quinta-feira, janeiro 01, 2015

2015, As nuvens que Passos não viu

Aquele que poderia ser um ano de retoma económica mundial será um dos anos que começa com maior incerteza e se Passos Coelho achou que era um ano sem nuvens é porque muito provavelmente em vez de se preocupar com o BES enquanto estava em férias na Manta Rota, optou por adiantar trabalho e olhando em direcção a sul escreveu a sua mensagem de Natal. As expectativas para 2015 são muito sóbrias, seja para Portugal, para a Europa e para o mundo.



Estado Islâmico

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Ao lado do Estado Islâmico a Al Qaeda é quase uma brincadeira, a organização de Bin Laden fez algumas operações espectaculares mas só sobrevive porque está encostada aos talibans e protegida por uma zona tribal do Afeganistão e do Paquistão. O Estado Islâmico não está escondido nas montanhas de Bora Bora, está em terreno aberto, ocupa uma boa parte da única potência do Médio Oriente que incomodava Israel, ocupa mais de metade do Iraque incluindo parte Curdistão iraquiano, controla muitas explorações petrolíferas, tem dezenas de milhares de soldados no terreno, atrai a simpatia dos sunitas e mobiliza cada vez mais muçulmanos da Europa e do resto do mundo. A Europa enfrenta as ameaças do EA do outro lado do Mediterrâneo e e das muitas centenas de “lobos solitários” dentro das suas próprias fronteiras.



Ucrânia

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Movida pelos objectivos geo-estratégicos da Alemanha como já tinha sucedido na ex- Jugoslávia a EU decidiu associar-se à estratégia política dos “democratas” ucranianos, gente que como se sabe são um modelo de valores democráticos para todos os europeus. O resultado foi a anexação da Crimeia com a Rússia, uma guerra civil que Kiev não consegue ganhar, uma economia ainda mais arrasada do que já estava e um conflito económico com a Rússia que depois de lançar este país numa crise económica e financeira acabará por chegar à economia da EU.



Preço do petróleo

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Com a crise na Líbia, no Iraque e na Síria e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia por cujo território passa o gás natural de que a EU precisa era de esperar tudo menos uma descida do preço do petróleo. Mas foi isso que sucedeu e numa dimensão que ninguém imaginaria, os preços estão de tal forma baixos que muitas explorações estão em risco de serem viáveis, designadamente as explorações off-shore e a produção a partir dos xistos betuminosos. Os que festejam os benefícios estão ignorando os custos e no caso português  estes são tudo menos negligenciáveis. De entre os países com os quais mantemos relações comerciais e/ou política mais próximas estão vários produtores de petróleo, é o caso de Angola, Brasil, Venezuela e Timor-Leste. A perda de receitas de países como Angola, em relação à qual temos uma cada vez maior dependência (exportações, investimento e emigração), não se deixará de fazer sentir mais cedo ou mais tarde.
 


A ilusão estatística

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O governo deixo de trabalhar na resolução dos problemas do país para se dedicar ao ilusionismo estatístico, estratégia iniciada desde que o humorista Pires de Lima chegou ao governo. Agora o país é um fenómeno, caminha para o pleno emprego e incrivelmente não produz mais riqueza, não atraiu qualquer investimento produtivo e o Estado reduziu o investimento a quase zero. O problema é que enquanto gente de recursos intelectuais limitados se entretém a manipular as políticas para iludir as estatísticas a economia portuguesa está numa pasmaceira.


A justiça
  
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A direita pode festejar a prisão de Sócrates e tem a secreta esperança de que um caso que começa a evidenciar muitas falhas funcione como oxigénio eleitoral. O problema é que dois ou três licenciados em direito com uma pós graduação no centro de estudos judiciários, que se sentem magistrados romanos do país arriscam-se a lançar o país numa profunda crise política, ao mesmo tempo que a justiça se afunda e só os chineses se arriscam num mercado onde ninguém pode contar com tribunais. A ressaca deste processo pode ter maiores consequências do que as que o Teixeira, o Alexandre a PGR e outros imaginam. A justiça está obrigada a condenar Sócrates a qualquer custo e ninguém sabe o que sucederá se não o conseguir e os portugueses concluírem que estiveram perante um golpe conduzido por interesses políticos e corporativos.



A economia Europeia
  
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Enquanto a Alemanha enriquece e volta a ter ambições há muito perdidas as potências europeias vão estagnando uma atrás da outro e por agora só se escapou um Reino Unido que mantem um pé fora da EU. O sonho que a Europa foi para muitos países pode tornar-se um pesadelo enquanto a direita e a social-democracia alemã vão reconstruindo a influência aos países do Leste e da Europa Central. A Europa ado progresso e da riqueza é a Europa do Norte e do centro com sede em Bona enquanto o sul se vai arrastando numa crise profunda. E nas relações europeias Portugal tem cada vez menos influência, não só somos descartáveis para os alemães como a estratégia da direita portuguesa é transformar o país num satélite do PC Chinês, uma versão europeia e democrática da Coreia do Norte.


A estagnação da economia portuguesa

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O problema da economia portuguesa começou por ser uma crise financeira agravada pelo contexto internacional, agora e graças às medidas adoptadas por gente mal preparada não só não resolvemos o problema da dívida como o o agravámos e ainda por cima criámos novos problemas ou agravamos outros que já eram evidentes. O país está sem investimento há quase meia década o que terá consequências trágicas para as novas gerações e para a sustentabilidade do modelo social em que assenta o Estado Social e os pressupostos sociais do regime democrático. O país perdeu recursos humanos preciosos, dantes emigravam trabalhadores analfabetos, agora parte os mais qualificados e ambiciosos, um capital humanos indispensável ao desenvolvimento de qualquer país. Os portugueses perderam a confiança no Estado, na justiça vale tudo, na economia é o salve-se quem puder, os contratos deixaram de ter valor, o Estado deixou de ser gerido com uma entidade credível para se comportar como um canalha. O sistema financeiro está paralisado e empobrecido enquanto as empresas estão sem recursos financeiros para ir além de uma visão de curto prazo.
  
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Ainda bem que Passos Coelho não vê nuvens no horizonte, isso ajuda-o a ter esperança e a ser feliz e a acreditar nas estatísticas que ele próprio vai forjando para inventar um país que não existe e no qual quer desesperadamente ganhar as eleições.