Nenhum dos economistas de serviço defende, por exemplo, a proibição ou o corte nas pensões, quase todos eles são pensionistas que acumulam pensões a que somam alguns honorários avulsos um ou outro ordenado estável. José Sócrates prefere dirigir as medias de austeridade de acordo com as suas expectativas eleitorais, por isso escolhe os grupos profissionais que mais prejudicou com as suas medidas e reformas, pouco tem a perder nos quadros superiores do Estado e por isso concentra nesses a redução do défice, corta-lhes vencimentos, aumenta-lhes os descontos e penaliza-os com um aumento do IVA. Pedro Passos Coelho fica contente com estas medidas pois apesar de pouco ainda ganha uns votos, mas não aceita um aumento do IVA e exige mais cortes na despesa, isto é, não o diz mas defende mais cortes de vencimentos ou o alargamento dos cortes a todos os funcionários.
Os banqueiros estão tranquilos, promete-se um imposto extraordinário sobre a banca mas esqueceram-se da taxa, nem sequer lhe atribuíram nome, por outras palavras é uma medida da treta que não os assusta, perceberam que consta no rol das medidas só para calar os mais idiotas. O que lhes interessa é que o défice seja reduzido, de preferência não penalizando os seus melhores clientes, como uma boa parte da Função Pública é cliente da CGD está tudo bem.
A verdade é que no debate a que estou assistindo pouco importam os portugueses, seja funcionários públicos ou trabalhadores do sector privado, sejam trabalhadores no activo sejam pensionistas, sejam nacionais ou emigrantes, sejam pobre ou ricos, cada interveniente no debate defende os seus interesses, as boas medidas são as que dão menos prejuízos ou mais lucros em voto, as que melhorem o acesso da banca ao financiamento ou as que não atinjam os rendimentos de abutres sem escrúpulos que em Portugal são designados por comentadores televisivos, uns rapazes que arranjaram forma de os seus honorários nas televisões e jornais pagarem apenas 50% do IRS devido.
Portanto, considero-me mais defendido por peritos estrangeiros que nada tenham que ver com votos ou com interesses pessoais da imensa burguesia política que gere este país do que com os oportunistas que por cá andam. Dizem-me que se vier o FMI será mais duro, talvez seja verdade mas certamente não o será para os que estão pagando a crise sozinhos. Mas tenho a certeza de que os peritos do MI serão mais independentes, rigorosos e honestos do que os nossos partidos, além disso tenho a certeza de que para o ano o espectáculo não se repete e que os esforço que os portugueses terão de fazer não resulta de jogos eleitorais.
Por tudo isto que venha o FMI, deixamos de aturar os Medinas, os Salgueiros, os Teixeiras e outros, os dirigentes partidários comem e calam deixando-se de jogos eleitorais feitos à custa dos outros, ficaremos a saber todos os podres económicos que ainda estão escondidos e ficamos certos de que os problemas serão resolvidos.
Não é por acaso que ao contrário do que é costume, serem os pobres a recear a vinda do FMI, desta vez são os mais ricos e a burguesia instalada que tem esse receio. De resto as medidas já anunciadas e as exigidas são bem piores do que qualquer acordo com o FMI a que Portugal se sujeitou no passado.