu para denunciar que quando Cavaco Silva diz “venham a mim as crianças” não passa tudo de uma encenação, os meninos são arrebanhados nas escolas e levados ao falso santo com bandeirinhas de Portugal. Cavaco não se incomodou muito com o reaparecimento de Alegre e continuou a pregar a concórdia partidária, nada dizendo se volta a concorrer ao altar do poder ou se prefere continuar a marinar os candidatos a santos.
Enfim, uma semana em que os portugueses ficaram a saber que o ministro das Finanças tem princípios austeros mas que a miséria franciscana ficou reservada para os outros. Uma semana em que o portugueses ficaram a saber que essa miséria franciscano vai muito para além dos bens materiais, já está presente na cultura política, com candidatos presidenciais a disputar criancinhas e líderes políticos e governamentais a receberem banqueiros como se os votos dos cidadãos fossem mero lixo.