Ao fim de três anos este governo não tem um discurso
económico coerente e transparente, nunca se perece se o que os governantes dizem
é o que pensam, se os que dizem ser o programa é o que vão fazer. Umas vezes
fica-se com a impressão de que não sabem o que querem, outras deixam a ideia de
que escondem permanentemente o que pretendem. O resultado das suas políticas é
uma mistura estranha entre as patetices supostamente ideológicas de Passos
Coelho, das manifestações de ódio aos reformados e à Função Pública
considerados os inúteis da sociedade, algumas imposições externas e o improviso
a que a cada momento resulta do eleitoralismo doentio de dois líderes
partidários, Portas e Passos Coelho, que tentam sobreviver a qualquer custo.
A grande solução para o controlo da despesa do Estado eram
os cortes nos vencimentos e das pensões, as gorduras do Estado são as mesmas,
as direcções-gerais, institutos e fundações ficaram como estavam, as PPP são
negócios de amigos, a solução passou por ignorar os pensionistas e por
proletarizar os técnicos superiores do Estado. Reagiram aos acórdãos do
Tribunal Constitucional com ódio e questionam a competência dos juízes. Mas
como a vergonha na cara não é muita apregoam agora a sua bondade.
Mas onde o liberalismo desta gente mais se afirmou foi na
afirmação do estatuto de bons pagadores coo pressuposto ideológico do apoio
incondicional das teses defendidas pela Alemanha no seu próprio interesse,
muita austeridade e nenhuma intervenção do BCE. Mas quando as taxas de juro
baixaram graças às intervenções do BCE faltou-lhes a coragem de aceitar que o
país beneficiava de uma postura do BCE diferente da defendida por Passos Coelho
e foram oportunistas ao ponto de reclamarem que a descida das taxas de juro foi
resultado das suas políticas.
Agora que o BCE volta a intervir nos mercados Passos Coelho
ignora o que já disse sobre a matéria, chegou mesmo a defender que as medidas
agora tomadas conduziram Europa a uma
guerra, e os seu ministro da Economia já veio a elogiar a actuação do BCE,
enquanto no parlamento os seus deputados apoiam as mesmas medidas. Não é
preciso ser muito inteligente para se perceber que mal a economia dê sinais de
que reage politicamente às medidas do BCE Passos Coelho vai aparecer a reclamar
os sinais de retoma como o resultado das suas opções.
Enfim, esta gente é tão honesta e tão liberal que é bem
provável que em segredo torcem para que o Syriza ganhe as eleições na Grécia.
Foram cobardes quando a Irlanda pediu juros mais baixos, foram cobardes quando
a mesma Irlanda pretendeu pagar aos credores mais cedo, voltaram a sê-lo com as
intervenções do BCE e em todas essas situações beneficiaram do trabalho alheio.
Agora deverão estar à espera de cedências da Europa em relação à Grécia para
conseguirem benefícios à custa da coragem alheia.